Uma série de estudos está sendo publicada por cientistas sobre a enorme erupção do dia 15 de janeiro deste ano do Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai. Ainda em março, estudo havia mostrado como o tsunami gerado pelo evento vulcânico havia se espalhado pelo mundo. Agora, vários outros estudos trazem mais detalhes de como a erupção se tratou de um evento planetário com medições sísmicas e de infrassom em vários pontos do mundo.

As ondas de choque geradas pela erupção trouxeram súbita variação de pressão atmosférica do Sul ao Norte do Brasil e causaram pequeno tsunami na costa brasileira. O material lançado na atmosfera durante a erupção foi responsável ainda por alterar as cores do céu em várias áreas do Brasil e trouxeram imagens de finais de tarde espetaculares no Sul do país. Na Argentina, a erupção gerou nuvens noctilucentes na Patagônia.

O mais recente estudo sobre a erupção do Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai é capa da edição de 1º de julho da prestigiada revista Science. O trabalho é assinado por mais de 70 cientistas de vários centros de pesquisa. Segundo eles, a erupção de 15 de janeiro de 2022 do vulcão produziu uma explosão na atmosfera de “um tamanho que não foi documentado no registro geofísico moderno”. O evento gerou uma ampla gama de ondas atmosféricas observadas globalmente por várias redes de instrumentação terrestres e espaciais.

A mais intensa se propagou por quatro passagens ao redor da Terra ao longo de seis dias. Conforme medido pelas amplitudes das ondas, “a explosão foi comparável em tamanho à da erupção do Krakatau em 1883”, disseram os especialistas. Segundo eles, a erupção do Hunga produziu notável infrassom (0,01 a 20 hertz e pôde ser ouvida a 10 mil quilômetros de distância do vulcão com perturbações ionosféricas detectadas globalmente.

Sismógrafos em todo o mundo, relatam, registraram ondas sísmicas puras e acopladas ar-solo. O acoplamento ar-mar, dizem os cientistas autores do trabalho, provavelmente contribuiu para tsunamis de chegada rápida. “A erupção foi um evento explosivo incomumente energético”, conforme o estudo, com os gases alcançando a estratosfera.

“Os registros geofísicos da erupção do Hunga trazem conjunto de dados global incomparável de geração e propagação de ondas atmosféricas, oferecendo uma oportunidade para observação, modelagem e validação multitecnologia sem precedentes no registro moderno. A erupção oferece oportunidade ainda extraordinária para avançar na compreensão de fenômenos físicos raramente captados”, ressaltam os pesquisadores.

Muito pouco se sabia sobre a evolução do vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai antes da erupção de 15 de janeiro deste ano. A primeira observação registrada de uma erupção foi em 1912, seguida por outra em 1937 e depois 1988, 2009 e 2014-15. Essas erupções foram todas pequenas, a maior de VEI-2 na escala de erupções, mas com tão poucos eventos não há uma boa compreensão do estilo de atividade, diz o Smithsonian.

A erupção de 1988 foi vista por pescadores e piloto de avião, depois analisada por geólogos. Ocorreu a partir de três aberturas de águas rasas junto à ilha de Hunga Ha’apai, mas não havia nenhuma ilha formada pelo vulcão. A erupção que começou em 17 de março de 2009 teve uma abertura em Hunga Ha’apai e outra submersa a cerca de 100 metros da costa. A ejeção de material vulcânico preencheu o espaço entre elas em alguns dias, expandindo o tamanho da ilha. Após apenas quatro dias, a erupção de 2009 acabou, mas estendeu a ilha em um quilômetro, deixando lagos de crateras emitindo vapor.

A próxima erupção ocorreu de 19 de dezembro de 2014 a 28 de janeiro de 2015. Esse período mais longo de atividade foi centrado entre as ilhas de Hunga Tonga e Hunga Ha-apai e construiu uma nova ilha. Eventualmente, havia tanto material que as ilhas estavam todas conectadas.

Em 20 de dezembro de 2021, uma nova erupção produziu uma pluma de gás e cinzas rica em vapor que subiu a 16 quilômetros (52.500 pés) de altitude. Após quase duas semanas de período de calmaria, a atividade retomou com uma alta fase eruptiva freatomagmática no vulcão Hunga Tonga-Hunga Haʻapai. Uma explosão espetacular ocorreu, caracterizada por massas escuras e densas de material piroclástico. Uma pluma cada vez maior e densa enviou cinzas até 55.000 pés (17.000 metros) de altitude.  No dia 15 de janeiro, o vulcão teve a sua maior explosão e foi um evento global com tsunami no mar no Pacífico e uma onda de choque planetária que gerou meteotsunami em outros oceanos do planeta.