MARCO BERTORELLO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A erupção do vulcão Cumbre Vieja, em La Palma, segue produzindo histórias incríveis. Depois da chamada Casa Milagres que foi poupada pelos rios de lava que desviaram da construção, agora a história de milhares de abelhas que foram resgatadas com vidas após passarem 50 dias soterradas por uma camada de cinzas vulcânicas a apenas 600 metros do centro da erupção.

O resgate das milhares de abelhas foi conduzido por um apicultor e a polícia local com apoio da Unidade de Emergência Militar (UME) e da Guarda Civil. Três colmeias visíveis haviam caído e outras três foram enterradas sob as cinzas. Agentes cavaram para localizá-las e resgatá-las. Cada colmeia pode ter entre 30.000 e 40.000 abelhas na primavera. Por outro lado, quando há menos flores, existem entre 20.000 e 25.000 abelhas.

Elías González, presidente da Agrupación de Defensa Sanitaria (ADS) Apicultores de La Palma, acredita que as abelhas sobreviveram porque o material vulcânico que se deposita na área menos denso teria permitido a passagem do ar. Observou ainda que as colmeias possivelmente tinham “reserva de comida”.

Alguma das abelhas salvas em locais mais próximos ao cone principal do vulcão sobreviveram a condições extremas, informou a imprensa espanhola. Para isso criaram uma camada de própolis, um material resinoso com o qual cobriram todas as fissuras e deixaram pouco espaço para entrar e sair. Mesmo com a lava, as abelhas jamais abandonaram as colmeias porque havia crias em seu interior.

Erupção subiu de magnitude

A magnitude da erupção do vulcão Cumbre Vieja, em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, subiu ontem de VEI-2 para VEI-3. A decisão foi comunicada pelo comitê científico do organismo de previsão e monitoramento de vulcões Involcan. De acordo com o órgão, o aumento da magnitude não supõe uma explosão maior do vulcão.

A decisão de subir o índice de explosividade da erupção ocorreu após a constatação que 10 milhões de metros cúbicos de material piroclástico já foram emitidos. Os cientistas espanhóis enfatizaram ainda que não há alteração nas características explosivas da erupção que permanecem as mesmas desde o dia 19 de setembro, quando teve início a crise vulcânica. A atividade varia a cada dia e aumentou desde ontem após uma sexta-feira com menor emissão de cinzas e piroclastos.

Neste momento, há três fluxos ativos de lava percorrendo a parte mais ao Sul da ilha de La Palma. O que mais cresce avançou 130 metros entre ontem e a manhã deste sábado. De acordo com os últimos dados, a área coberta por lava chega a 1.050 hectares.

Em vulcanologia, existe uma escala conhecida como Índice de Explosividade Vulcânica (IEV-VEI), que é um indicador do tamanho e da explosividade das erupções. Ele registra a quantidade (volume) de material que um vulcão expele e a altura da nuvem de erupção. A escala IEV-VEI varia de 0 a 8, mas é logarítmica, o que com efeito significa que um aumento de 1 na escala representa uma explosão 10 vezes mais potente.

A erupção do Cumbre Vieja

A erupção é a primeira em La Palma desde outubro de 1971, quando o vulcão Teneguia expeliu lava durante três semanas. La Palma, com 85 mil habitantes, é uma das oito ilhas do Arquipélago das Canárias. No seu ponto mais próximo com a África, dista 100 quilômetros do Marrocos. As Canárias estão a 460 quilômetros da ilha da Madeira, em Portugal, e a 1.428 quilômetros da Ilha do Sal, em Cabo Verde.

A atividade vulcânica na parte Sul da ilha de La Palma já dura pelo menos 125.000 anos e formou o vulcão conhecido como Cumbre Vieja, ou também simplesmente como Dorsal Sur. Apesar de serem estruturas diferentes, o Cumbre Vieja pode fazer parte do vulcão Taburiente. O Cumbre Vieja entrou em erupção em 1971, 1949, 1712, 1677, 1646 e 1585.

É o vulcão mais ativo das Ilhas Canárias. As erupções ocorreram em intervalos de 20-60 anos. Exceção foi a notável dormência de 237 anos entre 1712 e 1949. Cientistas especulam que a enorme erupção de seis anos na vizinha Ilha de Lanzarote, em 1730, induziu a longa dormência em Cumbre Vieja de mais de dois séculos até 1949.