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Em janeiro deste ano, o vulcão submarino Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai, no arquipélago de Tonga, no Sudoeste do Pacífico, entrou em erupção de enormes proorções e desencadeou um tsunami que foi detectado em muitos lugares do mundo, e mesmo fora do Oceano Pacífico. O tsunami de Tonga foi registrado por centenas de estações costeiras que medem continuamente o nível do mar em todo o planeta.

Em estudo que acaba de ser publicado na Geophysical Research Letters, pesquisadores analisaram estes registros do nível do mar no mundo inteiro para fornecer uma imagem global do tsunami gerado pela erupção vulcânica que é considerada a mais forte em décadas. O trabalho foi conduzido pelos pesquisadores Matías Carvajal, Ignacio Sepúlveda, Alejandra Gubler e René Garreaud, de universidades do Chile e dos Estados Unidos.

Os especialistas descobriram que os movimentos para cima e para baixo da superfície do mar (ondas de tsunami) ao redor da costa do Pacífico eram distintamente diferentes daqueles em outras partes do mundo. As medições do Pacífico apresentam pequenas ondas de tsunami antes da ocorrência de ondas muito maiores.

Fora do Pacífico, entretanto, o que se viu foram principalmente as pequenas primeiras ondas que não cresceram muito depois. Como o tempo dessas primeiras ondas coincide com a passagem de uma onda de pressão atmosférica previamente relatada gerada na explosão vulcânica, os estudiosos acreditam que elas foram causadas por interações entre o ar e a água do mar, ou seja, um meteotsunami.


“É por isso que vimos estas ondas fora do Pacífico. Por sua vez, as ondas grandes no Pacífico provavelmente se originaram na região do vulcão ou perto dela e por esta razão não foram vistas em outros lugares”, resumem os cientistas.

Tsunami em dois momentos

O tsunami de Tonga foi caracterizado por uma onda inicial uniformemente pequena que chegou mais cedo do que teoricamente esperado para um tsunami que se propaga para longe do vulcão. Isso se deu em razão da onda de choque da explosão que teve energia de centenas de bombas atômicas.

A onda de choque se expandiu por todos o planeta e gerou variações de pressão atmosférica por todos os continentes, inclusive no Brasil, o que que repercutiu no nível do mar. Medidores do IBGE constataram a alteração do nível do mar na costa brasileira, acompanhando a chegada da onda de choque.

Em contraste, as maiores ondas, de até três metros de altura, concentraram-se no Pacífico e o tempo de propagação está de acordo com os tempos de viagem do tsunami de Tonga. Enquanto as ondas principais foram causadas por um pulso de pressão atmosférica de movimento rápido gerado na explosão vulcânica, as grandes ondas observadas mais tarde no Pacífico provavelmente foram originadas pela erupção submarina na região de Tonga.

Em Chañaral, cidade chilena na costa da região do Atacama, as primeiras ondas tiveram 20 centímetros de altura e chegaram nove horas depois da erupção. Foi o meteotsunami. Efeito da onda de choque na atmosfera com variação de pressão atmosférica que se expandiu pelo mundo inteiro em grande velocidade.

Já as ondas grandes, que chegaram a 3,4 metros, somente foram observadas 18 horas depois da erupção e aí se tratou do tsunami na sua forma tradicional após um evento sísmico com movimento do terreno no fundo do mar.

O vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai

Muito pouco se sabe sobre a evolução do vulcão Hunga-Tonga Hunga-Ha’apai, afirma o Programa de Vulcanismo Global do Smithsonian. A primeira observação registrada de uma erupção foi em 1912, seguida por outra em 1937 e depois 1988, 2009 e 2014-15. Essas erupções foram todas pequenas, a maior de VEI-2 na escala de erupções, mas com tão poucos eventos não há uma boa compreensão do estilo de atividade, diz o Smithsonian.

A erupção de 1988 foi vista por pescadores e piloto de avião, depois analisada por geólogos. Ocorreu a partir de três aberturas de águas rasas junto à ilha de Hunga Ha’apai, mas não havia nenhuma ilha formada pelo vulcão. A erupção que começou em 17 de março de 2009 teve uma abertura em Hunga Ha’apai e outra submersa a cerca de 100 metros da costa. A ejeção de material vulcânico preencheu o espaço entre elas em alguns dias, expandindo o tamanho da ilha.

Após apenas quatro dias, a erupção de 2009 acabou, mas estendeu a ilha em um quilômetro, deixando lagos de crateras emitindo vapor. A próxima erupção ocorreu de 19 de dezembro de 2014 a 28 de janeiro de 2015. Esse período mais longo de atividade foi centrado entre as ilhas de Hunga Tonga e Hunga Ha-apai e construiu uma nova ilha.

Eventualmente, havia tanto material que as ilhas estavam todas conectadas. Em 20 de dezembro de 2021, uma nova erupção produziu uma pluma de gás e cinzas rica em vapor que subiu a 16 quilômetros (52.500 pés) de altitude. Após quase duas semanas de período de calmaria, a atividade retomou com uma alta fase eruptiva freatomagmática no vulcão Hunga Tonga-Hunga Haʻapai.

Uma explosão espetacular ocorreu às 15h14 UTC da quinta, caracterizada por massas escuras e densas de material piroclástico. Uma pluma cada vez maior e densa enviou cinzas até 55.000 pés (17.000 metros) de altitude. No dia 15 de janeiro, o vulcão teve a sua maior explosão e foi um evento global com tsunami no mar no Pacífico e uma onda de choque planetária que gerou o meteotsunami em outros oceanos do planeta.

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