“Canyon de fogo” que abriu com filamento no sol libera energia rumo à Terra que pode provocar tempestade solar | NASA

Desde ontem há notícias de que uma tempestade solar atingirá a Terra entre hoje e amanhã com informações de que a NASA teria emitido um alerta e que a tormenta geomagnética teria até efeito na saúde das pessoas, causando, por exemplo, sintomas como dores de cabeça e problemas cardíacos. Afinal, é verdade?

Em parte. Uma tempestade geomagnética pode sim afetar o planeta Terra entre hoje e amanhã, mas não houve nenhum aviso especial e espetacular da agência espacial norte-americana NASA relacionado a este evento. A conta no Twitter NASA Sun, dedicada especialmente à estrela, não tem nenhuma publicação sobre uma iminente tempestade solar. A agência, contudo, monitora o evento e seus cientistas informaram a possibilidade de uma tempestade geomagnética.

Os avisos formais de tempo solar são emitidos pelo Space Weather Prediction Center (SWPC), vinculado à Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), agência de tempo e clima do governo dos Estados Unidos. O SPWC tem um aviso de tempestades geomagnéticas menores da classe G1 possíveis até amanhã, quando se espera que uma ejeção de massa coronal atinja o campo magnético do planeta Terra. A ejeção foi lançada ao espaço por filamento instável de magnetismo que entrou em erupção em 15 de julho.

Os ventos solares do rompimento de um gigantesco filamento de “canyon de fogo” no sol, assim, podem atingir a Terra, desencadeando uma fraca tempestade geomagnética G1. Evento que não foge ao normal e já ocorreu alguma vezes neste ano sem qualquer atenção da mídia e sem causar maiores efeitos.

Os observadores do sol avistaram pela primeira vez filamentos solares como linhas escuras e semelhantes a fios contra o fundo brilhante do sol no último dia 12 de julho. Então, no dia 15 de julho um filamento que serpenteava pelo hemisfério norte de nossa estrela entrou em erupção, esculpindo um “canyon de fogo” de aproximadamente 384 mil quilômetros de comprimento e 20 mil quilômetros de profundidade na superfície do sol, expelindo material solar diretamente para a Terra.

Os filamentos solares são enormes arcos de gás eletrificado (ou plasma) que percorrem a atmosfera do sol de acordo com os caprichos do poderoso campo magnético da estrela. Esses tubos magnéticos gigantes podem conter enormes massas de plasma acima da superfície do sol, mas também são muito instáveis e uma vez que colapsam podem lançar jatos explosivos de vento solar chamados ejeções de massa coronal (CMEs) em direção à Terra.

Em planetas que possuem campos magnéticos robustos, como a Terra, o campo magnético absorve a enxurrada de detritos solares das CMEs, desencadeando poderosas tempestades geomagnéticas. Nestas tempestades, o campo magnético da Terra é levemente comprimido pelas ondas de partículas altamente energéticas que escorrem pelas linhas do campo magnético perto dos pólos e agitam as moléculas na atmosfera, liberando energia na forma de luz para criar auroras coloridas.

Classificada como uma tempestade solar G1, a que pode ocorrer nas próximas horas tem o potencial de causar flutuações nas redes elétricas e impactar algumas funções de satélite, incluindo aquelas para dispositivos móveis e sistemas GPS, mas não drasticamente. As projeções dos especialistas, assim, não indicam maiores consequências no espaço e nenhum risco para a rotina das pessoas na Terra, muito menos na saúde.

Tempestades geomagnéticas mais extremas podem ser perigosas e alterar a vida em sociedade, mas segundo o SWPC não será o caso desta. A erupção de uma ejeção de massa coronal do sol geralmente leva cerca de 15 a 18 horas para chegar à Terra, de acordo com o Centro de Previsão do Clima Espacial da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), mas pode, como agora, se mover mais devagar e levar mais tempo chegar. Essa possível tempestade de agora ocorre quando o sol entra em sua fase mais ativa de seu ciclo solar de aproximadamente 11 anos e que deve atingir seu pico entre 2024 e 2025, logo ouviremos muito sobre tempestades solares nos próximos anos.

Os astrônomos sabem desde 1775 que a atividade solar aumenta e diminui em ciclos, mas recentemente, o sol tem estado mais ativo do que o esperado, com quase o dobro das aparições de manchas solares previstas pela NOAA. A atividade do Sol deverá aumentar constantemente nos próximos anos, atingindo um máximo geral em 2025 antes de diminuir novamente.

Um artigo publicado em 20 de julho na revista Astronomy and Astrophysics propôs um novo modelo pra atividade do sol contando separadamente as manchas solares em cada hemisfério, um método que os pesquisadores do artigo argumentam que poderia ser usado para fazer previsões solares mais precisas.

Os cientistas pensam que a maior tempestade solar já testemunhada durante a história contemporânea foi o Evento de Carrington de 1859, que liberou aproximadamente a mesma energia que 10 bilhões de bombas atômicas de 1 megaton. Depois de atingir a Terra, o poderoso fluxo de partículas solares fritou os sistemas de telégrafo em todo o mundo e fez com que auroras mais brilhantes do que a luz da lua cheia aparecessem até no sul do Caribe.

Se um evento semelhante acontecesse hoje, alertam os cientistas, isso causaria trilhões de dólares em danos e desencadearia apagões generalizados, muito pior que a tempestade solar de 1989 que liberou uma nuvem de gás de bilhões de toneladas e causou um apagão em toda a província canadense de Quebec.