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O Rio Grande do Sul atinge neste sábado o 11º dia seguido em que a temperatura chega aos 40ºC no estado com múltiplas máximas históricas neste período e alguns recordes de até um século. A onda de calor não é apenas muito intensa a extrema como também é bastante prolongada. A explicação está em um fenômeno cujo nome se tornou muito popular na América do Norte e na Europa durante as grandes recentes ondas de calor recordes dos verões europeus, norte-americanos e canadenses.

A causa é o que se denomina de domo ou cúpula de calor e que em Inglês é chamada de heat dome. O que é isso? O verão significa clima quente – às vezes perigosamente quente – e ondas de calor extremas se tornaram mais frequentes nas últimas décadas por conta das mudanças climáticas. Às vezes, o calor escaldante fica aprisionado no que é chamado de cúpula de calor.

Áreas de alta pressão, como cúpulas de calor, têm ar descendente (subsidência). Isso comprime o ar no solo e através da compressão aquece a coluna de ar. Em suma, uma cúpula de calor é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo assim como uma tampa em uma panela.

É, assim, um processo físico na atmosfera. As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistemas meteorológicos – como frentes frias – ao seu redor. À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, o ar abaixo aquece a atmosfera e dissipa a cobertura de nuvens. O alto ângulo do sol de verão combinado com o céu claro ou de poucas nuvens aquece ainda mais o solo.

Em meio a condições de seca, como o Rio Grande do Sul e países vizinhos hoje enfrentam, o ciclo vicioso não termina aí. A combinação de calor excessivo e superfície terrestre ressecada funciona para tornar a onda de calor ainda mais extrema. É o que os cientistas denominam de mecanismo de feedback.

Com escassa umidade no solo, a energia térmica que normalmente seria usada na evaporação – um processo de resfriamento – aquece diretamente o ar e o solo. Quando a superfície da terra está mais seca, assim, ela não consegue se resfriar por evaporação, o que torna a superfície ainda mais quente, o que fortalece ainda mais o bloqueio da cúpula de calor. Não à toa a maioria das mais poderosas ondas de calor da história gaúcha ocorreram sob forte a severa estiagem, caso de 1943 que tem os recordes oficiais de máxima tanto de Porto Alegre como do interior.

O que sobressai na atual onda de calor é sua força, extensão e duração. Na Argentina, onde o ar quente foi mais abrangente na semana passada, esta sexta-feira será o 12º dia seguido com máximas acima de 40ºC no país. Buenos Aires teve duas das três mais altas máximas de sua história de 116 anos de dados somente na semana passada. Recordes de calor foram alcançados em várias províncias argentinas com máximas que passaram dos 45ºC em vários dias. O Uruguai foi a 44,0ºC em Florida, igualando o recorde nacional de calor de 1943 em Paysandú. E desde a semana passada o Rio Grande do Sul coleciona uma série de recordes e marcas históricas de calor.

Evidências de estudos sugerem que a mudança climática está aumentando a frequência de cúpulas de calor intensas, bombeando-as para mais alto na atmosfera, algo não muito diferente de adicionar mais ar quente a um balão de ar já aquecido. Por isso, vários estudos apontam aumento da intensidade, duração e frequência de ondas de calor no Brasil e ao redor do mundo.

animated gif of maps of daytime high temperatures in the Pacific Northwest

Nunca na história de mais de um século da observação do clima mundial tantos recordes de calor de todos os tempos caíram por uma margem tão grande quanto na histórica onda de calor do final de junho de 2021 no Oeste da América do Norte, efeito de uma maciça cúpula de calor. Foi o segundo desastre climático mais mortal do ano com 1.037 mortes: 808 no Oeste do Canadá e 229 no noroeste dos EUA. O Canadá quebrou seu recorde nacional de temperatura de todos os tempos em três dias consecutivos em Lytton, British Columbia, que atingiu impressionantes 49,6°Cem 29 de junho, um dia antes da cidade ser incendiada em um feroz incêndio florestal alimentado pelo calor extremo. O antigo recorde de calor canadense era 45,0°C em 5 de julho de 1937.

Este foi o evento regional de calor extremo mais anômalo a ocorrer em qualquer lugar da Terra desde o início dos registros de temperatura. Nada se compara”, disse o historiador do clima Christopher Burt, autor do livro Extreme Weather. Apontando para Lytton, Canadá, ele acrescentou: “Nunca houve um recorde nacional de calor em um país com um extenso período de registro e uma infinidade de locais de observação que foi superado por 4ºC”, afirmou O pesquisador internacional de registros meteorológicos Maximiliano Herrera concordou. “O que vimos é totalmente sem precedentes em todo o mundo”, disse. “É uma cascata interminável de recordes sendo quebrados”, resumiu.

Um estudo de resposta rápida do programa World Weather Attribution descobriu que as altas temperaturas diárias observadas em uma área de estudo que abrange grande parte do Oeste de Oregon, Washington e Colúmbia Britânica em junho de 2021 teriam sido “praticamente impossíveis sem as mudanças climáticas causadas pelo homem”. O estudo estimou que foi aproximadamente um evento de 1 em 1000 anos no clima de hoje, mas em um mundo com 2ºC de aquecimento global, que se projeta para daqui a duas décadas, evento semelhante poderia ocorrer aproximadamente a cada cinco a dez anos.