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O fenômeno El Niño deve se instalar nas próximas semanas no Oceano Pacífico Equatorial. A MetSul Meteorologia já havia projetado em boletins que o fenômeno teria início entre junho e o mais tardar o começo de julho. Hoje, em boletim, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) seguiu a mesma linha de prognóstico, projetando o início de um evento nos próximos 60 dias.

“Em abril, as temperaturas acima da média da superfície do mar expandiram-se ligeiramente para o Oeste até o Centro-Leste do Oceano Pacífico Equatorial. Embora o aquecimento perto da costa da América do Sul permaneça impressionante, o sistema oceânico-atmosférico acoplado em toda a bacia permaneceu consistente com neutralidade”, disse a NOAA.

O que isso significa? Que há um El Niño costeiro perto da América do Sul, mas ainda não há um El Niño na sua forma clássica com aquecimento de maior intensidade irradiado pela faixa equatorial do Pacífico, mas que sinais disso já começam a se observar.

De acordo com o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de +0,4ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global. O valor está na faixa de neutralidade de -0,4ºC a +0,4ºC, mas no limite do território de El Niño.

Por outro lado, a região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, estava com anomalia de +2,7ºC, em nível de El Niño costeiro muito forte. O El Niño costeiro, é ​ evento oceânico-atmosférico que consiste no aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico equatorial nas proximidades das costas sul-americanas, que implica que afeta o clima de países como Peru, Equador e às vezes no Chile. É um fenômeno local que não afeta todo o clima mundial. É diferente do fenômeno na sua forma clássica ou canônica, que é fenômeno climático global de maior dimensão, esperado para os próximos meses.

NOAA: El Niño muito perto

O que o boletim mensal da NOAA afirma hoje está em linha o que a MetSul publicou semana passada: o El Niño está muito perto. Conforme a agência de clima do governo norte-americano, os dados de modelos indicam que “o El Niño provavelmente se formará durante a temporada de maio a julho”, ou seja, nas próximas semanas.

“A combinação de um terceiro evento de vento de Oeste previsto para meados do final de maio e altos níveis de conteúdo de calor oceânico acima da média significa que um El Niño potencialmente significativo está no horizonte”, disse a NOAA. Estes eventos de vento de Oeste mais fortes são conhecidos por acelerar o aquecimento das águas superficiais.

A estimativa da MetSul Meteorologia é que a NOAA possa declarar o começo do evento de El Niño ao redor dos dias 22 ou 29 de junho, portanto na segunda quinzena de junho, uma vez que o aquecimento do Pacífico Equatorial tende a se acelerar nas próximas quatro semanas.

O gráfico de probabilidade do fenômeno da NOAA divulgado nesta quinta-feira sinaliza também mais de 90% de chance de um evento de El Niño se instalar e persistir não apenas durante todo o segundo semestre de 2023 como se estender ainda ao começo de 2024, no mínimo até o verão ou outono do próximo ano.

Episódio de forte intensidade

O que a NOAA aponta hoje também confirma o que a MetSul vinha antecipando sobre a força deste evento  a caminho. Existe a possibilidade de evoluir para um episódio de forte intensidade mais tarde neste ano. A agência dos Estados Unidos não usa a terminologia de um Super El Niño, mas na avaliação da MetSul esta é uma possibilidade crescente.

Conforme a NOAA, em sua atualização de hoje, há chance de 80% ao pelo menos um El Niño moderado (anomalia de temperatura da superfície do mar ≥ 1,0°C na região Niño 3.4 do Pacífico Equatorial Centro-Leste) a ~55 % de chance de um forte El Niño (anomalia de ≥ 1,5°C). A MetSul observa, entretanto, que vários modelos relevantes indicam anomalias até acima de 2ºC, o que configuraria um Super El Niño.

O que ocorreu quando houve Super El Niño

Não é possível ainda dizer que haverá um Super El Niño, apenas alertar para tal possibilidade, mas todos os episódios de Super El Niño trouxeram graves consequências nas latitudes médias da América do Sul com excesso de chuva e enchentes em alguns casos catastróficas. O Centro e o Nordeste da Argentina, o Uruguai, o Sul do Brasil e o Paraguai sofreram com eventos extremos de chuva e períodos excepcionalmente chuvosos, além de muitas tempestades fortes a severas, em anos de Super El Niño.

Na primeira metade do século passado, 1941 foi um ano de Super El Niño. Entre 1982 e 1983 se instalou outro Super El Niño, o que se repetiu em 1997/1998.  O último evento foi em 2015/2016. O episódio de 1941 coincide com a maior enchente na história de Porto Alegre. Os três seguintes causaram grandes enchentes no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em outubro de 2015, o Guaíba em Porto Alegre atingiu o seu maior nível desde a enchente de 1967.

É consenso na comunidade climática que não existe uma correlação perfeita entre intensidade e severidade dos impactos. Isso porque em várias regiões do globo já houve graves consequências geradas por episódios fracos e que ocorreram em eventos fortes. No caso do Sul do Brasil, contudo, todos os eventos muito intensos produziram efeitos severos em precipitação.

De acordo com a base de dados da NOAA, no evento de Super El Niño de 1997/1998 a maior anomalia de temperatura superficial das águas do Pacífico Equatorial Centro-Leste (Niño 3.4) foi de +2,8ºC na semana de 26 de novembro de 1997. Já no Super El Niño de 2015/2016, a maior anomalia na mesma área foi registrada na semana de 18 de novembro de 2015 com +3,1ºC.