Os alertas meteorológicos divulgados ontem e reiterados hoje cedo se confirmaram e um evento extremo de chuva com acumulados localmente extraordinários de precipitação atinge o litoral do estado de São Paulo. Projeção do modelo exclusivo de alta resolução da MetSul indicava acumulados de 500 mm a 700 mm e os volumes em alguns locais já se aproximam da marca dos 500 mm.
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Na rede do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden), o acumulado do sábado, em 24h até 0h deste domingo, atingia 472 mm em Bertioga (Praia de Guaratuba), sendo 473 mm em apenas seis horas.
Os dados indicavam ainda 262 mm no Guarujá (Pereque), 203 mm em São Sebastião, 136 mm em Ubatuba (Ubatumirim), 131 mm em Santos (Nicho VI), 127 mm em São Vicente (Parque Prainha) e 116 mm em Ilhabela (São Pedro).
Os volumes em pontos da região atingem níveis que em Meteorologia se denominam como chuva potencialmente catastrófica. Neste patamar de precipitação, nos Estados Unidos, o Serviço Nacional de Meteorologia emite raro alerta de emergência por chuva.
A MetSul enfatiza que é cenário de excepcional perigo por inundações e principalmente de deslizamentos de terra. Volumes na magnitude de 500 mm ou mais em poucas horas têm potencial de gerar massivos escorregamentos de encostas com partes de morros inteiras vindo abaixo.
A chuva extrema ocorre por uma área de baixa pressão no litoral de São Paulo e Sul fluminense, onde também pode chover muito forte em alguns pontos. O cenário é muito pior, entretanto, para o litoral paulista. A tendência é seguir chovendo muito intensamente nas próximas horas, entre a madrugada e a manhã do domingo, em parte do litoral paulista com tendência de gradual diminuição no decorrer do domingo.
O cenário é especialmente preocupante nas áreas de Praia Grande, São Vicente, Santos, Guarujá, Cubatão, Bertioga, Barra do Una, Maresias, Ilhabela, São Sebastião e Caraguatatuba, dentre outras cidades e praias da região.
A chuva orográfica que atinge a região é a precipitação induzida pelo relevo. Umidade que vem do oceano, trazida por vento frio que vem do oceano, em razão de uma massa de ar frio que atua no Sul do Brasil, ao encontrar a barreira do relevo da Serra do Mar, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa à medida que ascende na atmosfera com camadas mais frias.
Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo. Em um exemplo bem didático e simples de entender. O que acontece se você chega na frente de um espelho e soltar ar da sua boca? O espelho que tem uma superfície mais fria vai ficar embaçado (úmido) e molhado. Com a chuva orográfica ocorre o mesmo.
O ar mais úmido e quente (analogia com ar que sai da boca) encontra um obstáculo físico que é o relevo (como o espelho) e ao chegar nesta barreira que são os morros sobe na atmosfera e encontra temperatura mais baixa, condensando-se o vapor de água e formando chuva.
Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil.