Um violento temporal atingiu a região metropolitana de Porto Alegre no começo da noite da segunda-feira com vento localmente destrutivo e granizo de variado tamanho com pedras de gelo que chegaram a ser médias e grandes em alguns pontos da área metropolitana (veja fotos e vídeos do granizo). A tempestade severa, uma das piores da história recente da Grande Porto Alegre, espalhou destruição e deixa um homem desaparecido na zona Leste da capital.

Se em Porto Alegre o principal fenômeno foi o granizo com pedras de gelo de médio tamanho que assustaram a população de diversos bairros e causaram alguns danos, em cidades vizinhas e próximas foi a força arrasadora de vento que fez estragos com muita destruição em alguns pontos, especialmente nos municípios de Canoas, Cachoeirinha e Gravataí, os mais castigados pelo vendaval destrutivo.

De acordo com dados de estações meteorológicas, o vento passou de 100 km/h. Na base aérea de Canoas, o anemômetro – que mede o vento – registrou rajadas de 120,5 km/h. Outros locais da cidade podem ter tido vento ainda mais intenso pela análise das imagens dos danos. Já em Porto Alegre, o vento chegou a 79 km/h no Aeroporto Salgado Filho. Em Campo Bom, a estação local acusou 76 km/h.

Canoas é uma das cidades mais atingidas com árvores caídas e prédios destelhados pela força do vento. Parte da cidade está sem energia elétrica. O Hospital Nossa Senhora das Graças teve sua estrutura prejudicada por causa da chuva. Muitas casas e estabelecimentos comerciais suportaram danos e os vidros de vários prédios estouraram com a força dos ventos. Há ainda queda de árvores e postes na cidade.

Os municípios de Cachoeirinha e Gravataí sofreram o impacto do mesmo fenômeno severo que castigou Canoas. O corredor de vento destrutivo se deu justamente a partir de Canoas, passando depois por Cachoeirinha e Gravataí, onde também houve destelhamentos, colapso de prédios e casas, além de queda de árvores e postes.

Em Esteio, o Corpo de Bombeiros informou que o vento derrubou algumas árvores, mas também não houve registro de granizo. Em Novo Hamburgo, Estância Velha e Campo Bom, fortes ventos anteciparam a chegada de chuva de granizo, mas que durou apenas alguns minutos.

O que causou a tempestade severa

Uma supercélula de tempestade atingiu a região metropolitana de Porto Alegre. Este tipo de formação associada a uma gigantesca nuvem do tipo Cumulonimbus pode provocar fenômenos extremos como granizo grande, vendavais e ainda tornados e correntes descendentes de vento poderosas (downbursts ou microexplosões).

A célula de tempestade se formou no final da tarde na região do Vale do Rio Pardo, onde gerou granizo destrutivo em Rio Pardo. Depois, avançou para a Região Carbonífera, onde igual trouxe granizo grande em cidades como Charqueadas e São Jerônimo entre 18h30 e 19h. Na sequência, a célula chegou em Porto Alegre e na região metropolitana com vendaval e granizo.

A célula de temporal com abundante granizo e violento vendaval se formou com o avanço de uma frente fria sobre o ar quente que cobria a região metropolitana e os vales. A temperatura à tarde chegou a 33,1ºC em Porto Xavier, 31,8ºC em Santa Rosa, 30,7ºC em Teutônia e 30,2ºC em São Borja e São Luiz Gonzaga.

Fez calor de quase 30ºC em plena Serra Gaúcha com máxima de 29,3ºC em Serafina Correa. Sondagem por balão meteorológico indicou às 9h de ontem temperatura de 20ºC a 1.500 metros de altitude sobre Porto Alegre, indicando uma atmosfera superaquecida e propícia para tempo muito severo.

Tornado ou microexplosão?

O vento deixou um rastro de destruição entre os municípios de Canoas e Gravataí, causando ainda muito estragos em Cachoeirinha. O nível de destruição observado em alguns pontos, inevitavelmente, leva a se questionar se houve um tornado ou microexplosões. Uma torre de energia em linha de transmissão, em tese preparada para resistir a vento de até 150 km/h, veio abaixo em Cachoeirinha.

As hipóteses de microexplosões (mais de uma) e de passagem de um tornado, de imediato, não podem ser descartadas pela magnitude dos danos. Os estragos causados pelos dois fenômenos não raro são muito semelhantes e a literatura mostra que uma mesma tempestade pode trazer tanto microexplosões como um ou mais tornados.

Somente será possível se determinar o que realmente aconteceu com um melhor mapeamento dos danos e uma análise aprofundada dos estragos, processo que, por exemplo, nos Estados Unidos, com todos os recursos, leva alguns dias.

Uma condição que tradicionalmente está presente em tornados no Rio Grande do Sul era muito evidente nesta noite. Atuava uma intensa corrente de jato em baixos níveis da atmosfera com grande cisalhamento (divergência) de vento e ainda com uma frente fria avançando sobre uma massa de ar quente. A corrente de jato trouxe vento Norte não associado a temporal durante o dia com rajadas fortes em diversas localidades e que chegaram a 91 km/h em Soledade, 72 km/h em Santa Maria e 75 km/h em Bagé.

Risco de tempo severo era alertado

A MetSul alertava desde o fim de semana para o risco de temporais nesta segunda e ao longo do dia emitiu mais três avisos de tempestade em seu site para o Rio Grande do Sul, incluindo a região de Porto Alegre com advertências de vento e granizo. Nas redes sociais, por nowcasting, a MetSul acompanhou a evolução da célula de tempestade e enfatizou uma hora antes que a instabilidade que se aproximava de Porto Alegre e região estava provocando granizo e até grande. Boletim ainda advertiu para a formação de supercélulas com risco de vento destrutivo e granizo com variado tamanho.