O furacão Ida ganhou intensidade de forma impressionante durante a madrugada deste domingo e na manhã de hoje se aproximava da costa do estado norte-americano da Lousiana como uma tempestade no limite superior da categoria 4 e muito perto da categoria 5, o máximo da escala Saffir-Simpson, com vento sustentado de 250 km/h e rajadas superiores. Trata-se de um furacão monstro e bestial pela sua força incomum e rara, sendo uma gravíssima ameaça para a cidade de New Orleans.

Imagem de radar da aproximação de Ida da costa da Louisiana | NWS/NOAA

Um sinal de que Ida rapidamente se intensificava vinha das imagens de monitoramento de raios com muitas descargas na região da parede de nuvens ao redor do olho, chamada de CDO ou Cloud Dense Overcast. Quando há muitos raios no centro de um furacão significa que há movimentos ascendentes na atmosfera e que o ciclone tropical está se intensificando.

Ida será um furacão catastrófico que vai aniquilar a parte do litoral da Louisiana em que ingressar. O nível de destruição que se espera fará com que a recuperação das áreas mais atingidas tome anos ou até mais de uma década. Muitas áreas devem ficar inabitáveis por meses e a região de Nova Orleans pode enfrentar falta de energia elétrica por semanas, criando um potencial desastre humanitário de proporções poucas vezes vista nos Estados Unidos na história recente.

Ida chega neste domingo à costa ao redor do meio-dia, hora de Brasília, com vento sustentado de 250 km/h e rajadas até perto de 300 km/h. O meteorologista Jeff Berardelli, da rede de televisão norte-americana CBS, compara Ida, pela sua força, a um gigantesco tornado violento, apesar de serem fenômenos radicalmente distintos. A maré na costa pode subir de 5 a 10 metros com inundações extremamente perigosas.

Além da inundação da costa pela elevação da maré, chuva extrema de 500 mm a 750 mm deve provocar graves enchentes em áreas do interior mais afastadas da orla. Como a região de Nova Orleans em parte está abaixo do nível do mar, a elevação da maré e a chuva extrema representam um risco imenso para a cidade.

Ida teve intensificação explosiva

Os ventos de Ida aumentaram 105 km/h em apenas 24 horas, o que corresponde quase ao dobro da definição oficial de intensificação rápida (RI ou rapid intensification). Águas mais quentes devido às mudanças climáticas no Golfo do México têm agravado o fenômeno de rápida intensificação de vários ciclones tropicais recentes no Golfo do México.

A intensificação rápida, definida como um aumento da velocidade do vento de pelo menos 56 km/h em 24 horas, ganhou muita atenção da comunidade científica em anos recentes como resultado de furacões como Harvey, Irma, Maria e Michael que ganharam muita força em poucas horas.

Um estudo que examinou os furacões do Atlântico de 1986 a 2015 descobriu que a intensificação rápida aumentou 7 km/h por década. Os autores do estudo atribuem a maior parte do aumento a uma mudança para a fase mais quente da chamada Oscilação Multidecadal do Atlântico, um ciclo natural de décadas de aquecimento e resfriamento do Atlântico Norte.

Violenta queda da pressão atmosférica de Ida em 24 horas | Tomer Burg

Ocorre que os autores de outro artigo mais recente, de 2019, liderado por cientistas do Laboratório Geofísico de Dinâmica de Fluidos da NOAA sugerem que o aquecimento global também desempenha um papel.

Usando simulações de um dos modelos climáticos mais avançados disponíveis, chamado HiFLOR, a equipe de pesquisadores conclui que os recentes aumentos na intensificação rápida “estão fora da estimativa da HiFLOR da variabilidade climática interna esperada, o que sugere que a representação do modelo de oscilações climáticas como o AMO (Oscilação Multidecadal do Atlântico) não pode pode explicar o tendência observada”.

Ida é um furacão raro

A pressão atmosférica mínima central em Ida caiu para 935 hPa. Apenas dois furacões registrados que atingiram a costa da Louisiana tiveram uma pressão tão baixa: Katrina em 2005 com 920 hPa e Last Island em 1856 com 934 hPa. As informações são do meteorologista Philip Klotzbach da Colorado State University. Cabe recordar que pressão mais baixa equivale a um furacão mais intenso.

Somente dois furacões desde 1851 chegaram a Louisiana com ventos sustentados tão fortes como Ida: Last Island (1856) e Laura (2020). Ambos os furacões tinham vento sustentado de 240 km/h ao chegar à costa.

Desde 1851, apenas quatro furacões categoria quatro tocaram terra na Louisiana: Last Island (1856), Cheniere Caminanda (1893). Betsy (1965) e Laura (2020). Nenhum categoria 5 jamais tocou terra no estado do Sul norte-americano e não se descarta que Ida seja o primeiro.

O meteorologista Ryan Maue, especialista em ciclones tropicais, observa que Ida será o furacão de uma geração pela sua violência, juntando-se a Betsy, Camille e Katrina nos livros de história. Já o meteorologista Jeff Berardelli advertiu que a população da Lousiana enfrentará um furacão como jamais viu em suas vidas.

O olho do furacão

Característica de furacões muito intensos, o olho da Ida estava muito bem definido nas imagens de satélite na manhã deste domingo. O olho já estava a poucos quilômetros de tocar terra no litoral do estado norte-americano da Louisiana.

The eye of the storm – O olho do furacão Ida pouco antes de atingir a costa | CIMSS

A característica mais reconhecível encontrada em um furacão é o olho. Eles são encontrados no centro e têm entre 20 e 50 quilômetros de diâmetro. O olho é o centro do furacão, o ponto em torno do qual o resto da tempestade gira e onde as pressões de superfície mais baixas são encontradas na tempestade.

Olho de Ida na costa da Louisiana | CIMSS

O céu geralmente está claro ou com poucas nuvens acima do olho e os ventos são relativamente fracos. Na verdade, é a parte mais calma de qualquer furacão. Por quê? O olho está tão calmo porque os agora fortes ventos da superfície que convergem para o centro nunca o alcançam. A força de Coriolis desvia ligeiramente o vento do centro, fazendo com que o vento gire em torno do centro do furacão a parede do olho ou eyewall), deixando o centro exato (o olho) calmo.

Um olho se torna visível quando parte do ar que sobe na parede do olho é forçado para o centro da tempestade, em vez de para fora, para onde vai a maior parte. Esta parcela de ar ruma em direção ao centro de todas as direções. Essa convergência faz com que o ar realmente afunde no olho. Este afundamento cria um ambiente mais quente e as nuvens evaporam deixando um claro.