Chuva considerada catastrófica pelos volumes extraordinários atingiu o litoral do estado de São Paulo no fim de semana com precipitação muito extrema entre a tarde e a noite do sábado e as primeiras horas de hoje.

A precipitação excepcional provocou mortes e destruição com inundações massivas e múltiplos deslizamentos de terra entre a Baixada Santistas e o Litoral Norte paulista. Os acumulados mais extremos se deram numa área entre o Guarujá e Bertioga. Em 24 horas, entre 9h do sábado e 9h do domingo, a chuva somou 680 mm em Bertioga e 626 mm em São Sebastião.

A chuva extrema ocorreu por área de baixa pressão no litoral de São Paulo interagindo com uma frente fria. Ventos com ar mais frio e com muita umidade vindos do mar, que está com as águas com temperatura acima da média na costa do Sudeste, ao encontrarem as elevações da Serra do Mar geraram chuva de natureza orográfica (associada ao relevo).

A MetSul Meteorologia alerta que o centro de baixa pressão responsável pelo evento de chuva extraordinário no litoral de São Paulo vai se deslocar para o Sul e percorrer, em mar aberto, os litorais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul até começar a se distanciar da região continental na altura do litoral gaúcho.

O centro de baixa pressão, que não é profundo, estava na manhã de hoje no litoral do estado de São Paulo, o que favoreceu a chuva excepcional das primeiras horas do dia em parte da costa paulista. O sistema manteve o tempo instável ao longo do domingo na região mais castigada pelas precipitações extremas.

Nesta segunda, o sistema de baixa pressão começará o seu deslocamento pela costa do Sul do Brasil, passando pelo litoral do Paraná. No começo da terça, a área de baixa vai estar sobre o Atlântico na altura do Litoral Sul catarinense e do Norte gaúcho.

No decorrer da terça-feira, como mostram os mapas do modelo ECMWF do Centro Europeu, a área de baixa pressão sobre o Oceano Atlântico deve começar a se afastar do continente no sentido Leste-Sudeste quando estiver na altura do Rio Grande do Sul.

Baixa pressão trará chuva e localmente volumosa

O centro de baixa pressão ao se deslocar para Sul na costa da Região Sul vai favorecer chuva em grande parte dos estados do Paraná e de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, a chuva não irá afetar todo o estado e muitos municípios não devem ter precipitação neste começo de semana. A chuva no estado gaúcho deve atingir mais setores das Metades Norte e Leste, sobretudo mais ao Norte e o Nordeste gaúcho, o que inclui a Serra e o Litoral Norte.

Os modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia não estão em consenso sobre os volumes de chuva, ao contrário do que ocorreu com o evento de São Paulo em que todos estavam indicando acumulados muito excessivos para uma área entre a Baixada Santista e o Litoral Norte paulista.

O modelo meteorológico alemão Icon, por exemplo, no mapa acima, não indica acumulados de precipitação mais significativos e que inspirem preocupação na Região Sul. Pode até chover forte em algumas áreas, mas o modelo não indica acumulados extremos.

Projeção que nos traz preocupação é a do nosso modelo de alta resolução, o WRF de 3 km, o que melhor identificou os acumulados excepcionais de 500 mm a 700 mm no litoral paulista. Pela sua maior resolução e capacidade de identificar chuva volumosa isolada pela topografia do terreno, o WRF está a indicar a possibilidade de chuva isoladamente volumosa (acima de 100 mm) em pontos mais ao Norte do Litoral gaúcho e das costas de Santa Catarina e do Paraná com marcas excessivas (acima de 200 mm).

O WRF indica o risco de chuva isoladamente volumosa principalmente para pontos do Sul e do Leste catarinense, o que inclui o litoral catarinense, e projeta acumulados excessivos bastante localizados que podem ficar entre 100 mm e 200 mm, e que não se descarta em alguns locais possam ser ainda mais elevados em cenário que exige atenção.

A possibilidade de chover muito forte a intensamente é reforçada pela característica da chuva que se espera, de natureza orográfica. Os ventos úmidos que soprarão do mar, e o Atlântico está muito aquecido junto ao Sul do Brasil com maior disponibilidade de umidade, ao encontrarem a Serra do Mar na costa catarinense podem gerar acumulados isoladamente extremos.

Com isso, a MetSul acautela sobre o risco de alagamentos e inundações repentinas por períodos de chuva forte a intensa entre esta segunda e a terça-feira. Adverte ainda que não se pode afastar o risco de deslizamentos de terra e quedas de barreiras em rodovias no Sul e no Leste de Santa Catarina.

É fundamental enfatizar e deixar muito claro que, apesar de ser o mesmo sistema que atuou no litoral paulista e que esteja a se prever o risco de chuva volumosa, a MetSul não antecipa que os volumes sejam tão altos quanto os registrados em São Paulo. O que ocorreu no litoral paulista foi extraordinário e acumulados perto de 700 mm em 24 horas não possuem precedentes documentados no Brasil.

No Rio Grande do Sul, embora o sol apareça na maioria das cidades, a nebulosidade aumenta nesta segunda. Chove principalmente em setores do Norte e do Leste gaúcho, em especial no Norte e no Nordeste do estado como no Alto Uruguai, Planalto, Serra e Litoral Norte. Há chance de chuva entre esta segunda e a terça também na região de Porto Alegre.

Chuva orográfica traz acumulados extremos

Chuva orográfica, como se espera neste começo de semana em áreas perto da Serra do Mar entre o Norte do litoral gaúcho e a costa do Paraná, é a precipitação induzida pelo relevo. Umidade que vem do mar, trazida por vento do oceano, em razão de uma massa de ar frio que atua na costa do Sul do Brasil, ao encontrar a barreira do relevo da Serra do Mar, ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa à medida que ascende na atmosfera com camadas mais frias.

Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo. Em um exemplo bem didático e simples de entender. O que acontece se você chega na frente de um espelho e soltar ar da sua boca? O espelho que tem uma superfície mais fria vai ficar embaçado (úmido) e molhado. Com a chuva orográfica ocorre o mesmo.

O ar mais úmido e quente (analogia com ar que sai da boca) encontra um obstáculo físico que é o relevo (como o espelho) e ao chegar nesta barreira que são os morros sobe na atmosfera e encontra temperatura mais baixa, condensando-se o vapor de água e formando chuva que costuma ser muito forte.

Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos a extremos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil.