Forte tempestade solar deste fim de semana deve provocar um show de luzes no céu em áreas mais ao Norte e Sul do planeta | Thomas Pesquet/ESA/NASA/Arquivo

Uma forte tempestade geomagnética de classe G3 é antecipada para amanhã, quando uma ejeção de massa coronal (EMC) resultante da explosão do tipo X1 de ontem no Sol deve atingir o campo magnético da Terra.

Essas tempestades podem desencadear auroras a olho nu tão ao Sul quanto os estados de Illinois e Oregon, nos Estados Unidos e poderão ser registradas por fotógrafos até em latitudes ainda menores na América do Norte.

A tempestade solar pode seguir no domingo de Halloween, mais moderada e com classes G1 e G2, à medida que a Terra vai estar passando pelo rastro da ejeção de massa coronal.

O melhor período de observação das auroras na Antártida (aurora austral) e no Hemisfério Norte (aurora boreal) será, assim, na noite de sábado para domingo. Os observadores torcem por um show de luzes como de dias atrás e que proporcionou imagens incríveis.

A EMC foi lançada ao espaço ontem após uma explosão do tipo X na mancha solar AR2887 que no momento da liberação da ejeção estava voltada diretamente para a Terra.

Por isso, é alta a probabilidade de uma tempestade solar mais forte neste fim de semana. A sonda SOHO da NASA registrou a ejeção de massa coronal deixando o Sol a mais de 1260 quilômetros por segundo.

As imagens da SOHO acusaram grande quantidade de prótons em direção à Terra e alcançaram nosso planeta ontem apenas uma hora depois de terem sido liberados pelo Sol. Já a ejeção de massa coronal que trará a tempestade solar leva mais de dois dias para cruzar todo o espaço entre o Sol a Terra.

As explosões solares do tipo X, como de ontem, são as mais fortes de erupção solar. Em regra, causam os blecautes de rádio mais intensos e as tempestades geomagnéticas mais fortes, que geram auroras e podem afetar o setor elétrico. A explosão X 1.5 de ontem não apenas foi a primeira do tipo X do atual ciclo solar recém iniciado como foi a primeira desde setembro de 2017.

No ciclo solar anterior (ciclo solar 24), o Sol produziu 49 explosões do tipo X e os prognosticadores do tempo espacial acreditam que o atual ciclo pode ser tão ou mais ativo que o último, logo a explosão de ontem deve se repetir muitas vezes com maior frequência em torno de 2024 e 2025, para quando se prevê o pico do atual ciclo de onze anos.

Quais impactos para nós de uma tempestade solar?

A esmagadora maioria das explosões solares não tem qualquer efeito em nossas vidas. As tempestades solares, diferentemente das tempestades de tempo terrestre que trazem vento, chuva, granizo e raios, costumam ser mais percebidas nas regiões polares com efeitos nos sinais de rádio utilizado por radioamadores, navios e aviões, sem mencionar as auroras austral (Sul) e boreal (Norte).

O que às vezes uma tempestade geomagnética mais forte pode alterar em nossas vidas de forma mais comum é impacto no sinal de televisão. Quando há tempestade geomagnética de maior potência, é comum haver interferência nos sinais de televisão que são transmitidos por satélite. Por isso, muitas vezes no passado quem tem televisão por assinatura já viu um aviso na tela de oscilação de sinal em razão de atividade solar.

Os casos mais extremos, e raros, podem ter um impacto maior na vida das pessoas, além de perigo para astronautas no espaço pela exposição à radiação solar. Quando se produz uma explosão do tipo X muito poderosa é alto o risco de que haja efeitos sobre o sistema elétrico na Terra.

O risco de impacto em nosso planeta aumenta se a explosão solar se der numa mancha na superfície solar que estiver voltada ou quase voltada no ângulo do nosso planeta, uma vez que a ejeção de massa coronal resultante da explosão estará diretamente voltada para a Terra.

Um exemplo clássico de impacto de tempo espacial por atividade solar é a tempestade forte a severa geomagnética de 1989. Uma explosão solar X15 (a de ontem foi 1.0) no dia 6 de março gerou uma ejeção de massa coronal voltada para Terra e isso causou uma enorme tempestade em nossa ionosfera três dias depois.

Neste episódio marcante de 1989, auroras, incrivelmente, puderam ser vistas nos estados da Flórida e do Texas, no Sul dos Estados Unidos. Muitos satélites perderam o controle por horas e o mais importante em previsão do tempo, o GOES, deixou de gerar imagens. Transmissões de emissoras de rádio por ondas curtas foram muito afetadas.

O fato grave, porém, ocorreu no Canadá. A tempestade solar de 9 de março de 1989 causou um enorme blecaute na província canadense de Quebec. A característica do solo rochoso da região, que evitou que a corrente fosse para a terra, e as longas linhas de transmissão colaboraram para uma falha maciça do sistema elétrico que deixou milhões de pessoas sem luz por nove horas.

O fato fez com que a indústria elétrica nos Estados Unidos e na Europa adotasse uma série de medidas preventivas para este tipo de evento como programas de redução de risco associados a correntes induzidas geomagneticamente.

Os tipos de explosão no Sol 

Assim como em fenômenos na Terra temos diferentes escalas para definir os fenômenos e sua intensidade (Richter para terremotos, Saffir-Simpson para furacões ou Fujita para tornados), as explosões solares também possuem uma escala que é baseada em letras e números.

As mais fracas são do tipo A enquanto as de classe B são consideradas fracas. Já explosões solares do tipo C são pequenas, mas já podem causar um impacto menor na Terra, notadamente favorecendo auroras nos polos. As explosões de classe M, por sua vez, são consideradas de média intensidade e podem interferir nas transmissões de rádio.

Por fim, as explosões de tipo X são as mais intensas e longas, podendo causar até efeitos grandes na vida terrestre se violentas. A mais forte explosão solar já documentada ocorreu em 4 de novembro de 2003 e foi uma X28 e afetou diversos satélites à época.

A ejeção de massa coronal associada à explosão de 2003 deixou o Sol a uma velocidade de 2.300 quilômetros por segundo ou 8,2 milhões de quilômetros por hora. Somente parte da ejeção de massa coronal foi dirigida para a Terra, o que fez com que, por sorte, as consequências não fossem maiores em nosso planeta.