No final da tarde da quinta-feira, um raio atingiu o Lafayette Park, em frente à Casa Branca, em Washington. Quatro pessoas foram atingidas e sofreram graves ferimentos e três não resistiram. Uma segue internada. No final da tarde da sexta-feira, um raio atingiu depósitos de petróleo em Matanzas, no Oeste de Cuba, gerando um enorme incêndio. As autoridades confirmam uma morte, 121 feridos e 17 desaparecidos. No fim de julho, 49 pessoas morreram por raios apenas em um estado da Índia.
Os dois episódios suscitam a questão se as mudanças climáticas estão trazendo um aumento no número de descargas atmosféricas. A agência de notícias inglesa Reuters publicou reportagem citando os dois eventos como um sinal das mudanças no clima, mas é enganoso e equivocado se atribuir os dois fatos ao aquecimento global porque raios sempre ocorreram. O que se pode e deve se analisar são as tendências de longo prazo e não episódios isolados, no caso dos raios.
Nesse sentido, cientistas dizem que as mudanças climáticas estão sim causando um aumento na probabilidade de raios ao analisarem as estatísticas dos Estados Unidos. Na quinta-feira, quando da tempestade em Washington, a temperatura atingiu 34ºC, 3ºC acima da média histórica do dia, e estava muito úmido, de acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia.
Quanto mais quente, maior a retenção de umidade na atmosfera, explicam os cientistas do clima. Tais condições favorecem rápidas correntes ascendentes de ar, convecção, condição para a chuva e os temporais de verão com raios.
Um estudo divulgado em 2014 na revista Science alertou que o número de raios poderia se elevar em 50% neste século nos Estados Unidos, com cada 1°C de aquecimento se traduzindo em um aumento de 12% no número de relâmpagos. Além dos Estados Unidos, há evidências de que o número de raios aumenta também na Índia e no Brasil.
O Alasca viu uma elevação de 17% na atividade de raios desde a década de 1980, mais fria. E na Califórnia tipicamente seca, cerca de 14.000 raios em agosto de 2020 provocaram alguns dos maiores incêndios florestais já registrados no estado. Dias atrás, uma outra grande tempestade de raios castigou o estado da Costa Oeste norte-americana.
Mesmo com o aumento das descargas, o risco de uma pessoa ser atingida por um raio ainda é extremamente raro nos Estados Unidos, dizem especialistas. Cerca de 40 milhões de raios são registrados no país todos os anos com a chance de ser atingido por um sendo apenas uma em um milhão. Julho e agosto são os meses de pico de descargas nos Estados Unidos.
Entre aqueles que são atingidos por descargas atmosféricas, cerca de 90% sobrevivem, segundo o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC). O país contabilizou 444 mortes por raios de 2006 a 2021. Como o calor e a umidade são as condições ideais para produzir raios, a maioria das descargas acontece no verão. Nos Estados Unidos, o populoso estado subtropical da Flórida é o que tem mais pessoas mortas por raios.
Raios matam, em média, 23 pessoas nos Estados Unidos a cada ano. As fatalidades na capital norte-americana na quinta, além de outra no condado de Baltimore, aumentaram o número de vítimas fatais por raios em 2022 para 13, superando o total de 11 do ano passado. De acordo com o Lightning Safety Council, foi o primeiro incidente fatal com raios na capital norte-americana desde 1991, quando um adolescente foi morto e outras 10 pessoas por uma descarga.