São Sebastião (foto) foi a cidade mais castigada pela chuva e deve ter períodos de instabilidade no decorrer da semana que começa | PREFEITURA DE SÃO SEBASTIÃO

Chuva considerada catastrófica pelos volumes extraordinários atingiu o litoral do estado de São Paulo no fim de semana com precipitação muito extrema entre a tarde e a noite do sábado e as primeiras horas de ontem. A precipitação excepcional provocou mortes e destruição com inundações massivas e múltiplos deslizamentos de terra entre a Baixada Santistas e o Litoral Norte paulista. Os acumulados mais extremos se deram numa área entre o Guarujá e Bertioga.

Em 24 horas, entre 9h do sábado e 9h do domingo, a chuva somou 680 mm em Bertioga, 626 mm em São Sebastião, 388 mm no Guarujá, 337 mm em Ilhabela, 335 mm em Ubatuba, 234 mm em Caraguatatuba: 234 mm, 225 mm em Santos, 203 mm em Praia Grande e 186 mm em São Vicente. Um milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado.

Em pontos de Bertioga e São Sebastião, choveu 400 mm em menos de seis horas no fim do sábado. Volumes na magnitude de 500 mm ou mais em poucas horas têm potencial de consequências desastrosas. Mesmo com volumes muito inferiores aos do litoral paulista, o Serviço Nacional de Meteorologia nos Estados Unidos emite raros alertas de emergência por inundações, o mais alto da escala de severidade por precipitação.

A chuva extrema ocorreu por área de baixa pressão no litoral de São Paulo interagindo com uma frente fria. Ventos com ar mais frio e com muita umidade vindos do mar, que está com as águas com temperatura acima da média, ao encontrarem as elevações da Serra do Mar geraram chuva de natureza orográfica (associada ao relevo), que não raro traz volumes altíssimos também em Santa Catarina e no Rio de Janeiro.

Os volumes de quase 700 mm registrados certamente são os mais altos já documentados no Brasil, mas não necessariamente os mais elevados já ocorridos, e estão entre os mais altos até hoje na América do Sul, encontrando-se marcas mais extremas na Colômbia.

Como será a semana na semana no litoral paulista

A boa notícia é que não se espera nesta semana chuva tão excessiva como neste fim de semana e que haverá períodos de sol e nuvens. As más é que o tempo vai seguir instável e com vários períodos de chuva durante a semana que começa, intercalando-se com horas de sol, nuvens e abafamento. A atmosfera mais seca sobre o Leste de Minas Gerais e a área entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo canaliza a umidade para o estado de São Paulo.

Os mapas acima mostram a projeção de chuva diária de segunda (20) a sábado (25) no Sudeste do Brasil a partir dos dados do modelo meteorológico alemão Icon. Observa-se a tendência de chover todos os dias desta semana no litoral paulista.

Embora os volumes projetados não sejam altos, há risco de pancadas isoladas fortes por uma condição bastante normal nesta época – e diferente deste fim de semana – que são os temporais de fim de tarde e noite pelo aquecimento diurno com umidade alta. Estas ocorrências podem trazer chuva torrencial, mas passageira e localizada. Assim, por exemplo, pode chover forte por vinte a trinta minutos no Guarujá enquanto em Ilhabela não cai uma gota.

Mesmo chuva fraca preocupa

A diminuição da instabilidade não significa que os riscos cessaram. Mesmo se parasse de chover o risco geológico de deslizamentos seria extremo pelo que já choveu, afinal o solo está saturado e extremamente instável, assim o cenário segue absolutamente crítico para escorregamento de encostas e novos deslizamentos podem ocorrer sem chuva ou com precipitação fraca.

As fortes chuvas que causaram destruição e deixaram vítimas. De acordo com a Defesa Civil de São Paulo, 24 mortes estão confirmadas e o número pode aumentar. Há ainda 228 pessoas desalojadas e 338 desabrigadas. Uma das vítimas é uma criança de sete anos, que morreu em um deslizamento de terra em Ubatuba. As demais 23 mortes foram confirmadas em São Sebastião, a cidade mais castigada pelo temporal.

MetSul alertou para risco de chuva de até 700 mm

Durante todo este domingo, em meios de comunicação, diversas vozes diziam que nao era possível prever chuva acima de 500 mm e muito menos de 700 mm. Com base em seus recursos tecnológicos e a experiência da equipe em eventos extremos de precipitação orográfica (induzida pelo relevo), a MetSul Meteorologia foi o único serviço de previsão do tempo a antecipar a chuva de 700 mm.

Os volumes extremos confirmaram as projeções dos modelos de alta resolução da MetSul que ao longo da semana que passou indicavam acumulados de precipitação de até 500 mm ou mais na área mais afetada pela chuva, o que levou à emissão de um alerta na sexta de que o fim de semana poderia ter chuva excepcional da região entre a costa e a Serra do Mar.

Na sexta à noite, as projeções dos nossos modelos computadorizados aumentaram a chuva para até 700 mm e em um segundo alerta  no começo do sábado se advertia para volumes possíveis de até 500 mm a 700 mm, ponderando-se que em se tratando de chuva orográfica (associada ao relevo) não raro acaba chovendo até mais que o indicado pelo modelos numéricos.

Na sequência, no começo da madrugada deste domingo, com a chuva extrema já se registrando, uma terceira advertência da MetSul de que o cenário era excepcionalmente grave e que o quadro deveria piorar ainda mais com mais intensas precipitações.