Gangorra térmica. Uma hora está calor, outra está frio, para depois fazer calor de novo. É um verdadeiro teste para a saúde. Há muito se sabe que o clima do Rio Grande do Sul tem como marca as bruscas mudanças de temperatura, não raro com várias estações no mesmo dia. Assis Brasil, há mais de um século, definiu o clima gaúcho como “anárquico”. Este começo de mês de julho é uma demonstração de como as condições do tempo podem oscilar tanto e em tão curto período no estado gaúcho.

O primeiro dia do mês foi marcado por geada e frio intenso cedo com mínimas de apenas 3,0ºC na Grande Porto Alegre, no bairro de Lomba Grande, em Novo Hamburgo, e de 3,6ºC abaixo de zero no interior, marca observada em São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra. A tarde foi amena com máximas pouco acima dos 20ºC na maioria dos municípios.

Ontem, sábado, as primeiras horas do dia tiveram frio na maioria das cidades gaúchas, contudo durante a madrugada ingressou uma forte corrente de jato em baixos níveis da atmosfera com vento Norte, que chegou a quase 80 km/h no Vale do Taquari, e a temperatura disparou com um amanhecer quente em que a temperatura era de 24,1ºC às 7h da manhã em Campo Bom.

Na tarde do sábado, a Metade Norte gaúcha registrou calor fora de época com máximas altas na Grande Porto Alegre de 28,5ºC em Novo Hamburgo, 29,7ºC em Campo Bom e 30,2ºC em Parobé. No Vale do Taquari, 28,1ºC em Teutônia e 28,0ºC em Lajeado. No Noroeste gaúcho, 28,5ºC em Santa Rosa e 29,5ºC em Porto Xavier.

No final do sábado, a frente fria que havia mantido a temperatura baixa durante o dia no Sul gaúcho avançou para Norte e a Grande Porto Alegre, que havia tido calor durante a tarde, teve acentuado declínio da temperatura com vento, e o dia terminou com frio de 13ºC a 14ºC na maior parte dos municípios da região metropolitana.

Neste domingo, com o avanço da frente fria para Norte, houve aumento da nebulosidade com chuva irregular, mas o maior efeito foi na temperatura com mínima hoje cedo de 4,4ºC em Jaguarão, 6,4ºC em Livramento, 8,7ºC em Quaraí, 8,9ºC em Bagé, e 9,2ºC em Capão do Leão. Campo Bom, que ontem à tarde foi a quase 30ºC, amanheceu hoje com 13,7ºC. Porto Alegre, que anotou máxima de 26,5ºC ontem à tarde, registrou 11,9ºC no começo deste domingo que tem ar mais frio no Sul e no Leste gaúcho e vai voltar a ter ingresso de ar mais quente no Oeste e no Noroeste.

Nesta segunda-feira, o mesmo fenômeno responsável pelo calor do sábado em parte do Rio Grande do Sul, vai voltar a atuar no estado gaúcho. Uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera novamente atuará no território gaúcho com vento Norte, trazendo ar seco e quente da Bolívia e do Centro-Oeste do Brasil.

Com a atuação da corrente de jato em baixos níveis no Rio Grande do Sul nesta segunda, mais uma vez a temperatura deve ter forte elevação durante o dia com marcas acima da média desta época do ano em diversas regiões. Por isso, depois do calor do sábado e do refresco de hoje, a temperatura voltará a ser elevada para julho em muitas gaúchas. Municípios que ontem tiveram quase 30ºC e hoje não devem passar de 16ºC ou 17ºC, amanhã retornam para marcas ao redor ou acima de 25ºC.

Esta verdadeira gangorra de temperatura, em que ora se dá ingresso de ar mais quente e ora de ar mais frio, mas com predomínio de temperaturas acima da média para o mês de julho, tende a prosseguir durante a semana. Isso fará com que alguns dias sejam mais quentes e outros mais amenos com grande oscilação de temperatura de um dia para o outro. Depois de uma segunda-feira mais quente, espera-se que refresque na terça para voltar a esquentar, de novo, quarta. Entre quinta e sexta-feira, a previsão é que ar mais frio volte a avançar mais em parte do Rio Grande do Sul.

Ocorre que entre os dias 10 e 11 de julho se projeta outra vez a atuação de uma intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera, o que novamente vai trazer ar quente para o território gaúcho e com forte elevação da temperatura e mesmo calor em algumas áreas, prosseguindo a verdadeira gangorra térmica.

Este vai-e-volta de ar mais frio e quente nesta primeira metade de julho é consequência de um bloqueio atmosférico que retém as frentes frias no Rio Grande do Sul. A grande massa de ar seco que cobre o Brasil impede a progressão dos sistemas frontais que atuam principalmente do Centro para o Sul gaúcho.

Por isso, nestes primeiros dias do mês é mais frequente o frio no Sul gaúcho e que por vezes chega ao Centro e o Leste do estado enquanto em áreas mais ao Norte e Noroeste predomina a influência do ar mais quente e os dias de temperatura alta tendem a ser mais frequentes. No geral, a maior parte do Rio Grande do Sul, terá uma primeira metade de julho com temperatura acima da média.

Para que se rompa este padrão atmosférico de bloqueio, que resulta em tempo mais seco e quente em grande parte de Santa Catarina e do Paraná, com grandes oscilações de quente e frio em parte do Rio Grande do Sul, seria preciso o avanço de uma massa de ar frio de maior força, especialmente impulsionada por um ciclone extratropical, mas os dados dos modelos meteorológicos não mostram para os próximos dez dias nenhuma incursão de ar polar significativa.