Petrópolis contabiliza quase 300 deslizamentos de terra e o maior número de mortos em um evento de chuva desde a catástrofe de 1988 | CARL DE SOUZA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A cidade de Petrópolis, arrasada pela chuva, vive seu maior desastre desde o evento trágico de chuva de fevereiro de 1988. O saldo de mortos se aproxima de 90, o maior número de vítimas desde a catástrofe do final da década de 80 que matou 134 pessoas. O número de mortos pela chuva da terça deve seguir aumentando, uma vez que há desaparecidos.

Levantamento da imprensa local mostrou que apenas entre 1988 e 2018 morreram mais de 400 pessoas em consequência de chuva somente na cidade de Petrópolis. Os piores anos foram 1988 com 134 mortes, 2001 com 67 vítimas, 2002 com 50 mortos, 2011 com 73 pessoas que perderam suas vidas e 2013 com 33 vítimas fatais.

Uma corrida está sendo travada contra o tempo para encontrar eventuais sobreviventes debaixo da lama e dos escombros. “É quase uma situação de guerra”, disse ao final da tarde Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, durante uma coletiva de imprensa na área do desastre, na região serrana do estado. O número de mortos cresce sem parar com o passar das horas após o temporal registrado na tarde de terça-feira na cidade. “Foi a pior chuva desde 1932”, declarou.

Segundo a Defesa Civil da Prefeitura, ocorreram em 24 horas 325 incidentes, entre eles 269 deslizamentos, além do desabamento de dezenas de casas e quedas de muros e árvores. Vídeos que viralizaram nas redes sociais mostraram imagens chocantes de algumas vias de Petrópolis transformadas em rios caudalosos, arrastando tudo pelo caminho com uma força descomunal.

As equipes de resgate trabalham para socorrer os afetados, muitos dos quais procuravam, desesperados, familiares e amigos em um cenário de casas reduzidas a escombros e veículos empilhados entre a água e o barro, constataram jornalistas da AFP. “Ninguém esperava, foi desesperador, muito triste. Tenho amigos que estão desaparecidos”, disse Elisabeth Pio Lourenço, de 32 anos, moradora do bairro de Alta da Serra, em ruínas.

Até o momento, as autoridades não revelaram o número de desaparecidos. “Não quero ver chuva nunca mais na minha vida”, exclamou outro morador, Jerônimo Leonardo, de 47 anos, que na terça-feira teve que sair às pressas de casa, que ficou relativamente preservada.

A igreja de Santo Antônio, próxima à área do desastre, abriu as portas para receber mais de 150 pessoas, retiradas de suas casas pelas enchentes ou pelo risco de deslizamento de terra devido ao temporal. Muitas outras foram socorridas principalmente em escolas. “Muitos dos que chegam perderam tudo, ou perderam seus parentes, é uma situação difícil”, disse à AFP o pároco da igreja, Celestino.

Cerca de 400 militares trabalham em tarefas de socorro, juntamente com equipes da Defesa Civil e dos bombeiros, com cães, escavadeiras, caminhões, botes e uma dezena de aeronaves. Autoridades alertam para um risco muito alto de novos deslizamentos na região montanhosa do Rio, especialmente em Petrópolis, devido à previsão de mais chuvas nos próximos dias.

Em visita à Rússia, o presidente Jair Bolsonaro desejou que “Deus console os familiares” das vítimas da “catástrofe” em Petrópolis, durante coletiva de imprensa conjunta com seu anfitrião, Vladimir Putin, a quem agradeceu pela solidariedade frente ao ocorrido. O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, garantiu que o presidente estará “no local” na sexta-feira.

CARL DE SOUZA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

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Alguns pontos de Petrópolis receberam até 260 milímetros de chuva em menos de seis horas, um volume superior à média histórica para todo o mês de fevereiro (240 mm). “O acumulado de precipitação na cidade de Petrópolis é incomum”, destacou a meteorologista Estael Sias em análise técnica do evento em que assegurou que este desastre “não foi o primeiro e não será o último dadas as características climáticas da região, o seu relevo e a densidade populacional”.

O Brasil tem sofrido com episódios de chuvas intensas nos últimos três meses, principalmente nos estados da Bahia e Minas Gerais, que deixaram dezenas de mortos e causaram danos a centenas de municípios. Os cientistas argumentam que, devido às mudanças climáticas, os eventos climáticos extremos se tornarão cada vez mais frequentes.

Em janeiro de 2011, mais de 900 pessoas morreram na região serrana do estado do Rio devido às fortes chuvas, que causaram inundações e deslizamentos de terra em uma vasta área, incluindo Petrópolis e as cidades vizinhas Nova Friburgo, Itaipava e Teresópolis.

Petrópolis, de cerca de 300 mil habitantes, é uma cidade turística pelo seu valor histórico, pela natureza no entorno e por um clima mais ameno em comparação com o litoral do Rio de Janeiro. No passado, foi estância de veraneio da antiga Corte Imperial brasileira. Durante o século XVIII e início do XIX, foi um ponto crucial no caminho entre Rio e Minas Gerais, que encantou o imperador Pedro I pelo clima e pela paisagem.