A semana que começa oferece elevados riscos por chuva excessiva em três regiões do Brasil: Sul, Sudeste e Nordeste. Modelos numéricos projetam acumulados de precipitação por demais elevados e que em algumas localidades podem atingir 300 mm a 500 mm em poucos dias ao longo desta semana com vários transtornos e perigo à população.
A situação meteorológica tem alguma complexidade e explica o quadro previsto de chuva com volumes excessivos a extremos em diversos estados. A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), uma condição típica do verão, está configurada entre o Norte do Brasil, parte da região Centro-Oeste, o Norte de Minas Gerais, parte da Bahia e o Espírito Santo.
A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é conhecida por uma faixa de nebulosidade que atravessa o Brasil. Este corredor de umidade, um verdadeiro rio atmosférico, tem uma orientação climatológica típica de Noroeste para Sudeste, estendendo-se da região da Amazônica até o litoral da Região Sudeste. Em alguns casos, especialmente durante o verão, a orientação da ZCAS chega a levar a faixa de maior instabilidade até os litorais do Paraná e de Santa Catarina.
Os eventos de ZCAS são sazonais. São comuns entre os meses de novembro e março, ou seja, é um fenômeno típico de estação quente e podem durar até dez dias consecutivos, causando grandes volumes de precipitação nas áreas de atuação. Tais eventos podem ser iniciados com a participação de frentes frias, que atravessam o Sul do Brasil e que ao chegarem na Região Sudeste passam a gerar convergência de umidade da região amazônica até o Oceano Atlântico.
No cenário atual, observa-se ainda a atuação de um cavado, que nada mais é que uma área alongada de menor pressão atmosférica, presente neste momento entre o estado de São Paulo e o Oceano Atlântico. Também no Atlântico Sul, há um grande centro de alta pressão a Leste da Argentina, do Uruguai e Rio Grande do Sul que contribui para o aporte de umidade do mar para o continente entre os litorais do Sul e do Sudeste do Brasil.
É este fluxo de umidade do oceano para o continente que, ao interagir com o relevo da Serra do Mar, acaba por gerar chuva de natureza orográfica com altos volumes, especialmente entre os litorais de Santa Catarina e do Paraná, no caso das condições previstas para esta semana.
Umidade que vem do oceano, trazida por vento do quadrante Sul a Leste, em razão de uma massa de ar frio na costa ao encontrar a barreira do relevo da Serra ascende na atmosfera e encontra temperatura mais baixa. Isso leva à condensação e à ocorrência de chuva induzida pelo relevo, portanto de natureza orográfica.
Episódios de chuva orográfica são de alto risco porque costumam trazer acumulados de precipitação localmente muito altos e que não raro até acabam superando as projeções dos modelos numéricos. Os litorais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro são os de maior risco de eventos de chuva extrema de natureza orográfica no Brasil com um histórico longo de situações de desastre por este tipo de precipitação.
Chuva em Santa Catarina e no Paraná
A chuva acumulada em apenas 48 horas até a manhã deste domingo atingia 100 mm a 200 mm em diversos pontos do Leste e do Nordeste de Santa Catarina, incluindo localidades mais a Oeste da Grande Florianópolis. Os volumes mais extremos atingiam o Nordeste catarinense com registros, por exemplo, de até 220 mm em Schroeder e 150 mm em Joinville.
Trata-se de um cenário muito preocupante o que se desenha para esta semana. Recém está no seu começo o evento de chuva excessiva, que vai se estender pelo começo de dezembro, e já há localidades com acumulados de 200 mm no Nordeste de Santa Catarina. A preocupação é muito alta porque ainda tem muita chuva por cair nesta semana e no começo de dezembro. O mapa abaixo mostra a projeção de chuva para dez dias, até 6 de dezembro, do total de chuva projetado pelo modelo canadense.
Conforme a rodada da 0Z deste domingo, este modelo do serviço meteorológico do Canadá projeta para os próximos dez dias 514 mm para Joinville, 462 mm para Schroeder, 448 mm para Florianópolis, 437 mm para Itajaí, 394 mm para Blumenau, 359 mm para São Francisco do Sul, 358 mm para Balneário Camboriú, 309 mm em Rio do Sul, 229 mm para Tubarão e 174 mm para Criciúma.
O evento de chuva extrema não é generalizado em Santa Catarina e deve afetar apenas parte do território catarinense. A tendência é de a chuva mais volumosa vir a se concentrar no Leste e no Nordeste catarinense, mas, em particular, em área mais a Nordeste do estado, em pontos entre a Grande Florianópolis e a divisa com o Paraná. O Sul de Santa Catarina, embora deva receber menos chuva que o Nordeste do estado, também exige atenção porque se espera chuva volumosa na região e que pode se estender à área de Torres (RS).
Na área de Florianópolis e da Grande Florianópolis, a chuva não apenas será volumosa como tende a ser persistente, com períodos de precipitações fortes a torrenciais. Modelos indicam que o tempo estará chuvoso na região da capital catarinense até sexta-feira, esperando-se uma melhoria no final da semana e no decorrer da semana que vem. Embora já chova com altos volumes neste começo de semana, o risco maior de chuva forte seria entre terça e a quinta.
Tal como em Santa Catarina, a chuva no Paraná pode ser excessiva a extrema apenas em áreas mais a Leste do estado. Isso inclui municípios como Matinhos, Paraná e Guaratuba, Morretes, Guaratuba e Antonina. A chuva deve ser extrema da região da Serra do Mar em direção à costa. Como se observa abaixo no mapa do modelo alemão Icon com a chuva projetada para esta semana, os volumes no Leste paranaense, especialmente junto à costa, devem ser muito altos.
A cidade de Curitiba e sua região metropolitana, pelo seu posicionamento geográfico mais a Leste e junto à Serra do Mar, também devem ter volumes de chuva bastante elevados e com risco de transtornos. Os mais altos acumulados passam a ocorrer neste começo de semana com momentos de chuva moderada a forte no decorrer da semana, produzindo acumulados elevados de precipitação.
Risco de transtornos e enchentes no Sul do Brasil
É inevitável ante o cenário de chuva projetado pelos modelos numéricos que haja transtornos e perigo à população. Um deles inclui cheias de rios e, consequentemente, enchentes. Com acumulados de 300 mm a 500 mm em poucos dias, o risco é de grandes enchentes em algumas áreas.
A região do Nordeste catarinense, em especial do Vale do Rio Itajaí-Açu, é a que vai exigir mais atenção na condição hidrológica. Cidades como Rio do Sul e Blumenau deverão monitorar muito atentamento os avisos da Defesa Civil local.
É crítico ainda o risco de transbordamento de córregos e arroios por conta dos volumes altos somados de vários dias e episódios de chuva torrencial, afinal em vários momentos a chuva deve ser intensa com elevados acumulados de chuva em curto período.
A sucessão de dias de chuva volumosa e os acumulados extremos projetados pelos modelos farão o risco de deslizamentos críticos no Leste e Nordeste de Santa Catarina assim como no Leste do Paraná e extremo Sul de São Paulo.
O Nordeste catarinense, principalmente, terá maior risco de escorregamentos de encostas pelo relevo da região. São esperadas quedas de barreiras e é alta a probabilidade que o tráfego venha a ser afetado em algumas estradas com bloqueios parciais ou totais, seja por água acumulada ou deslizamentos.
Chuva na Região Sudeste
Episódios de chuva localmente forte a torrencial, especialmente associados a temporais que ocorrem mais da tarde para a noite, são esperados em todos os estados do Sudeste do Brasil nesta semana. A chuva, contudo, deve ser mais persistente no Sul e no Leste de São Paulo, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
Os acumulados podem ser muito altos no Sul paulista, em diversas áreas do Rio como a região dos Lagos, e principalmente no estado do Espírito Santo que pode registrar volumes muito altos ao longo da semana. Na cidade do Rio de Janeiro, embora se preveja chuva todos os dias nesta semana, haverá intervalos sem precipitação e as pancadas fortes a torrenciais tendem a ser mais localizadas e passageiras.
Em São Paulo, na capital paulista a chuva será a comum desta época do ano que vem na forma de pancadas ou temporais com precipitação localmente intensa que produz alagamentos mais da tarde para a noite em razão do aquecimento diurno com alguns intervalos de melhoria.
Aqui em BH na região leste ontem, na parte da tarde noite caiu um dilúvio foram mais de 60mm em 1h de temporal. pic.twitter.com/1PQe6GiUys
— William Bazoli 💙🇮🇹🐺 (@william_bazoli) November 27, 2022
É o mesmo cenário previsto para Belo Horizonte, onde no sábado um temporal causou alagamentos e quedas de árvores. A Defesa Civil recebeu 25 chamados para ocorrências como alagamentos, desabamento parcial de moradia, queda de e risco de desmoronamentos.
Chuva volumosa na Bahia
Não apenas o Sul e o Sudeste do Brasil têm risco de alagamentos e inundações no decorrer da semana por excesso de chuva. O alerta se estende ainda ao estado da Bahia, onde parte do seu território os acumulados de chuva tendem a ser excessivamente altos nos próximos dias e com perigo de inundações.
O mapa acima mostra a projeção de chuva pra sete dias do modelo alemão Icon para a Região Nordeste. Observa-se a tendência de chover nesta semana mais de 100 mm em vários locais da Bahia, mas os maiores acumulados tendem a se concentrar no Sul baiano, com registros junto à costa acima de 200 mm ou 300 mm. Com isso, a área de Ilhéus é uma das de mais alto risco na Bahia nesta semana.
Como consultar os mapas
Todos os mapas de chuva neste boletim podem ser consultados pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece ainda mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul. (Com foto de capa de MAURICIO VIEIRA/SECOM/GOVERNO DE SANTA CATARINA/ARQUIVO)