A ciência do clima na capa do maior jornal do mundo. A capa da edição de hoje do jornal norte-americano New York Times, que tem dedicado grandes espaços em suas coberturas jornalísticas ao tema das mudanças climática. traz enorme gráfico para explicar ao seu leitor os vários cenários de emissões de gases do efeito estufa.
Conforme o cenário de emissões, se modifica o nível de aquecimento global esperado. O atingimento dos diferentes cenários depende, explica o diário, do cumprimento ou não das metas que assumiram no Acordo de Paris e que serão atualizadas agora na reunião da COP26 que vai ocorrer em Glasgow, na Escócia.
O jornal explica ao leitor que em 2014, antes do acordo climático de Paris, o mundo estava a caminho de esquentar quase 4ºC até o final do século, um resultado amplamente considerado catastrófico. Hoje, graças ao rápido crescimento da energia limpa, a humanidade começou a achatar a curva de emissões de gases estufa.
“As políticas atuais nos colocam no ritmo de aquecimento de cerca de 3ºC até 2100, um resultado melhor e ainda assim devastador”, destaca o New York Times com base nas últimas projeções constantes do relatório do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas.
Promessas no vazio de achatar a curva do clima
Muitos países prometeram reduzir as emissões ainda mais rápido, entretanto até agora tais compromissos existem apenas no papel. Se o que foi prometido virar realidade, o mundo poderá limitar o aquecimento total para cerca de 2ºC a 2,4ºC até 2100.
Mesmo assim, os cientistas e líderes mundiais dizem cada vez mais que tal nível de aquecimento até o final deste século é muito arriscado. Para manter o aumento da temperatura global em um limite mais seguro de 1,5ºC, ações muito mais drásticas teriam que ser adotadas.
Os humanos até agora aqueceram o planeta em 1,1ºC desde a Revolução Industrial, sobretudo pela queima de carvão, petróleo e gás para obter energia e pela derrubada de florestas, que ajudam a absorver as emissões causadoras do aquecimento global. O preço do descontrole é alto.
Só neste ano ocorreram onda de calor devastadora que matou centenas de pessoas no Noroeste dos Estados Unidos e do Canadá, incêndios devastadores no Sul da Europa em meio a uma onda de calor recorde, enchentes devastadoras na Alemanha, inundação catastrófica na China e ainda uma temporada recorde de fogo na Sibéria e na Califórnia, sem mencionar as grandes tempestades de areia no Brasil.
Recorde de emissões de gases estufa
Revelou-se nesta que as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera atingiram um novo recorde em 2020. A informação foi divulgada nesta semana pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), dias antes do início da Conferência Climática do Clima (COP 26). O evento reunirá líderes mundiais para discutir ações que possam conter o aquecimento global.
No relatório, os especialistas também apontaram ainda o aumento das queimadas como um dos principais responsáveis pela marca negativa. Segundo eles, a destruição das florestas, principalmente da Amazônia, impede que as áreas verdes contribuam para a redução dos gases.
De acordo com a agência da Organização das Nações Unidas, a concentração de dióxido de carbono (CO2), o mais abundante dos gases de efeito estufa, atingiu 413,2 partes por milhão (ppm), em 2020, uma taxa 149% maior do que os níveis pré-industriais.
“A última vez que se registrou na Terra uma concentração de CO2 comparável foi entre três e cinco milhões de anos atrás. Nessa época, a temperatura era de 2°C a 3°C mais quente, e o nível do mar, entre 10 e 20 metros acima do atual, mas não havia 7,8 bilhões de pessoas no planeta”, disse em entrevista coletiva Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
No caso do metano (CH4) e do óxido nitroso (N2O), as concentrações foram 262% e 123% maiores, respectivamente, do que os níveis pré-industriais. Cerca de 40% do metano é emitido por fontes naturais (como os pântanos), enquanto os demais 60% têm origem em atividades humanas, como pecuária e cultivo de arroz, informou a agência da ONU em seu boletim.
A agência também informou que a temperatura mundial continuará subindo, gerando ainda mais prejuízos para o planeta. “Como o dióxido de carbono (CO2) é um gás de vida longa, que pode permanecer até mil anos na atmosfera, o nível de temperatura observado hoje persistirá por várias décadas”, ressaltou Taalas.
O boletim da OMM explicou que que cerca de metade do CO2 emitido pelas atividades humanas permanece na atmosfera enquanto a outra metade é absorvida pelos oceanos e ecossistemas terrestres, porém os especialistas já evidenciaram “a transição de uma parte da Amazônia de sumidouro para fonte de carbono”. O que isso significa? A floresta brasileira emite muito mais CO2 do que consegue absorver.