Pessoas cobrem a cabeça para se proteger do sol enquanto passam pelo lago Serpentine em Hyde Park, Oeste de Londres, neste 19 de julho de 2022 que é o dia mais quente da história da capital inglesa e do Reino Unido com máximas pela primeira vez acima de 40ºC | NIKLAS HALLE’N/AFP/METSUL METEOROLOGIA

O 19 de julho de 2022 entra para a história climática do Reino Unido com o dia mais quente da sua história. O Met Office, serviço oficial meteorológico britânico, confirmou que a temperatura passou pela primeira vez desde o começo dos registros da marca de 40ºC, o que pode parecer um fato corriqueiro para o brasileiro acostumado a ver temperatura neste patamar, mas é um evento extraordinário e sem precedentes em mais de 300 anos de observações meteorológicas paras os ingleses.

O Met Office informou que às 12h50, hora local, a temperatura atingiu 40,2ºC na estação do Aeroporto Internacional de Heathrow, em Londres. Várias outras estações no horário estavam já com marcas de 38,8ºC ou superiores, superando o que era até então a maior temperatura máxima da história do Reino Unido, de 38,7ºC em 29 de julho de 2019, em Cambridge. O dia de calor recorde se segue ao que foi a noite mais quente já vista no Reino Unido com recordes de temperatura mínima alta, dizimando o histórico de tempo quente do passado.

As marcas de hoje no Reino Unido em meio à brutal onda de calor na Europa com centenas de recordes são notáveis pelo longuíssimo histórico de registros no país. A Inglaterra possui a série histórica de temperatura mais antiga do mundo com dados de mais de 300 anos. São observações e instrumentos funcionando desde a Era do Iluminismo, incluindo registros diários arquivados desde 1770 e máximos e mínimos mensais que datam de 1660. A esmagadora maioria dos países do mundo somente possui dados regulares a partir do século 20.

Gráfico mostra como o calor de hoje foge absurdaente ao normal na Inglaterra e no País de Gales | SIMON LEE/UNIVERSIDADE DE COLUMBIA

“Estamos absolutamente confiantes de que não registramos um dia de 40°C desde meados da década de 1850”, disse ao jornal Washington Post Mark McCarthy, gerente do Centro Nacional de Informações Climáticas do Met Office, referindo-se ao início das observações pelo órgão meteorológico oficial britânico.  Alexander Farnsworth, paleoclimatologista da Universidade de Bristol, foi mais longe. “Não há evidências diretas de que o Reino Unido tenha ultrapassado 40°C nos últimos 6.000 anos”, disse ele ao The Post.

Para ir fundo na pré-história, antes dos dados dos instrumentos, os cientistas devem confiar em proxies que informam as temperaturas médias por longos períodos de tempo, olhando para lagos e sedimentos marinhos, núcleos de gelo, corais, glaciação, insetos em pântanos, anéis de árvores e outros, para estimar o clima passado.

Nos últimos 2.000 anos, o Reino Unido teve aquecimento no Período Quente Medieval, entre 750 e 1350, mas provavelmente não tão quente quanto no final do século 20 e início deste século 21, dizem a maioria dos cientistas. O Domesday Book medieval, concluído em 1086 como uma espécie de censo, contava 45 vinhedos na Grã-Bretanha com o clima mais quente da época. Depois houve a Pequena Idade do Gelo, de 1300 a 1850, quando o Hemisfério Norte esfriou novamente. Esse aquecimento e resfriamento não foi causado pelas emissões humanas de gases de efeito estufa, como hoje.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, representando o consenso oficial de cientistas mundiais, informou em 2021 que, em geral, e em média, a Terra está agora mais quente do que em 125.000 anos. Nove dos dez dias mais quentes da história do Reino Unido ocorreram desde 1990. O ranking tem 40,2ºC (provisório de 19/7/2022), 38,7ºC (28/7/2019); 38,5ºC (10/8/2003); 38,1ºC (18/7/2022); 37,8ºC (31/7/2020); 37,1ºC (3/8/1990); 36,7ºC (1/7/2015); 36,7ºC (9/8/2011); 36.6ºC (2/8/1990); e 36,5ºC (19/7/2006).