Petrópolis enfrenta o seu segundo desastre pela chuva em um mês com acumulados que já superam 500 mm em alguns pontos em menos de 24 horas e que superam os registros de precipitação da catástrofe de fevereiro | MAURO PIMENTEL/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Tragédia nas primeiras horas do outono no Rio de Janeiro. Um novo temporal que atingiu Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, na tarde do domingo, deixou pelo menos cinco mortos. Uma pessoa foi resgatada com vida pelo Corpo de Bombeiros. Segundo a Defesa Civil Municipal, até o início da madrugada de hoje, haviam sido registradas 95 ocorrências, a maior parte deslizamentos.

A nova chuva atingiu a cidade mais de um mês depois do temporal que deixou 233 mortos e quatro desaparecidos em 15 de fevereiro deste ano. Ainda segundo a Defesa Civil Municipal, mais de 400 pessoas tiveram que sair de suas casas e se deslocar para pontos de apoio nas localidades de Morin, Quitandinha, Amazonas, Vila Felipe, Sargento Boening, São Sebastião, Dr. Thouzet, Alto da Serra, Floresta, Independências e Siméria.

“Foi um dia difícil, principalmente depois das 15h, quando Petrópolis foi novamente vítima de grande chuva. Foram mais de 300 milímetros que atingiram a cidade”, disse o prefeito Rubens Bomtempo, em vídeo publicado em sua rede social nos primeiros minutos de hoje, informou a Agência Brasil.

Equipes da Secretaria de Estado de Defesa Civil (Sedec-RJ) e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) estão mobilizadas para prevenir e minimizar os danos causados pela chuva na cidade imperial. Sirenes foram acionadas no município e várias ruas ficaram alagadas. Por causa dos alagamentos, vias do Centro foram interditadas. Houve queda de barreira na Washington Luiz, na altura do quilômetro 92.

Quanto choveu até agora

Os volumes de chuva são extraordinários em Petrópolis e superam o do desastre do mês de fevereiro. Pontos do município já somam em menos de um dia acumulados equivalentes ao dobro da média histórica de precipitação do mês de março na localidade fluminense que é de 250 mm.

Apenas 35 dias depois da catástrofe que deixou mais de 230 mortos, a cidade imperial da Região Serrana do Rio de Janeiro volta a enfrentar deslizamentos de terra e contabilizar vítimas pela chuva | MAURO PIMENTEL/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Dados de pluviômetros do Centro Nacional de Previsão do Desastres (Cemaden) até o começo da manhã desta segunda-feira (21) indicavam acumulados nas últimas 24 horas de 526 mm na estação de São Sebastião – Geo; 442 mm em Dr. Thouzet – Geo; 310 mm em Bingen – Geo; 272 mm em Quitandinha – Geo; 241 mm na Rua Araruama; 230 mm em Rua Independência; e 222 mm na Rua Amazonas.

As causas da chuva

A chuva excessiva na Região Serrana do Rio de Janeiro e na Costa Verde decorre da chegada de uma frente fria ao Sudeste do Brasil em cenário muito semelhante ao desastre de fevereiro. Soma-se neste começo de semana o avanço de uma massa de ar frio de trajetória marítima que traz umidade do mar para o continente, encontrando a barreira do relevo da Serra do Mar e favorecendo chuva orográfica.

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA

Chuva orográfica é precipitação induzida pelo relevo. Umidade que vem do oceano, trazida por vento do quadrante Leste ou Sul, em razão de uma massa de ar frio de trajetória oceânica e que atua na costa do Sul do Brasil, ao encontrar a barreira do relevo da Serra, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa.

Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo. Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos.

Alertas emitidos dias antes

A chuva extrema na região de Petrópolis não surpreende. Dias antes, a MetSul Meteorologia publicou alerta sobre um cenário de perigo por chuva no estado do Rio de Janeiro e no Litoral de São Paulo, onde também choveu muito com acumulados em alguns pontos superiores a 400 mm. Em vídeo, na sexta-feira, a meteorologista da MetSul Estael Sias pontuou o cenário de perigo com volumes extremos de precipitação.

Risco de chuva intensa prossegue

O risco de chuva intensa segue com o aporte de umidade do mar para o continente com uma massa de ar frio na costa neste começo de semana, o que pode trazer novos episódios de chuva orográfica com volumes excepcionalmente altos em curto período com transtornos e perigo para a população, especialmente em locais de risco nas encostas. O maior risco é de deslizamentos de terra e nas mesmas áreas assoladas em fevereiro.

Diante deste cenário de chuva localmente volumosa, a MetSul Meteorologia reforça a advertência de alta probabilidade de transtornos. Há potencial para alagamentos e inundações em áreas urbanas e rurais com subida de rios e arroios. É alto ainda o risco de deslizamentos de terra e de queda de barreiras, de forma que populações em áreas de risco de devem estar muito atentas ante a elevada probabilidade de escorregamento de encostas. Algumas rodovias podem ter queda de barreiras com obstrução total ou parcial, não se descartando alagamento de pista em alguns pontos.