Equipes de resgate retiraram mais corpos nesta sexta nos vários pontos de Petrópolis que enfrentaram deslizamentos na chuva extrema da terça | CARL DE SOUZA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra, pode ser considerado o epicentro da tragédia em Petrópolis. Cerca de 80 casas foram engolidas com força pelas torrentes de barro que arrastaram carros, ônibus com passageiros e tudo ao seu redor.

“Pode ser que ainda tenha mais de 50 pessoas aqui embaixo, desde terça-feira já foram retirados 98” corpos, explicou à AFP Roberto Amaral, coordenador do grupo especializado em desastres naturais do Corpo de Bombeiros Civis, enquanto efetivos e voluntários retiravam escombros e cavavam a lama com pás e enxadas em busca de algum vestígio de vida.

“Gostaríamos de terminar o quanto antes, mas aqui temos que trabalhar até que saia o último”, acrescentou. Pela manhã, choveu com força e as autoridades municipais voltaram a ativar as sirenes de alerta por riscos de deslizamento. Após o meio-dia, a chuva deu uma trégua.

“Todo o mundo está com muito medo. Qualquer barulho você se assusta. Toda a cidade está assim. É apavorante”, disse à AFP Antenor Alves de Alcântara, um aposentado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para local mais seguro. “É bom o presidente nos visitar, mas não vai mudar nada”, acrescentou.

O papa Francisco expressou “suas condolências” e compartilhou “a dor de todos os enlutados, ou despojados de seus haveres”, em um telegrama em português enviado ao bispo de Petrópolis, Gregório Paixão Neto.

O desastre apresenta números cada vez mais dramáticos. Por enquanto, há 122 mortos confirmados, 24 resgatados e 849 deslocados. Os números de desaparecidos são confusos, devido aos poucos corpos identificados que, segundo a Agência Brasil, são 57.

Até quinta-feira, a Polícia Civil registrava 116 desaparecidos, segundo a imprensa local. O Ministério Público informou à AFP que, em seu serviço para localização de pessoas, estão registradas 35. Ambos os números serão revisados, à medida que sobreviventes forem localizados, ou corpos identificados.

O governo federal anunciou o desbloqueio de uma ajuda de 2,3 milhões de reais, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Regional afirmou que vai facilitar novas quantias nos próximos dias.

As chuvas voltaram com força na quinta-feira à noite. As tarefas de resgate foram suspensas, e moradores de vários bairros receberam alertas e mensagens de texto para ficarem na casa de familiares, ou procurar abrigos públicos. Ao menos duas ruas foram fechadas, e seus moradores, retirados, preventivamente, após um deslizamento de “blocos rochosos”, que não deixou feridos.

Os especialistas afirmam que a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles uma chuva em seis horas maior que a média histórica de todo fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes bairros com casas precárias, muitas delas construídas de forma ilegal, nas áreas de risco.