O furacão Ida será um dos desastres mais caros da história com prejuízos de dezenas de bilhões de dólares. As estimativas das perdas com a tempestade que deixou mais de 60 mortos no Sul e no Nordeste dos Estados Unidos variam muito entre analistas, contudo todos concordam que será um evento que entrará para a lista dos que mais trouxeram prejuízos até hoje no mundo.
Ida chegou ao litoral do estado norte-americano da Lousiana no último domingo como um furacão categoria 4 que trouxe chuva extrema e vento de até 277 km/h, devastando a região costeira em que tocou terra. Enfraqueceu ao avançar por terra e foi rebaixada a uma tempestade pós-tropical, mas ao alcançar o Nordeste dos Estados Unidos na quarta encontrou um ambiente atmosférico favorável que gerou tornados violentos e chuva recorde com tempo de recorrência de até meio milênio, o que gerou graves enchentes.
Mark Zandi, o economista-chefe da agência Moody’s, estimou que o custo total dos danos de Ida apenas à propriedade, edifícios e infraestrutura pública pode chegar a 50 bilhões de dólares. Metade do prejuízo ocorreu em estados do Nordeste norte-americano, onde a tempestade provocou enchentes e tornados que ceifaram mais de 40 vidas.
Zandi disse que os danos de Ida totalizaram cerca de metade do custo em dólares em valores atualizados de Sandy, a tempestade de 2012 que atingiu a Costa Leste dos Estados Unidos, e um quarto do custo do furacão Katrina, o furacão de agosto de 2005 que atingiu a costa do Golfo do México e matou quase duas mil pessoas em Nova Orleans ao submergir a cidade com o rompimento dos diques de contenção de cheias.
Outros analistas fizeram estimativas diferentes. AIR Worldwide, por exemplo, uma empresa de modelagem de eventos extremos, estimou que as perdas seguradas com ventos e tempestades de Ida irão variar de 17 bilhões a 25 bilhões de dólares. A estimativa não incluiu os danos causados pelas chuvas, o que excluiria boa parte das enchentes que atingiram o Nordeste dos Estados Unidos.
A conta de alguns custos de tempestades podem aparecer apenas nos próximos anos à medida que empresas e órgãos públicos reforçam suas instalações contra eventos climáticos cada vez mais severos a cada ano que passa. Em Nova Jersey, autoridades creditaram às melhorias feitas desde o furacão Sandy em 2012 a redução do impacto de Ida nas concessionárias de energia elétrica. As subestações que inundaram em 2012 foram capazes de suportar o aumento das águas esta semana e mais clientes teriam ficado sem luz sem as melhorias. Mesmo assim, 92.000 clientes de Nova Jersey tiveram cortes de energia.
Seguro residencial será um problema após Ida
A surpresa indesejável que muitas pessoas afetadas por Ida podem enfrentar? A maioria das apólices de seguro residencial comercializadas nos Estados Unidos não inclui cobertura contra inundações. Em vez disso, aqueles que buscam seguro contra inundações devem normalmente fazer uma apólice separada, muitas vezes adquirida por meio do Programa Nacional de Seguro contra Inundações do governo federal ou por meio de uma seguradora privada.
O aumento dos custos do prêmio do seguro fez com que muitos proprietários abrissem mão da cobertura, apesar dos eventos climáticos extremos ocorrendo com mais frequência. A empresa de dados CoreLogic Inc. estima que apenas 50% dos residentes afetados por Ida possuem seguro contra inundações, embora isso seja um aumento de 30% em relação a 2017, quando o furacão Harvey atingiu a costa do Golfo do México com inundações históricas e chuva recorde em Houston, no Texas.
Duas das maiores seguradoras norte-americanas responderam ao apelo do governo para cobrir despesas adicionais de vida para segurados na Louisiana que evacuaram suas casas antes do furacão Ida, mas não estavam sob ordens específicas de evacuação obrigatória. As empresas Allstate e USAA concordaram em cobrir despesas adicionais para os segurados no estado. Normalmente, as apólices de seguro cobrem apenas as despesas adicionais de subsistência para os segurados que foram obrigados a evacuar suas casas antes de grandes tempestades, não para aqueles que optam por deixar suas casas voluntariamente.
Chuva foi o maior prejuízo
Os estragos foram enormes na costa da Lousiana e tornados atingiram estados da costa Leste norte-americana, mas os maiores prejuízos se concentraram em estados atingidos por inundações pela chuva histórica no Nordeste dos Estados Unidos como Pensilvânia, Maryland, Nova Jersey, Nova York e Connecticut.
Na cidade de Nova York, o mapeamento da chuva nos cinco boros da cidade mostrou 213 mm em Staten Island, 201 mm no Bronx, 191 em Manhattan, 196 mm no Queens e 170 mm no Brooklin. De acordo com cálculo feito pela rede de televisão norte-americana CNN, considerando uma média de 6,8 polegadas (173 mm) de chuva que caiu e a área, choveu na cidade de Nova York 132 bilhões de litros de água entre 19h de quarta e 0h de quinta, o equivalente a 50 mil piscinas olímpicas em apenas cinco horas.
Os volumes foram excepcionalmente altos em curtos períodos. Com base na estação oficial do Central Park, a chuva registrada em uma hora de 80 mm tem recorrência de 200 anos. O volume de 118,1 mm em duas horas recorrência de 500 anos.
Os registros de 132,0 mm em três horas e de 173,2 mm em seis horas igualmente possuem recorrência estimada de 500 anos. O total de chuva na estação na quarta foi de 181,1 mm e o normal do mês é 109,4 mm.
Nova York tem dados desde 1869. A estação anotou na semana anterior seu recorde de chuva em apenas uma hora de 49,2 mm com a tempestade Henri e só uma semana após o recorde caiu com 80 mm de Ida. Os 118,1 mm da quarta em Nova York fizeram do 1/9/2021 o segundo dia mais chuvoso já registrado em setembro, só superado pelos 210,3 mm de 23/9/1882.
Em duas semanas, de 21 de agosto a 3 de setembro, o Central Park registrou 403,8 mm, superando os 386,8 mm de 11 a 24 de setembro de 1882 como a quinzena mais chuvosa da cidade já registrada desde o começo das medições em 1869.
Muito perto da cidade de Nova York, a precipitação total da quarta-feira de 213,6 mm em Newark, Nova Jersey, foi a maior em qualquer dia do calendário nos registros da cidade que datam de 1843, de acordo com o historiador do clima Christopher Burt.
De acordo com Burt, é o maior registro diário de qualquer uma das estações de referência da região de Nova York, superando os recordes diários de chuva das estações do Aeroporto de La Guardia (169,9 mm em 15/4/2007), do aeroporto Internacional John F. Kennedy (198,1 mm em 14/8/2011) e do Central Park (210,3 mm em 23/9/1882).