Imagem de longa exposição mostra uma trilha de um grupo de satélites Starlink da SpaceX passando sobre o Uruguai, visto do campo, a cerca de 185 quilômetros ao Norte de Montevidéu, perto de Capilla del Sauce, Departamento da Florida, em 7 de fevereiro de 2021 | MARIANA SUAREZ/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O ciclo solar atual de aproximadamente onze anos se encaminha para o seu pico entre 2024 e 2025, o que faz com que a atividade solar aumente gradualmente e cresça a frequência das tempestades solares. É o que fez com que nos últimos meses grandes eventos de aurora boreal fossem registrados para o encanto de observadores no Hemisfério Norte.

Neste mês, entretanto, a atividade geomagnética trouxe mais que auroras. Causou prejuízo. A SpaceX, do controverso empresário Elon Munsk, testemunhou um impacto impressionante diferente das partículas carregadas que se espalharam pelo espaço quando 40 de seus pequenos satélites de comunicação Starlink foram nocauteados um dia após o lançamento. A perda pode custar à empresa dezenas de milhões de dólares. Ao final do projeto, o Starlink consistirá em dezenas de milhares de pequenos satélites em órbita baixa da Terra.

De acordo com um comunicado de imprensa da SpaceX, 40 dos 49 satélites Starlink vão reentrar na atmosfera ou já reentraram depois de encontrar uma tempestade geomagnética em 4 de fevereiro. A nova constelação de pequenos satélites foi lançada em 3 de fevereiro no Centro Espacial Kennedy, na Flórida. A empresa disse que não se espera que os satélites criem detritos ou atinjam o solo na reentrada, sendo incinerados durante a reentrada em chamas.

“É a primeira vez que tantas naves espaciais foram impactadas em um único momento que temos conhecimento”, disse Jim Spann, pesquisador-chefe de tempo espacial da divisão de heliofísica da NASA, que estuda a física relacionada ao Sol. Spann disse ao Washington Post que a NASA e a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) estão analisando a natureza exata do evento que causou o problema, mas que as condições não parecem particularmente especiais.

Em 30 de janeiro, satélites observaram o Sol sofrer uma ejeção de massa coronal, uma expulsão de plasma e material magnético. O fluxo foi direcionado para a Terra e chegou por volta de 2 de fevereiro, provocando alguns avistamentos de auroras no Norte dos Estados Unidos. “Essa é a tempestade solar que prevíamos que atingiria. Chegou bem na hora”, disse Tamitha Skov, cientista pesquisadora da Aerospace Corp.

As tempestades geomagnéticas são classificadas em uma escala de G1 a G5 pela NOAA, mas Skov disse que essa tempestade foi registrada como “apenas condições ativas”, nem mesmo atingindo o nível mais baixo de tempestade G1. “Vemos muitas tempestades como esta. Elas acontecem literalmente uma vez por semana.”

No entanto, outra tempestade solar estava à espreita por trás desta, e pegou os cientistas de surpresa. “Tivemos essencialmente uma observação que estava na linha de visão, o que significa que olhamos da Terra para o Sol e víamos a estrutura que está vindo em nossa direção”, disse Skov. “Mas se houver outras coisas escondidas dentro dessa estrutura ou logo atrás dela, é muito difícil retirá-las ou discernir”.

Quando a SpaceX lançou seus satélites em 3 de fevereiro, a segunda tempestade estava aumentando. A tempestade foi classificada como G1, mais forte que a primeira, mas ainda relativamente fraca. Skov disse que os efeitos das duas tempestades sucessivas, no entanto, fizeram com que a atmosfera da Terra inflasse.

Spann disse que a NASA e a NOAA ainda estão analisando dados e trabalhando para ter uma compreensão completa do evento, mas ele também destacou que pode ter havido um pouco de acúmulo desde o primeiro evento que ajudou a preparar o ambiente no momento em que a tempestade G1 chegou.

A SpaceX afirmou em comunicado à imprensa que as tempestades causaram o aquecimento da atmosfera e aumentaram a densidade atmosférica nas altitudes em que a atividade da tempestade magnética estava ocorrendo.

“As tempestades geomagnéticas, quando a energia do Sol entra no ambiente do campo magnético da Terra, muda a atmosfera superior, a densidade disso muda”, disse Elizabeth MacDonald, física do tempo espacial da NASA. “Quando muitas partículas estão entrando na atmosfera, isso pode causar um aumento no arrasto, afetando os satélites”, enfatizou.