O ciclone na costa do Sul do Brasil e o furacão categoria 4. Quem nunca viu a famosa expressão popular que tamanho não é documento. Em se tratando de ciclones, a dimensão do sistema não significa intensidade. As últimas horas proporcionaram um belo exemplo.

Felícia e o ciclone extratropical na costa do Rio Grande do Sul | Zoom Earth

A imagem de satélite acima mostra nas áreas indicadas (boxes) dois ciclones. O grande é o ciclone extratropical enorme em dimensão que foi responsável pelo vento forte ontem e hoje na costa de Buenos Aires, Uruguai e Sul do Brasil.

As rajadas chegaram a 130 km/h no Morro da Igreja e variaram entre 70 km/h e 90 km/h em áreas do Sul e do Leste do Rio Grande do Sul e do Sul de Santa Catarina. O vento deixou centenas de milhares de pessoas sem luz e derrubou árvores no estado gaúcho, além de fechar o porto de Rio Grande e causar forte agitação marítima.

Ciclone extratropical enorme na costa do Sul do Brasil nesta segunda-feira | Zoom Earth

Já o ciclone indicado no box menor é um sistema de natureza tropical. Trata-se da tempestade de nome Felícia, um furacão que atua no Pacífico Leste. Felícia ontem chegou a ser classificada como um furacão categoria 4 na escala Saffir-Simpson que vai até 5 com vento de mais de 200 km/h. É um ciclone tropical que está em mar aberto e que não vai atingir nenhuma área de terra, apesar de passar perto do Havaí nesta semana.

Furacão Felícia durante o fim de semana teve um olho simétrico quando era de categorias 3 e 4 | CIMSS/UW

Hoje, o Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos (NHC) rebaixou Felícia que passou a uma tempestade tropical. Ontem, quando o sistema era muito intenso, o furacão chegou a apresentar um olho muito simétrico que chamava atenção nas imagens de satélite.

Um exemplo clássico de que o tamanho não significa intensidade é o furacão Catarina de março de 2004. Não foi um ciclone tropical de grande dimensões geográficas. Os danos se concentraram essencialmente por onde passou a parede do olho, na parte mais ao Norte do Litoral gaúcho e no Sul de Santa Catarina, além de pontos da Serra por onde o sistema avançou ao adentrar terra e rapidamente perder intensidade e se dissipar com a perda de alimentação do oceano e o atrito com as grandes elevações do Nordeste gaúcho e do Planalto Sul Catarinense.

Ciclones extratropicais costumam ter dimensões muito maiores e possuem um campo de vento que alcança áreas muito superiores a de um ciclone tropical. Já se viu ciclones intensos com ciclogênese explosiva na altura das ilhas Malvinas, ou seja, a milhares de quilômetros, causando vento forte no ingresso de potentes massas de ar polar.

Nesta segunda-feira, por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro teve rajadas de vento forte quando do ingresso do ar mais frio a despeito do ciclone que impulsiona o ar polar estar a Sudeste e Leste do Chuí, assim muito distante do litoral fluminense.