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Violentos vendavais acompanharam as tempestades severas que atingiram na noite de segunda-feira os vales, a Grande Porto Alegre, a Serra Gaúcha e o Litoral Norte. Os temporais, localmente destrutivos, vieram com granizo de médio a grande tamanho e ainda rajadas de vento fortes a intensas que provocaram danos na região metropolitana, na Serra e Litoral Norte.

Na Serra, o vento mais destrutivo ocorreu em pontos do município de Canela. No Litoral Norte, o pior do vento ocorreu numa faixa que vai de Canoas a Gravataí, passando por Cachoeirinha, onde os danos foram consideráveis com grande número de prédios e casas com destelhamentos e colapsos estruturais.

A maior rajada de vento registrada por estação meteorológica no Rio Grande do Sul se deu na base aérea de Canoas com 120,5 km/h. Muito perto da base, no outro lado da BR-290, o vento atingiu 79 km/h no Aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre. Dentro da própria cidade de Canoas, no bairro Fátima, estação da MetSul mediu rajada de 69 km/h.

Não houve registro de outras rajadas intensas na rede de estações do Rio Grande do Sul, seja pela baixa cobertura de medidores de vento no estado gaúcho ou pelo vento destrutivo ter ocorrido em locais dentro de um município com estação, mas não exatamente onde se encontra instalado o equipamento.

Em Canela, estação do Instituto Nacional de Meteorologia deixou de reportar dados de vento no momento do temporal. O município teve graves danos em alguns pontos. O mesmo se deu com a estação da MetSul no bairro Estância Velha em Canoas com interrupção dos dados na hora da tempestade. A estação do Inmet em Tramandaí, que também teve estragos, está fora do ar.

Estruturas vieram abaixo com o vento no Litoral Norte | PREFEITURA DE PALMARES DO SUL

A avaliação da MetSul Meteorologia é de que o vento em alguns pontos da Grande Porto Alegre, Serra e Litoral Norte excedeu a maior rajada medida de 120 km/h. Os muitos vídeos analisados sugerem que as rajadas em alguns locais atingiram marcas tão extremas como 130 km/h a 150 km/h, se não mais isoladamente.

Torre de linha de transmissão de energia caiu e se retorceu com a força do vento destrutivo na cidade de Cachoeirinha, na Grande Porto Alegre | GABRIEL FOGLIATI

Alguns dos danos observados são consistentes com rajadas de vento extremas, acima de 120 km/h e tão intensas como 150 km/h. Construções sólidas tiveram colapso, ginásios vieram abaixo e mesmo uma torre de linha de transmissão de energia – projetada para resistir a vento extremo – chegou a cair com a força do vento na cidade de Cachoeirinha. Na BR-448, uma carreta tombou com o vento.

Tornado ou microexplosão

O vento que deixou um rastro de destruição em vários municípios, inevitavelmente, leva a se questionar se houve a formação de tornados ou a ocorrência de microexplosões. Os dados ainda estão sendo analisados pela MetSul, com georreferenciamento dos estragos, e não se pode de momento uma conclusão definitiva. De início, embora mais intenso este evento de ontem, as características se assemelham muito ao que ocorreu em Guaíba durante uma microexplosão em janeiro assim como na cidade de Gravataí em 2021.

As hipóteses de microexplosões (mais de uma) e de passagem de um tornado, de imediato, não podem ser descartadas pela magnitude dos danos. Os vídeos, inclusive, pela característica do vento sugerem a ocorrência de microexplosões pela duração do vento e sua direção. Este tipo de fenômeno pode produzir danos equivalentes a de um tornado. Mesmo assim, a literatura mostra que uma mesma tempestade pode trazer tanto microexplosões como um ou mais tornados.

Downbursts intensos podem ser muito destrutivos. Velocidades do vento podem atingir marcas tão altas quanto as observadas de 281 km/h em Morehead City (Carolina do Norte) e 254 km/h na base aérea de Andrews (Maryland). Fortes episódios de downburst podem causar sons e ruídos que as pessoas frequentemente mencionam como sendo de um trem de carga, termo tipicamente associado a tornados.

Somente será possível se determinar o que realmente aconteceu com um melhor mapeamento dos danos e uma análise aprofundada dos estragos, processo que está em curso na MetSul e que, por exemplo, nos Estados Unidos, com todos os recursos, leva alguns dias.

Uma condição que tradicionalmente está presente em tornados no Rio Grande do Sul era muito evidente nesta noite. Atuava uma intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera com grande cisalhamento (divergência) de vento e ainda com uma frente fria avançando sobre uma massa de ar quente.

A corrente de jato trouxe vento Norte não associado a temporal durante o dia de ontem com rajadas fortes em diversas localidades e que chegaram a 91 km/h em Soledade, 72 km/h em Santa Maria e 75 km/h em Bagé.

Risco de tempo severo era alertado

A MetSul alertava desde o fim de semana para o risco de temporais na segunda e ao longo do dia emitiu mais três avisos de tempestade em seu site para o Rio Grande do Sul, incluindo a região de Porto Alegre com advertências de vento e granizo.

Nas redes sociais, por nowcasting, uma vez que eventos isolados de vento extremo ou granizo para determinada cidade somente podem ser previstos em muito curto prazo, a MetSul acompanhou a evolução da célula de tempestade e enfatizou uma hora antes que a instabilidade que se aproximava de Porto Alegre e região estava provocando granizo e até grande com risco de tempestade severa com vento muito forte. Boletim ainda advertiu para a formação de supercélulas com risco de vento destrutivo e granizo com variado tamanho.