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O principal retrato da emergência climática global de hoje na América do Sul é a crise hídrica que afeta o Brasil com impactos no território brasileiro e com repercussão em países vizinhos. Há risco de a crise afetar o abastecimento de água no estado do Mato Grosso, de acordo com alerta do Serviço Geológico Nacional.

Vista aérea mostra algumas embarcações encalhadas nas margens do Rio Paraná em consequência de uma forte seca, na cidade argentina de Rosário, província de Santa Fé, tirada em 3 de agosto de 2020. Atingido por uma seca brutal, o Delta do Rio Paraná, com uma das maiores e mais biodiversidades do mundo, enfrentou incêndios na Argentina. O ministro do Meio Ambiente da Argentina, Juan Cabandie, acusou criadores de gado e inquilinos porque costumam usar o fogo para “limpar” pastagens. No entanto, os produtores rejeitam veementemente as acusações, argumentando que os incêndios também prejudicam sua atividade. | Marcelo Manera/AFP/MetSul Meteorologia

O nível do rio Paraguai, que drena o bioma Pantanal, baixou quase 20 centímetros na última semana, diminuindo cerca de dois centímetros por dia, em Ladário (MS). A estação, considerada uma referência da situação de seca na região, registrava 84 centímetros na quarta-feira (4) enquanto o nível normal esperado para esta época do ano é de 4,15 metros.

O ritmo de descida dos níveis deve se intensificar nas próximas semanas e piorar a crise hídrica na região, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). O ano de 2021 já é o terceiro consecutivo em que o Pantanal não apresentou a habitual cheia. O prognóstico foi apresentado na Sala de Crise do Pantanal a convite da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA).

Segundo o órgão do governo federal, a seca do rio Paraguai já é a pior de toda a série histórica em Cáceres (MT), que data de 1967, e está entre as dez piores da série histórica em Porto Murtinho (MS), que data de 1937. Em Ladário já é a quinta pior vazante desde 1901. Este é o segundo ano consecutivo que a bacia está nesta situação. O pesquisador Marcus Suassuna afirma que os meses de julho e agosto apresentam um avanço mais rápido do processo de vazante, principalmente na calha principal do rio Paraguai.

Situação crítica do Rio Paraná aumenta risco de racionamento de energia

O Norte da bacia, região estratégica para o monitoramento porque as chuvas costumam ser mais abundantes no início do ano, também preocupa. As estações em Cáceres (MT) e na capital Cuiabá (MT) registram níveis abaixo da mínima histórica que já havia sido atingida em 2020. A estação de Cáceres registra 54 centímetros ao passo que o esperado seria 1,73 metro. Ano passado, nesta mesma data, o rio marcava 85 centímetros.

Pode faltar água no Mato Grosso

Há preocupação com o impacto no abastecimento de água. Na capital do estado, a cota atual é 20 centímetros, quando o valor normal seria de 81 centímetros. Nos municípios de Ladário e Porto Murtinho (MS), o nível do rio subiu consideravelmente em janeiro de 2021, mês em que as chuvas ficaram mais próximas do normal, entretanto foi o único mês em que isso aconteceu. O rio logo voltou a sofrer com chuvaa abaixo da média e a recuperação foi lenta. A situação foi agravada pelo fim precoce da estação chuvosa, no início de abril.

De acordo com o CPRM, o rio só esteve mais baixo do que agora em 4 ou 5 episódios durante a seca prolongada dos anos 1960 e 1970, mas poucas estações de monitoramento existiam na região do Pantanal na época. Deve ser o o terceiro ano consecutivo com déficit significativo de chuvas.

O reservatório da usina de Manso, que atende a região de Cuiabá (MT), opera com vazão mínima há mais de um ano. Segundo a Furnas, empresa que opera a hidrelétrica, o reservatório conta atualmente com 20,6% de seu armazenamento e, caso seja mantido o nível de utilização atual, é possível projetar um colapso hidráulico a partir da primeira quinzena de outubro.

A estação de Ladário deve atingir a mínima de -44 centímetros por volta de 20 de outubro, sendo que atingiu -32 centímetros no ano passado. O pesquisador Marcus Suassuna afirma que as previsões para o comportamento futuro do rio são feitas em comparação com a série histórica. Normalmente, quanto mais baixo o nível do rio em junho, mais cedo deve começar a estação chuvosa. “Com qualquer chuva que caia sobre a bacia, o rio terá uma resposta mais rápida”, explica. No entanto, em 2020 a combinação foi a pior possível: uma seca severa com fim tardio.

Seca do Rio Paraná impacta a Argentina

A escassez de chuva na bacia do Rio Paraná no Brasil tem graves reflexos na Argentina. A região mais afetada é o Nordeste do país, na chamada área do Litoral. Os efeitos da denominada “bajante extraordinária” do Paraná se sentem nas províncias do Chaco, Santa Fe, Formosa, Entre Ríos, Misiones e Buenos Aires.

Trata-se da maior baixa do Paraná na Argentina em sete décadas e há conseqüências para a economia local com a dificuldade de escoar a safra de grãos. O Porto da cidade de Rosário, em Santa Fé, escoa grande parte da produção agrícola argentina e está com o nível do Rio do Paraná em mínimos históricos.

Proteção do Instituto Nacional de Água da Argentina é que o Rio Paraná pode atingir o menor nível da sua histórica com a seca | INA

O Instituto Nacional da Água da Argentina estima que o nível do Paraná possa atingir o nível mais baixo da sua história no próximo mês, paralisando por completo o transporte de mercadorias e trazendo preocupação com o abastecimento de água para a população.

Produção de energia em Itaipu Binacional

A baixa histórica do nível do Rio Paraná prejudicado pescadores na região de Foz do Iguaçu e o nível do reservatório da usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do Brasil e da América Latina, na fronteira brasileira com o Paraguai. A geração de Itaipu é a menor em 27 anos em consequência da seca.

A produção de energia em 2021 até o momento é 12% menor que no ano passado, mas 35% inferior ao seu pico de geração do ano de 2016, quando chuva excessiva associada ao evento de Super El Niño atingiu o Centro-Sul do Brasil. A despeito da grave crise hídrica, as demandas dos mercados do Brasil e do Paraguai estão sendo atendidas normalmente pela gigantesca usina da fronteira.