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O Brasil corre o risco de neste final de ano e no começo de 2022 ver uma repetição das cenas de desastre por chuva como as recentes no estado da Bahia e no Norte de Minas Gerais, onde precipitações de até 500 mm inundaram cidades inteiras e deixaram um saldo de mortos e destruição. Os volumes de chuva que prevê para parte do território brasileiro nos próximos 15 dias são extremamente altos e capazes de gerar situações de emergência e calamidade em algumas áreas do país.

Nesta virada de ano, o canal de umidade principal da América do Sul vai estar deslocado mais ao Norte que sua posição tradicional. O eixo tradicional do corredor de umidade nesta época do ano é orientado do Norte para o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil. Nas próximas duas semanas, ao contrário, atuará no Norte, mais ao Norte do Centro-Oeste e do Sudeste e em parte da Região Nordeste.

Com isso, os volumes de chuva nos próximos 15 dias devem ser excessivamente altos nos estados do Amazonas, Pará, Norte do Mato Grosso, Tocantins, Centro e Norte de Goiás, Maranhão, parte do Piauí, Centro e Norte de Minas Gerais, parte do Espírito Santo e Oeste e o Sul da Bahia. Os mapas abaixo mostram a projeção de chuva para os próximos 15 dias em todo o Brasil e no Centro-Sul do país, de acordo com a rodada da 0Z de hoje do modelo norte-americano GFS da NOAA.

O modelo alemão Icon, que tem projeções para apenas até sete dias, indica igualmente que deve chover excessivamente em partes do Norte de Minas Gerais, Oeste e o Sul da Bahia, Goiás e Tocantins com acumulados somente até o começo da próxima semana superiores a 250 mm ou 300 mm em alguns pontos.

Todos estes mapas e outros de diversos modelos de precipitação podem ser acessados a qualquer hora com até quatro atualizações diárias pelo assinante em nosso site na seção de mapas e gráficos da página.

Há consenso entre todas as simulações computorizadas sobre os altos a excessivos volumes de chuva nas regiões informadas na soma dos volumes deste fim de ano e do começo de 2022. O modelo europeu, por exemplo, aponta a possibilidade em sua saída de 0Z de hoje de chuva com volumes perto ou acima de 500 mm nos próximos 15 dias em Tocantins e do Norte de Goiás assim como 200 mm a 400 mm no Oeste e no Sul da Bahia.

Assim, regiões que foram duramente castigadas pela chuva extrema do começo deste mês no Norte e no Nordeste mineiro e ainda na Bahia devem ter mais uma vez muita chuva durante os próximos 15 dias com acumulados novamente localmente extremos. Com o solo saturado de umidade pelo recente episódio de precipitação extrema, rios com níveis ainda acima da média e muitas pessoas que ainda sofrem os efeitos do desastre do começo de dezembro, o cenário que se esboça é muito preocupante.

O fato de o canal de umidade estar mais deslocado para Norte do que a sua posição habitual vai significar chuva abaixo da média desta época do ano nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Não vai deixar de chover, entretanto na maioria das áreas dos dois estados os acumulados no período ficarão abaixo do que é comum para o fim de dezembro e o começo de janeiro. Volumes altos ocorrerão em pontos isolados acompanhando temporais localizados que trazem chuva intensa em curto período.

Se o que os modelos estão a apontar para áreas mais ao Norte do Centro-Oeste e do Sudeste, e ainda parte do Nordeste, estivesse projetado para áreas mais ao Sul o risco de desastres por chuva neste fim de ano seria ainda maior. Isso porque o relevo é muito mais acidentado e há uma ocupação de áreas de risco (encostas) com densidade populacional muito maior em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No caso do Sul do Brasil, com o fluxo de umidade da Amazônia direcionado para áreas mais ao Norte do território brasileiro, a chuva será muito irregular no período. O Oeste dos três estados do Sul, em particular, deve ter precipitações mais escassas e ainda com calor muito intenso que acelerará ainda mais a perda de umidade do solo. Sem precipitações abundantes e generalizadas, a perspectiva é de agravamento da estiagem na parte meridional do Brasil com aumento das perdas nos milhos e dificuldades na evolução da safra de soja.