AEMET/Divulgação

Quem mora em Porto Alegre, Curitiba ou São Paulo assim como em centenas de municípios do Centro-Sul do Brasil está acostumado a experimentar durante os meses frios do ano os efeitos de um fenômeno conhecido como inversão térmica. Com avanço de ar mais quente sobre camadas frias perto da superfície o fenômeno da inversão costuma trazer nevoeiro. Na cidade de São Paulo, a inversão térmica gera aquela camada escura carregada de poluentes sobre a cidade em dias de tempo aberto.

O fenômeno da inversão térmica está presente também em erupções vulcânicas e foi objeto de um incrível registro visual compartilhado pelo serviço meteorológico nacional da Espanha (Aemet) na erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, nas Ilhas Canárias.

O vídeo, que encantou e impressionou pela sua nitidez os cientistas, mostra com perfeição a interação da pluma de gases e cinzas da coluna eruptiva que deixa o vulcão com a camada de inversão térmica em nível superior da atmosfera por onde transita a poeira vinda do deserto do Saara.

A inversão força os gases e as cinzas que se deslocavam verticalmente a um movimento horizontal a partir de 5.300 m de altitude. Então, ao encontrar a camada de inversão, a coluna de ar que ascendia e tinha a temperatura diminuindo à medida que subia na atmosfera se aquece abruptamente ao encontrar ar mais quente e deixa de se elevar e passa a se mover horizontalmente. A camada de inversão aparece visível no perfil vertical da atmosfera da sondagem,

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O vulcão, ademais, emite pulsos de diferentes intensidades que causam as ondas de gravidade, o que explicamos é como jogar uma pedra em um lago. Estas ondas também apareceram em incríveis imagens de satélite de ontem com padrões circulares concêntricos ao redor da erupção pela ausência de vento em combinação com a coluna crescente de cinzas e ar quente da erupção. A imagem também mostra um padrão climático típico para a ilha.

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Os ventos alísios normais causaram uma parede de nuvens a Leste de La Palma, deixando o lado Oeste da ilha livre de nuvens. Acima de uma primeira camada de inversão, localizada entre 600 metros e 800 metros de altitude, há uma corrente de vento Sudeste do Saara, carregando poeira extra (além das cinzas do vulcão) conhecida como “Calima”, que é novamente confinada por uma segunda camada de inversão em maior altitude.

A nuvem de dióxido de enxofre do vulcão La Palma, somada à poeira do deserto do Saara, atingiu a ilha caribenha de Porto Rico, depois de atravessar todo o Atlântico e causar uma deterioração na qualidade do ar. É o que mostram as imagens de satélite do Sistema Copernicus. Até ontem, o vulcão de La Palma tinha emitido, segundo estimativas, cerca de 16 mil toneladas de dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera. Na noite de ontem, o colapso de parte do cone vulcânico provocou um aumento do fluxo de lava. Mais de 1.000 edifícios foram destruídos e mais de 750 hectares foram cobertos até o momento pela lava. O vulcão emitiu mais de 80 milhões de metros cúbicos de magma em seus mais de 15 dias de erupção.