Pessoas se refrescam numa fonte em Nantes, na França, com marcas acima de 42ºC. Quinze departamentos, principalmente no lado Oeste da França, estão sob “vigilância vermelha” pela onda de calor que atinge o país e deve ter seu pico nesta terça-feira. | LOIC VENANCE/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Centenas de recordes absolutos de temperatura máxima caíram nesta segunda-feira na Europa pela extraordinária onda de calor que afeta há mais de uma semana a parte ocidental do continente. Alguns recordes foram dizimados pelas grandes margens em relação às marcas absolutas anteriores. As marcas mais expressivas ocorreram nesta segunda-feira na Inglaterra, Escócia, País de Gales e França com uma enormidade de recordes estabelecidos para o mês de julho e toda a série histórica. O pior, contud0, está previsto para esta terça com marcas muito mais altas com a bolha de calor entre o Reino Unido e a França.

Os incêndios prosseguem devido ao tempo seco e quente na França, Espanha e em Portugal. A onda de calor é a segunda registrada em menos de um mês na Europa, que está no auge da temporada turística de verão. Para cientistas, a multiplicação desses fenômenos é consequência direta das mudanças climáticas.

Para enfrentar a segunda-feira de calor “mais quente que o Saara”, como descreveu erroneamente o tabloide sensacionalista The Sun, alguns moradores da Inglaterra e visitantes desfrutaram de um dia de praia em Tankerton, cerca de 80 quilômetros a Leste de Londres. “Sim, gostamos, mas estamos preocupados com os efeitos. Por isso, tentamos ser sensatos, nos hidratar muito e ficar na sombra”, comentou Ceri Sherlock num das praias locais.

As autoridades britânicas decretaram o nível de máximo de alerta, o 4, devido ao risco que até mesmo pessoas jovens e saudáveis correm. É aconselhável se hidratar, evitar se expor ao sol e monitorar pessoas vulneráveis. As escolas de diversas partes da Inglaterra permaneceram fechadas e, diante de possíveis perturbações pelo calor, várias empresas de trens pediram que os usuários evitassem as viagens. O calor na pista obrigou a suspensão do trânsito no aeroporto londrino de Luton.

Holanda, que registrou hoje o dia mais quente do ano, e Bélgica decretaram “alerta laranja” para esta terça, estimando temperaturas próximas aos 40°C, mas sem expectativa de recordes de calor. Na Espanha, onde mais de 360 pessoas perderam a vida pelas altas temperaturas, espera-se que esta segunda tenha sido o último dia com até 42°C em regiões do Norte, como o País Basco e Navarra, segundo a agência de meteorologia Aemet.

Os incêndios registrados na Espanha também provocaram a morte na província de Zamora, anunciaram as autoridades locais nesta segunda-feira. No domingo, um bombeiro perdeu a vida na mesma região. Segundo o presidente de governo da Espanha, Pedro Sánchez, as chamas arrasaram 70.000 hectares desde o início do ano, “quase o dobro da média da última década”.

Bombeiro caminha entre chamas em um incêndio florestal perto de Louchats, a cerca de 35 km de Landiras em Gironde, Sudoeste da França, nesta segunda-feira. O fogo já devastou mais de 15.000 hectares de florestas desde seu início em 12 de julho em meio a uma histórica onda de calor. | PHILLIPE LOPEZ/POOL/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Jovens pulam no mar em Brighton, Sul da Inglaterra, para se refrescar do calor que atinge níveis raros no Reino Unido e pode atingir 40ºC pela primeira vez nesta terça-feira | DANIEL LEAL/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma mulher se refresca mergulhando os pés na fonte da Trafalgar Square, no centro de Londres, nesta segunda-feira, enquanto o país passa por uma onda de calor extrema. A Grã-Bretanha pode atingir 40ºC pela primeira vez com forte impacto em um país despreparado para calor extremo que as autoridades disseram estar colocando vidas em risco. | NIKLAS HALLE’N/AFP/METSUL METEOROLOGIA 

Os bombeiros estão há dias tentando apagar uma série de incêndios. Em Portugal, cerca de 800 bombeiros continuavam lutando hoje contra quatro incêndios ativos no Centro e no Norte do país, mas a Defesa Civil estimou que a situação era favorável graças à queda da temperatura. Após bater na quinta-feira seu recorde de temperatura para um mês de julho, com 47 °C, Portugal teve uma segunda-feira mais amena, colocando fim a uma onda de calor de mais de uma semana. Em 10 dias, as chamas causaram a morte de duas pessoas.

Na França, dois grandes incêndios queimaram há uma semana 14.000 hectares de vegetação no Sudoeste do país, próximo a Bordeaux, e forçaram a retirada de mais de 10.000 pessoas nesta segunda-feira. “Vou para a casa da minha filha, mas se [as chamas] também se propagarem por lá, não saberei o que fazer”, disse à AFP Patricia Monteil, enquanto carregava seu veículo em um bairro da localidade turística localidade de La Teste-de-Buch (Sudoeste).

Recordes na França

A França registrou hoje o “dia mais quente” da onda atual, que marcou vários recordes de temperatura em localidades do Oeste como Brest (39,3°C) e Nantes (42°C), informou o serviço de meteorologia Météo-France. Ao menos 104 estações meteorológicas na França anotaram só hoje recordes absolutos de temperatura máxima.

Recordes na Inglaterra

Do outro lado do Canal da Mancha, o Reino Unido também se prepara para recordes de calor. O termômetro pode superar os 40°C nesta terça-feira pela primeira vez em sua história. O atual recorde é de 38,7°C, registrado em 25 de julho de 2019. Hoje foi registrada a terceira mais alta temperatura até hoje no Reino Unido com 38,1ºC em Santon Downham. Em destaque, estação em Oxford com mais de 200 anos que anotou recorde de máxima.

Nove dos dez dias mais quentes da história do Reino Unido ocorreram desde 1990. O ranking tem 38,7ºC (28/7/2019); 38,5ºC (10/8/2003); 38,1ºC (18/7/2022); 37,8ºC (31/7/2020); 37,1ºC (3/8/1990); 36,7ºC (1/7/2015); 36,7ºC (9/8/2011); 36.6ºC (2/8/1990); 36,5ºC (19/7/2006); e 36,4 ºC (7/8/2020).

Recordes no País de Gales

Nesta segunda, o País de Gales – uma das quatro nações do Reino Unido – registrou a maior máxima da sua história. Gogerddan chegou a 35,3°C, superando o recorde anterior que era de 35,2°C, registrado em Hawarden Bridge, Flintshire, em 2 de agosto de 1990.

Recordes na Irlanda

A Irlanda teve hoje o dia mais quente desde 1887 no país. Vários recordes foram quebrados provisoriamente em várias estações meteorológicas da Met Éireann. A estação meteorológica de Phoenix Park atingiu vários marcos, registrando provisoriamente sua temperatura mais alta desde que os dados foram registrados pela primeira vez com 33,1°C, 0,2°C abaixo do recorde histórico de 33,3°C observado no Castelo de Kilkenny em 26 de junho de 1887.

A marca de hoje, assim, é mais alta que qualquer uma neste século e em todo o século 20 na Irlanda. Foi o dia mais quente em julho em 150 anos de observações na Irlanda, recorde mensal. Dublin teve recorde de máxima com 33,0ºC. Recorde anterior em Dublin era de 31,6ºC na onda de calor de 2006.