A tempestade de inverno mais rigorosa em décadas nos Estados Unidos causou a morte de ao menos 50 pessoas no país, 27 delas no Oeste do estado de Nova York, e está longe de terminar, alertaram autoridades nesta segunda-feira, chamando o fenômeno de “tempestade do século”. O fenômeno foi alertado com muitos dias de antecedência pela Meteorologia os alertas tiveram ampla divulgação da mídia local.

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“É cedo demais para dizer que acabou”, afirmou em Buffalo a governadora de Nova York, Kathy Hochul, acrescentando que ainda se espera a queda de mais 30 cm de neve. “É claramente a tempestade de neve do século”, completou, em sua cidade natal. As imagens em Buffalo recordavam a do filme “O Dia Depois de Amanhã”, cujo enredo é de um apocalipse gelado após o colapso do sistema climático.

Embora a intensidade da nevasca tenha diminuído nos últimos dias, “ainda é perigoso estar fora de casa”, advertiu. A região Oeste do estado de Nova York, acostumada com o frio congelante e as nevascas, está enterrado sob um manto de neve, tendo que aguentar temperaturas polares desde a semana passada.

O número de vítimas fatais no condado de Erie chegou a 13 no domingo à noite. Desde então, mais 14 óbitos foram confirmados, “elevando a 27 o total de mortos pela nevasca”, declarou hoje a autoridade máxima local, Mark Poloncarz.

Algumas pessoas foram encontradas mortas em seus automóveis e outras tiveram parada cardíaca ao tentarem limpar a neve sob temperaturas ainda muito baixas, acrescentou Poloncarz. Outras vítimas ainda devem ser encontradas.

Pelo menos 50 mortes relacionadas às condições extremas do tempo foram confirmadas em nove estados. Em Ohio, os acidentes rodoviários relacionados ao mau tempo deixaram nove mortos, confirmou à agência AFP a Patrulha Rodoviária do estado.

“Meu coração está com aqueles que perderam entes queridos neste fim de semana de feriado”, escreveu numa rede social o presidente dos Estados Unidos Joe Biden nesta segunda-feira, indicando que ligou para a governadora e se comprometeu a fornecer os recursos federais necessários.

JOED VIERA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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As ruas de Buffalo, segunda maior cidade do estado de Nova York, ainda estavam em grande parte bloqueadas hoje, devido à neve. “Por favor, se não fizerem parte dos serviços de emergências, não dirijam”, insistiu Poloncarz, observando que o número de óbitos em Erie deve superar o da tempestade de Buffalo em 1977, quando quase 30 pessoas morreram.

A proibição de viajar seguia vigente nesta segunda-feira pela manhã no Oeste do condado, mas alguns moradores desafiavam a medida. Membros da Guarda Nacional e outros socorristas já resgataram centenas de pessoas de carros cobertos de neve e de casas sem energia elétrica.

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As autoridades afirmam que muitas continuam presas. “É desesperador receber ligações de famílias com crianças que dizem que estão congeladas”, desabafou o xerife do condado de Erie, John Garcia, em entrevista à rede de TV americana CNN.

A ferocidade das condições do tempo testou uma área acostumada a castigar a neve. “Não importa se você tivesse mais 1.000 equipamentos e 10.000 funcionários, ainda não há nada que você poderia ter feito naquele período. Foi muito ruim”, disse Poloncarz, o funcionário do condado. “Eu sei que é difícil para as pessoas acreditarem, mas foi como olhar para uma parede branca por 14 a 18 horas seguidas”, resumiu.

GOVERNO DE NOVA YORK/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O Serviço Nacional de Meteorologia disse que o total de neve no Aeroporto Internacional de Buffalo Niagara era de 1,25 metros às 10h desta segunda-feira. Autoridades disseram que o aeroporto ficará fechado até a manhã de quarta-feira.

O prefeito de Buffalo, Byron Brown, descreveu a dolorosa tarefa de resgatar as vítimas da tempestade de carros, casas e ruas. “Nossos policiais são humanos. É doloroso encontrar membros de sua comunidade que já faleceram”, disse o prefeito, acrescentando que as vítimas da nevasca “estavam tentando sair durante uma tempestade, ficaram desorientadas e desmaiaram na rua até morrerem”.

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Apesar das condições perigosas, a polícia de Buffalo resgatou centenas de pessoas, segundo o prefeito da cidade, Byron Brown. Mark Poloncarz informou que a eletricidade foi restabelecida em cerca de 13 mil lares nas últimas 24 horas, e que mais de 12 mil seguiam sem luz. Alguns não poderão ser reconectados à rede até amanhã.

Desde a noite de quarta-feira da semana passada, os Estados Unidos sofrem com a tempestade de rara intensidade, cujos ventos polares provocaram nevascas, sobretudo na região dos Grandes Lagos. Durante o fim de semana, foram registradas temperaturas abaixo de zero em 48 dos 50 estados dos Estados Unidos, incluindo comunidades do Texas e ao longo da fronteira com o México, onde alguns migrantes tiveram dificuldade para encontrar abrigo.

Dezenas de milhões de americanos tiveram seu Natal interrompido por cortes de energia em massa, estradas intransitáveis com graves engavetamentos pelo gelo e milhares de voos cancelados, que provocaram caos nos aeroportos. Nesta segunda-feira, mais de 3.500 voos permaneciam cancelados nos Estados Unidos, de acordo com o site Flightaware.com.

A previsão é de que o tempo melhore gradativamente no decorrer da semana. O tempo extremo “continuará causando condições perigosas de viagem, em nível local, nos próximos dois dias”, alertou o Serviço Nacional de Meteorologia. “A maior parte do Leste dos Estados Unidos permanecerá em condições de congelamento até que se estabeleça uma tendência menos fria a partir desta terça-feira”, acrescentou.