Tendência climática para o mês de julho indica chuva abaixo da média e temperatura acima da média com menos jornadas frias e dias de calor no Centro-Sul do Brasil | FERNANDO OLIVEIRA

Como vai ser o clima em julho? O mês é o segundo do denominado inverno climático que é compreendido pelo trimestre dos meses de junho, julho e agosto. Por isso, julho é o mês central da estação inverno e, como efeito, historicamente costuma registrar ondas de frio, sendo que algumas muito intensas, como se viu, por exemplo, no ano 2000, na grande nevada de 2013 em Santa Catarina e no Paraná, e na nevada que branqueou a Serra Gaúcha nos últimos dias do mês em 2021.

No Rio Grande do Sul, pelos padrões históricos, julho costuma ser um mês chuvoso enquanto no Centro do Brasil se instala a estação seca com precipitações escassas no Centro-Oeste, no Sudeste e mesmo em parte do Paraná, o que favorece o aporte de umidade em direção às latitudes médias como do Centro da Argentina, Uruguai e o estado gaúcho.

No caso de Porto Alegre, julho tem uma temperatura mínima média histórica de 10,4ºC, a menor entre os meses do ano. Já a temperatura máxima média é de 19,7ºC, também a mais baixa entre todos os meses do calendário. A temperatura média mensal de julho na capital gaúcha é de 14,1ºC, a menor entre os meses do ano, 0,7ºC abaixo da de junho que é a segunda mais baixa e 1,6ºC inferior à de agosto, a terceira menor entre todos os meses do ano. Com isso, de acordo com as normais climatológicas da série 1991-2020, julho é o mês mais frio do ano na capital gaúcha pelos padrões históricos.

Já a precipitação média de julho na cidade é de 163,5 mm, a mais alta entre todos os meses do ano, sendo seguida por outubro (153,2 mm), setembro (147,8 mm) e junho (130,4 mm). A precipitação média mensal de 16,5 mm corresponde à nova normal mensal climatológica com base na série 1991-2020.

Uma comparação entre as séries histórica 1961-1990 e 1991-2020 mostra que no caso da cidade de Porto Alegre o mês de julho ficou mais frio e chuvoso nas última três décadas. A média mínima em 1961-1990 era de 10,7ºC e passou a ser 10,4ºC na série 1991-2020. A média máxima subiu de 19,6ºC para 19,7ºC entre as normais 1961-1990 e 1991-2020. Na série de 1961-1990, julho era o quarto mês mais chuvoso em Porto Alegre com 121,7 mm (atrás de agosto com 140,0 mm, setembro com 139,5 mm e junho com 132,7 mm) e agora é o mais chuvoso com 163,5 mm nas normais 1991-2020.

Em 2022, o mês de julho vai começar sob influência do fenômeno La Niña. Desde 1999, o Pacífico Equatorial não esteve tão frio no começo do inverno depois do outono com a La Niña mais intensa desde 1950. O Bureau de Meteorologia da Austrália declarou o final da La Niña, mas por critérios locais que diferem da maioria dos serviços mundiais de Meteorologia. A NOAA mantém a La Niña.

Conforme a última atualização, da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central neste final de junho era de -0,6ºC, no limite inferior de intensidade fraca. No Pacífico Equatorial Leste, que no inverno tem influência na temperatura das latitudes médias da América do Sul, a anomalia era de -1,4ºC, no limite superior de intensidade moderada e quase no patamar de intensidade forte.

A La Niña é comumente associada à seca no Sul e chuva mais abundante no Nordeste do Brasil, mas os seus efeitos na precipitação no Sul do país são mais sentidos entre o final da primavera e o começo do outono. No inverno, muitos sistemas atuam no Sul brasileiro como frentes frias, frentes quentes e centros de baixa pressão, o que costuma trazer mais chuva para estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina enquanto o Paraná, pela sua posição mais ao Norte, sofre a influência do ar seco do Brasil Central e tem menor precipitação que os estados mais ao Sul. Por isso, mesmo com La Niña podem ocorrer eventos extremos de precipitação no Sul do Brasil e, em alguns casos, até com cheias de rios e enchentes.

Chuva em julho

Junho termina com chuva acima da média entre a Metade Norte gaúcha e o Paraná enquanto a Metade Sul gaúcha encerra junho com precipitação abaixo da média, tal qual era previsto pela MetSul para o mês que está chegando ao fim. Os altos volumes de chuva entre a Metade Norte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina chegaram a provocar cheias de rios e houve alagamentos.

Os muitos dias de instabilidade contribuíram ainda para derrubar as temperaturas máximas para fazer de junho um mês frio, particularmente no Rio Grande do Sul. Julho promete ter cenário diferente na precipitação no Sul do Brasil em relação ao que se verificou em junho, invertendo-se os sinais nas diferentes áreas da região.

Projeção de anomalia de chuva para julho no Centro-Sul do Brasil do modelo climático da NASA | METSUL

Projeção de anomalia de chuva para julho no Centro-Sul do Brasil do modelo climático norte-americano CFS | METSUL

Projeção de anomalia de chuva para julho no Centro-Sul do Brasil do modelo climático europeu | METSUL

A tendência, conforme nossa análise, é a chuva ficar abaixo da média na maior parte do Sul do Brasil em julho de 2022. O Paraná é o estado que menos deve ter chuva e o Rio Grande do Sul será o com os maiores índices de precipitação no Sul do país, mas ainda assim abaixo da média em muitas cidades. Parte do Oeste, do Leste e o Sul gaúcho é que desta vez podem ter maiores acumulados de chuva.

A tendência é de uma primeira metade do mês de chuva muito escassa por padrão de bloqueio atmosférico principalmente entre o Norte gaúcho e o Paraná com chuva muito abaixo da média em partes dos estados catarinense e paranaense com mais chuva no Rio Grande do Sul, mas ainda assim abaixo da média em vários pontos do território gaúcho. Na segunda metade do mês aumenta a chuva nos estados catarinense e paranaense, entretanto sem volumes que façam o mês se aproximar das médias.

Já para o Brasil Central, em grande parte do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, a tendência indicada pelos modelos numéricos de chuva e com que concordarmos aponta chuva abaixo a muito abaixo da média. Este padrão, conjugado com a temperatura, favorecerá um número de queimadas acima do normal.

Temperatura em julho

Junho foi um mês muito frio no Rio Grande do Sul e frio em Santa Catarina, mas no Paraná e na maior parte do Brasil Central foi de marcas acima da média. É muito provável que o mês que está chegando ao fim tenha sido o mais frio deste inverno na maior parte do Sul do país, uma vez que não se espera que julho ou agosto tenham temperaturas médias inferiores ao que se registrou agora em junho.

Projeção de anomalia de temperatura para julho no Centro-Sul do Brasil do modelo climático norte-americano CFS | METSUL

A tendência é que julho em 2022 tenha temperatura acima da média predominando no Centro-Sul do Brasil com grandes anomalias positivas de temperatura em algumas áreas. Portanto, nos casos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina não haverá a repetição do padrão muito frio que se verificou em junho com grande número de dias com temperaturas mínimas e máximas abaixo do normal. Ao contrário, haverá muitos dias de temperatura agradável e alguns até quentes com calor, o que elevará as médias mensais e fará com que o mês termine com temperatura acima das normais históricas.

A tendência de temperatura acima da média para o mês no Sul do Brasil não significa que vai deixar de fazer frio. Vão ocorrer alguns dias frios no mês e até gelados, principalmente mais ao Sul gaúcho. Apenas que não devem ser frequentes e não se projeta uma sucessão de incursões de ar frio de forte intensidade. O que se espera são incursões de ar quente tanto na primeira quinzena como na segunda metade do mês que vão trazer um número de dias de temperatura agradável ou elevada acima do que se está acostumado a ver em julho, contribuindo para que o mês termine com temperatura acima da média nos estados do Sul.

Quanto ao Brasil Central, uma vez que não se espera uma alta frequência de frentes frias que cheguem à região e tampouco massas de ar frio em sequência que adentrem o Centro do país, a perspectiva é de predomínio de ar mais seco com grande amplitude térmica em que as noites são amenas ou frias, conforme a localidade, e as tardes sejam quentes na maioria de dias com marcas acima da média da estação.

Há alta probabilidade de alguns dias de temperatura muito alta no Centro-Oeste e no Sudeste durante o mês de julho, o que deve fazer com que diversos pontos terminem o mês com média de temperatura muito acima do normal com os principais desvios positivos nas máximas que ficarão bastante acima dos padrões históricos em diversas cidades.