Cadê o calor? Por que o inverno resolveu fazer hora extra? O começo da primavera tem sido marcado até agora por temperatura baixa e uma alta frequência de ingresso de massas de ar frio, inclusive com recordes. Este padrão atmosférico faz com que estas duas primeiras semanas da nova estação tenham sido caracterizadas por dias mais frios do que o normal para a época do ano e a ausência de forte calor.

Na Argentina, na terça-feira (5), nevou na região da Patagônia. No dia seguinte (6), mínimas perto dos recordes de frio para o mês de outubro foram observadas em algumas estações patagônicas. Ontem (7), quando chegou a gear no Sul do Brasil com apenas 2ºC no Sul gaúcho, duas estações da província de Buenos Aires tiveram recordes históricos de mínimas para o mês de outubro. Fez -6,4ºC em Coronel Suarez, a menor marca em outubro na cidade desde os -5,7°C registrados em 1º/10/1938. Tandil registrou -4,3ºC, menor mínima na cidade da província de Buenos Aires em outubro desde os 3,9°C que foram anotados em 6/10/2005.

Em Porto Alegre, a temperatura mínima média nos primeiros oito dias de outubro está em 13,2ºC. Para se ter ideia, 13ºC é a mínima média dos meses de maio e setembro na capital gaúcha. A de outubro é de 15ºC, logo as noites foram 2ºC mais frias que o normalmente observado em outubro nos primeiros oitos dias do mês na cidade.

É sabido que o fenômeno La Niña tende a trazer uma primavera com maior número de incursões frias, frio e geada tardios, além de muitos períodos de chuva abaixo da média. O Pacífico Equatorial ainda não está oficialmente sob La Niña e a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, espera que o fenômeno seja declarado nas próximas semanas. Apesar disso, a faixa equatorial do oceano já apresenta uma extensa “língua” de águas superficiais mais frias do que a média que é a típica de La Niña.

NOAA

Embora a notória influência do Pacífico, a principal teleconexão atmosférica que dita as condições do tempo no Centro-Sul do Brasil no final de setembro e neste começo de outubro é a chamada Oscilação Antártica ou Modo Anular Sul. A oscilação intrasazonal ingressou numa fase negativa, condição que favorece maior deslocamento de frentes frias pela América do Sul  e que tem como efeito temperatura mais baixa no Sul com frio tardio e um aumento da chuva no Centro do Brasil, onde as frentes frias conseguem chegar e trazer chuva ao encontrar o ar mais quente. É o que explica o começo de primavera mais chuvoso ou um dos mais chuvosos desde 2010 em diversas áreas do Centro-Sul do país.

NOAA

A chamada Oscilação Antártica ou Modelo Anular Sul ou Meridional é uma das mais importantes variáveis ​​que impacta como condições no Brasil e no Hemisfério Sul, tanto na chuva como na temperatura. Do que se trata? Trata-se de um índice de variabilidade relacionado ao cinturão de vento e de baixas pressões ao redor da Antártida.

A Oscilação Antártica, também chamada de Modo Anular Sul, tem duas fases. A positiva e a negativa. Na positiva, o cinturão de vento ao redor da Antártida se intensifica e se contrai em torno do Polo Sul. Já na fase negativa, o cinturão de vento enfraquece e se desloca para Norte, no sentido do Equador, obviamente sem atingir uma faixa equatorial.

Com a maior ondulação da corrente de jato na fase negativa cresce a chance de que ocorram eventos de frio mais intenso no Cone Sul da América e em outras áreas mais meridionais dos continentes do Hemisfério Sul como o Sul da África, Austrália e Nova Zelândia.

Com a oscilação antártica projetada em permanecer no terreno negativo no curto prazo, a tendência é a manutenção do padrão atmosférico atual. Ou seja, vai seguir chovendo mais do que o normal para esta época do ano em muitas áreas do Centro do Brasil e a temperatura seguirá mais baixa no Sul, em particular no Rio Grande do Sul, sem calor intenso ou uma sequência de dias quentes. Aliás, até um dia da próxima semana pode ter tarde quente no estado gaúcho, mas será na véspera do ingresso de mais uma massa de ar frio.