O novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU, foi publicado nesta semana com ênfase na mitigação. O trabalho oferece um caminho sobre o que precisa ser feito para evitar alguns dos piores impactos do aquecimento global. “É agora ou nunca”, disse professor Jim Skea quando apresentou as conclusões do terceiro grupo de trabalho que contribui para o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC.
O grupo de trabalho revisou a melhor ciência existente de estratégias de mitigação e compartilhou duas mensagens principais. Primeiro, a urgência. As emissões de gases do efeito estufa precisam ser reduzidas pela metade até 2030 se há pretensão de evitar que a meta de 1,5ºC de aquecimento em relação ao período pré-industrial estabelecida no Acordo de Paris de 2015 seja frustrada.
Segundo, é possível pelas soluções já existentes em todos os setores da sociedade. As principais conclusões do relatório preocupam, mas nem tudo que está nele é pessimismo, embora pouco factível. O relatório estabelece que as emissões globais de dióxido de carbono teriam que atingir o pico até 2025, mas já estamos em 2022 e há poucas evidências que isso possa ser alcançado.
Não apenas isso, as emissões teriam que ser cortadas entre 30% e 40% até 2030, o que também é pouco factível. Ou seja, conforme o IPCC, o mundo tem apenas três anos para atingir o pico de emissões e oito anos para manter as emissões sob controle suficiente para cumprir as metas de Paris.
Ainda segundo o painel da ONU, o mundo está tão longe das metas de Paris que o caminho atual nos levaria a um aquecimento de cerca de 3,2°C acima dos níveis pré-industriais, o que seria catastrófico. As emissões de CO2 No período de 2000-2019 foram classificadas como as mais altas da história da humanidade, segundo o relatório.
A solução para o IPCC? Uso maciço de tecnologias de eficiência e energia limpa. Para isso, o relatório cita quedas dramáticas de custos em tecnologia solar, eólica e de bateria, por exemplo. Os investimentos em combustíveis fósseis são uma passagem só de ida para ativos ociosos (o que significa que os ativos de combustíveis fósseis seriam inutilizáveis). Cerca de 30% do petróleo, 50% do gás e 80% das reservas de carvão seriam inutilizáveis se o aquecimento fosse limitado a 2ºC, afirma o relatório.
Curiosamente, o relatório descobre que o valor dos ativos de combustíveis fósseis ociosos pode chegar a US$ 4 trilhões até 2050 em um mundo que aquece 2°C acima dos níveis pré-industriais, mas maior se o aquecimento for limitado a 1,5°C. Isso pode representar um perigo para a estabilidade financeira, observa o relatório.
O relatório recomenda projetar cidades mais compactas e transitáveis com amplos sistemas de transporte público, de preferência alimentados com fontes de energia de baixo carbono. Parques, espaços verdes e superfícies permeáveis também podem ser instalados em áreas urbanas para aumentar a absorção de carbono. Construção e design sustentáveis, eficiência energética aprimorada e políticas de energia renovável podem reduzir as emissões globais de edifícios em até 61% até 2050.
O setor industrial, responsável por cerca de 40% do total de emissões em 2019, será mais difícil de descarbonizar. As possíveis soluções incluem novos processos de produção, como o uso de hidrogênio no processo siderúrgico. Alguns processos industriais, como a produção de cimento, podem precisar ser substituídos por alternativas mais sustentáveis até que processos de baixo carbono sejam desenvolvidos.
A agricultura, a silvicultura e outras indústrias de uso da terra podem gerar emissões de gases de efeito estufa em larga escala, mas o relatório enfatiza que elas não podem substituir a ação em outros setores. Grandes quantidades de carbono podem ser armazenadas usando recursos naturais de forma mais sustentável. O remédio mais eficaz envolve a redução do desmatamento em áreas tropicais, juntamente com uma melhor conservação, redução do desperdício de alimentos, restauração e muito mais.
O documento concluiu que as temperaturas se estabilizarão quando as emissões atingirem o chamado zero líquido. O que é isso? É quando todas as emissões de gases de efeito estufa que ainda forem causadas pelo homem alcançarem equilíbrio com a remoção de gases da atmosfera. Atingir isso pra reduzir as temperaturas a partir daí exigirá o uso de tecnologias de remoção de dióxido de carbono da atmosfera potencialmente arriscadas. Ou seja, o problema é perigoso e a solução arriscada.