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O trimestre de outono teve a La Niña mais intensa desde 1950, de acordo com dados publicados pela Administração Nacional de Oceano e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos. Em situação incomum, o fenômeno La Niña ganhou força durante o outono ao invés de enfraquecer ou até desaparecer, como normalmente ocorre no outono após o pico no final do ano anterior e nas primeiras semanas do ano. Junho começou com a La Niña mais forte desde 1999, pelos dados da agência de clima norte-americana.

Conforme a NOAA, o índice que mede a intensidade de La Niña e El Niño em escala trimestral chamado de ONI (Oceanic Niño Index) teve valor de -1,1ºC no trimestre de outono (primavera no Hemisfério Norte) que compreende os meses de março, abril e maio. A última vez que se viu um valor tão ou mais baixo no trimestre foi no ano de 1950 com -1,2ºC.

Os anos que chegaram perto do valor de -1,1ºC do trimestre março a maio de 2022 foram 1974 com -1,0ºC, 1999 também com -1,0ºC e 2008 igualmente com -1,0ºC. O ONI de março a maio foi o menor registrado em um trimestre desde que a La Niña foi declarada em agosto de 2021. O menor valor trimestral até então era de -1,0ºC nos trimestres de outubro a dezembro, novembro a janeiro, dezembro a fevereiro, e fevereiro a abril. Considerando-se todos trimestres e não apenas do outono, foi o menor valor trimestral desde novembro de 2020 a janeiro de 2021 que registrou -1,2ºC.

No período 1950-2022 da série histórica da NOAA não há um ano sequer em que o ONI referente ao trimestre março a maio tenha tido valor mais baixo que no trimestre fevereiro a abril, como se viu em 2022 com -1,0ºC em FMA e -1,1ºC em MAM. Em 1950, os valores dos dois trimestres foram iguais com -1,2ºC, o que faz da intensificação da La Niña durante o outono deste ano ainda mais notável do ponto de vista histórico.

O que é o ONI?

O Oceanic Niño Index (ONI) é o principal indicador da NOAA para monitorar a parte oceânica do padrão climático sazonal chamado El Niño-Oscilação Sul, em outras palavras o El Niño e a La Niña. A parte atmosférica é monitorada com o Índice de Oscilação Sul. O ONI, explica a NOAA, monitora as temperaturas médias da superfície do mar em três meses no Pacífico Centro-Leste entre 120°W-170°W, perto da Linha Internacional de Data, e se elas são mais quentes ou mais frio do que a média.

A NOAA considera que as condições do El Niño estão presentes no oceano quando o ONI naquela área, conhecida como região Niño 3.4, é +0,5ºC ou superior que a média. As condições oceânicas de La Niña existem quando o ONI é -0,5ºC ou inferior.

O padrão El Niño-Oscilação Sul é sazonal, não algo que muda a cada dia ou de semana para semana. Para calcular o ONI, cientistas do Centro de Previsão Climática da NOAA calculam a temperatura média da superfície do mar na região de Niño 3,4 para cada mês, usando medições oceânicas de uma variedade de fontes, incluindo flutuadores autônomos, bóias ancoradas e dados de navios.

A agência climática combina as observações numa única média mensal e, em seguida, calcula a média com os valores dos meses anteriores e seguintes. Essa média de três meses é comparada, então, a uma média de 30 anos. A diferença observada da temperatura média nessa região – seja mais quente ou mais fria – é o valor ONI para cada trimestre.

La Niña mais intenso em maio desde 1850, aponta um índice

O meteorologista Eric Webb, do Departamento de Geografia e Ciências da Terra da Universidade da Carolina do Norte, em Charlotte, desenvolveu um índice ONI mais amplo e com série histórica muito mais longa que a da NOAA. Semelhante ao da agência climática norte-americana, Webb denominou seu índice de Enseble Oceanic Niño Index com dados desde 1850.

Webb explica que seu índice ENS ONI segue de perto a metodologia usada no ONI da NOAA e é calculado usando anomalias de temperatura média sazonal da superfície do mar na região Niño 3.4 sobre o Pacífico Equatorial, conforme dados gerados rotineiramente e por reanálise, no caso de condições passadas (Webb, E. J. e B. I. Magi “The Ensemble Oceanic Nino Index”, International Journal of Climatology, 2022).

De acordo com os dados do ENS ONI, informou Eric Webb, maio teve a maior anomalia negativa do índice desde 1850, ou seja, a La Niña mais intensa em maio em mais de um século e meio com um valor de -1,21. Na sequência, no ranking dos menores valores do índice para o mês de maio aparecem, pela ordem, 1988 (-1,21), 1893 (-1,19), 1950 (-1,15), 1910 (-1,10), 1870 e 1917 (-0,97), 1955 (-0,95), 1890 (-0,88) e 1894 (-0,86).

Impactos da La Niña

Os efeitos do resfriamento do Pacifico Equatorial com a La Niña são sentidos em escala global e em todos os continentes. No Oriente Médio, por exemplo, o fenômeno é apontado como uma das causas da recente sequência de grandes tempestades de areia e poeira. No Atlântico Norte, a ciência já mostrou que quando há La Niña há uma maior atividade de ciclones tropicais e um risco mais alto de intenso furacões.

No Brasil, sabidamente a La Niña tende a aumentar a chuva no Nordeste do Brasil, com eventos extremos de precipitação como se viu em Pernambuco. No Sul, comumente é feita a associação entre La Niña e seca, mas a correlação não é totalmente correta. O fenômeno aumenta entre o final da primavera e o começo do outono a probabilidade de estiagem, mas entre meados do outono e da primavera a chuva pode ficar até acima da média em vários meses com episódios extremos de precipitação mesmo sob La Niña.

No inverno do Sul do Brasil o que a La Niña faz é aumentar a chance de grandes eventos de frio ou neve com maior frequência de ar polar. A maioria das grandes ondas de frio da história se deu com o Pacífico numa fase fria. Na primavera, com La Niña, não há tantas tempestades, mas quando ocorrem tendem a ser mais severas com risco maior do que a média de tornados e de queda de granizo.