A MetSul Meteorologia reforça o seu alerta sobre chuva extrema no litoral do estado de São Paulo neste fim de semana. Os mais recentes dados, a partir dos dados dos modelos meteorológicos da madrugada deste sábado, não apenas mantiveram a tendência de precipitação muito excessiva em parte da costa paulista como indicaram chuva excepcional com volumes extraordinários para algumas localidades.

Trata-se de uma condição de enorme perigo ante a probabilidade de que os volumes de chuva em alguns pontos possam atingir quantidades equivalentes de precipitação a dois ou três meses (e o verão tem altas médias de precipitação na região) em apenas 24h a 36h.

O que os dados apontam de chuva para pontos do litoral paulista inevitavelmente levará a transtornos e consequências que oferecem elevado risco para a estrutura das cidades e a população. É uma condição que excede as chuvas intensas comuns no verão e que decorre de uma situação meteorológica incomum pela intensidade atípica do ar frio no Sul do país.


Com uma área de alta pressão sobre o Sul do Brasil, associada a uma grande e forte massa de ar frio para esta época do ano, um centro de baixa pressão menor deve se formar na costa do Sudeste do Brasil. O seu padrão de circulação deve levar vento carregado de umidade do mar e mais frio em direção ao continente no sentido do litoral de São Paulo e a Serra do Mar com chuva de natureza orográfica.

Sob este cenário, a MetSul Meteorologia antecipa uma alta probabilidade de alagamentos e inundações, em alguns casos repentinas, além de um elevado risco de quedas de encostas e ainda deslizamentos de terra. Os acumulados de precipitação são condizentes com um risco geológico extremo e uma situação meteorológica de alerta vermelho (o mais alto da escala).

O cenário vai exigir muita atenção em rodovias da região, sobretudo na Serra do Mar e junto à região serrana, ante a elevada probabilidade de queda de barreiras e de deslizamentos de encostas. As precipitações por vezes podem ser torrenciais no Sistema Anchieta-Imigrantes assim como na rodovia Rio-Santos, por conta da orografia (relevo).


A ocorrência deste evento de chuva extrema coincidindo com o feriadão de Carnaval, com um grande número de pessoas nas estradas e buscando as praias do litoral, exige ainda mais atenção pelos riscos envolvidos. Insistimos que se trata de um cenário de altíssimo risco e que oferece perigo à vida humana, especialmente em encostas.

Vários modelos numéricos analisados pela MetSul indicam a possibilidade de acumulados de precipitação superiores a 200 mm no litoral de São Paulo só neste fim de semana. O mapa abaixo mostra a projeção de chuva do modelo alemão Icon que sinaliza acumulados locais até acima de 300 mm. Observe que a área de chuva mais extrema é pequena, apesar de o risco de volumes altos em grande parte do litoral paulista.

O modelo de altíssima resolução da MetSul, o WRF de 3 km, que pela sua grande resolução tem maior capacidade de identificar volumes extremos localizados por orografia (relevo) sinaliza um cenário ainda pior e extremamente preocupante.


O WRF aponta de 150 mm a 200 mm em grande parte do litoral de São Paulo neste fim de semana, mas em algumas áreas entre a Serra e a costa projeta índices de precipitação que são extraordinários com marcas perto e acima de 500 mm com marcas isoladas de 600 mm a 700 mm.

As condições meteorológicas se deterioram muito entre a tarde e a noite deste sábado e a manhã do domingo que deve ser o período mais crítico para chuva extrema, quando podem ser anotados em alguns locais volumes de até 100 mm ou mais por hora. Será quando o vento passará a soprar de Sul, do mar para o continente, com ar frio avançando sobre águas mais quentes do que a média.

A chuva pode ser volumosa em diversos pontos do litoral paulista, do Sul ao Norte, mas em parte da costa de São Paulo e a Serra do Mar adjacente os volumes podem ser excessivamente altos e com índices perigosamente elevados. O modelo nosso de alta resolução indica o risco de que estes volumes muito excessivos ocorrerão principalmente do Centro para o Norte do litoral paulista, mas se antecipa chuva localmente intensa com altos volumes também em parte do Litoral Sul de São Paulo.

Assim, o cenário exige muita atenção no litoral paulista, incluindo as áreas de Praia Grande, São Vicente, Santos, Guarujá, Cubatão, Bertioga, Barra do Una, Maresias, Ilhabela, São Sebastião e Caraguatatuba, dentre outras cidades e praias. Não deve chover com volumes extremos em todas estas localidades, mas é a zona de risco maior de precipitações muito excessivas.

A chuva orográfica que atingirá a região é a precipitação induzida pelo relevo. Umidade que vem do oceano, trazida por vento, em razão de uma massa de ar frio ou um ciclone, ao encontrar a barreira do relevo da Serra do Mar, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa à medida que ascende na atmosfera com camadas mais frias.

Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo. Em um exemplo bem didático e simples de entender. O que acontece se você chega na frente de um espelho e soltar ar da sua boca? O espelho que tem uma superfície mais fria vai ficar embaçado (úmido) e molhado. Com a chuva orográfica ocorre o mesmo.

O ar mais úmido e quente (analogia com ar que sai da boca) encontra um obstáculo físico que é o relevo (como o espelho) e ao chegar nesta barreira que são os morros sobe na atmosfera e encontra temperatura mais baixa, condensando-se o vapor de água e formando chuva.

Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil.