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É um ato de bravura em nome da ciência. Pouco antes do furacão devastador Ida tocar terra no Sul do Estados Unidos no começo desta tarde de domingo um avião hurricane hunter (caça-furacões) da NOAA, a agência meteorológica do governo dos Estados Unidos, voou mais uma vez no interior no centro da tempestade para coletar dados de vento e pressão atmosférica.

O furacão monstro Ida tocou terra (landfall) às 13h55 (hora de Brasília) como uma tempestade categoria 4 com vento máximo sustentado de 241 km/h e uma pressão mínima central de 930 hPa em Porto Fourchon, estado norte-americano da Louisiana.

Vídeo divulgado pelo Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos mostra o voo no olho do furacão Ida pouco antes da tempestade alcançar a costa do Golfo do México, no estado da Louisian, no Sul norte-americano.

As imagens mostram com nitidez o que se denomina de efeito estádio (stadium effect). Isso porque a aparência é de um estádio em que a parede de nuvens circular equivale às arquibancadas e o espaço aberto do olho do ciclone tropical à área aberta sobre o campo de jogo.

Ao fazerem o último voo sobre o Golfo do México, a tripulação encontrou forte turbulência ao ingressar na parede do olho (eyewall) de Ida.

Era o que  seria de esperar diante de uma tempestade tão intensa que estava no limite das categorias 4 e 5 na escala Saffir-Simpson dos furacões. A NOAA estava utilizando dois aviões hurricane hunters para o monitoramento de Ida.

Os Hurricane Hunters

Por que os pilotos correm tamanho risco ao voar no centro dos furacões? Os cientistas a bordo lançam radiossondas no olho da tempestade a partir do avião que coletam dados como de pressão atmosférica e vento. Estes dados são fundamentais para saber a intensidade do ciclone e uma vez alimentados nos computadores permitem uma previsão mais precisa dos modelos meteorológicos sobre a sua intensidade e trajetória.

Como os aviões não se despedaçam? Os aviões geralmente não são destruídos por ventos fortes durante o vôo. As aeronaves em geral costumam voar em correntes de jato com ventos superiores a 250 km/h em diferentes partes do mundo.

É o cisalhamento, ou mudança repentina nos ventos horizontais ou verticais, que pode destruir uma aeronave ou causar sua perda de controle. É por isso que as aeronaves Hurricane Hunter da NOAA não passam por tornados.

NOAA

Os pilotos e a tripulação da NOAA estão acostumados a voar no ambiente de vento forte de um furacão e não temem que ele destrua o avião, mas estão sempre monitorando os pontos de tempo severo e cisalhamento que podem frequentemente identificar no radar e, assim, são capazes de evitar se forem muito severos.

Os Hurricane Hunters pertencem ao 53º Esquadrão de Reconhecimento Meteorológico que opera a partir da Base Aérea de Keesler em Biloxi, Mississippi. Seus membros traçam a origem da caça ao furacão desde 1943, quando dois então pilotos do Corpo de Aviação do Exército voaram em um furacão junto ao Texas.

NOAA

Apesar da severidade de tempestades como Ida e do perigo enorme no solo, os voos têm um incrível histórico de segurança. Nenhuma aeronave foi perdida em mais de quatro décadas. A última vez foi em 1974.

Cerca de seis aeronaves de caça a furacões ou tufões foram perdidas no total ao longo da história, custando 53 vidas. Hoje, as missões são realizadas em grande parte por reservistas da Força Aérea dos Estados Unidos que, após alguns dias ou semanas perseguindo tempestades, retornam a seus empregos no mundo civil.

O olho do furacão

Característica de furacões muito intensos, o olho da Ida estava muito bem definido nas imagens de satélite na manhã deste domingo. O olho já estava a poucos quilômetros de tocar terra no litoral do estado norte-americano da Louisiana.

A característica mais reconhecível encontrada em um furacão é o olho. Eles são encontrados no centro e têm entre 20 e 50 quilômetros de diâmetro. O olho é o centro do furacão, o ponto em torno do qual o resto da tempestade gira e onde as pressões de superfície mais baixas são encontradas na tempestade.

O céu geralmente está claro ou com poucas nuvens acima do olho e os ventos são relativamente fracos. Na verdade, é a parte mais calma de qualquer furacão. Por quê? O olho está tão calmo porque os agora fortes ventos da superfície que convergem para o centro nunca o alcançam. A força de Coriolis desvia ligeiramente o vento do centro, fazendo com que o vento gire em torno do centro do furacão a parede do olho ou eyewall), deixando o centro exato (o olho) calmo.

Um olho se torna visível quando parte do ar que sobe na parede do olho é forçado para o centro da tempestade, em vez de para fora, para onde vai a maior parte. Esta parcela de ar ruma em direção ao centro de todas as direções. Essa convergência faz com que o ar realmente afunde no olho. Este afundamento cria um ambiente mais quente e as nuvens evaporam deixando um claro.