Quem subir a Serra neste fim de semana poderá ver neve ? Ingresso de ar mais quente a partir do Norte trará instabilidade e elevação da temperatura neste sábado na Metade Norte do Estado, frustrando a possibilidade do fenômeno. No domingo com o avanço de ar polar de Sul começam a surgir as condições favoráveis, entretanto os dados indicam que a atmosfera somente se resfriaria o suficiente para criar condições ideais para neve no final do dia ou já na madrugada de segunda-feira.
Pode nevar no jogo do Inter pelo Brasileirão em Caxias do Sul no domingo ? O torcedor colorado que for ao Estádio Centenário domingo para o jogo às 16h contra o Flamengo que se agasalhe. Vai estar muito frio. No começo desta semana os dados chegavam a indicar chance de neve na hora do jogo em Caxias do Sul, mas quase todos os modelos nas suas últimas saídas retardaram um pouco o ingresso do ar mais gelado na Serra, o que abriria a janela para neve mais tarde. Em princípio, o Grêmio deve continuar sendo o único clube da dupla Gre-Nal a jogar sob neve no Rio Grande do Sul, o que ocorreu no final de maio de 1979 durante partida contra o Esportivo, no Estádio da Montanha, em Bento Gonçalves. Aquela incursão de ar polar, tal como a de agora, apresentava forte natureza continental e estava acompanhada de ciclone na costa da Argentina.
Grêmio empatou com Esportivo debaixo de muita neve em Bento Gonçalves em maio de 1979 (Site do Grêmio)
Quando é maior a chance de neve ? A janela principal da neve no Sul do Brasil semana que vem será entre a segunda e a quarta-feira. Modelos numéricos analisados pela MetSul Meteorologia indicam a possibilidade de nevar nos três dias no Sul do Brasil. Neste período, o intervalo de maior probabilidade, conforme os dados, seria entre a tarde e a noite de segunda-feira e a manhã de terça-feira. A possibilidade de registro do fenômeno, porém, não se limitaria a este intervalo específico, já que as simulações estão indicando presença de nebulosidade e chance de instabilidade em outros momentos durante os três dias.
Onde pode nevar ? Esta é a pergunta mais difícil de todas. Neste momento, os dados são quase unânimes em indicar uma maior probabilidade (altíssima) nos Aparados da Serra e no Planalto Sul Catarinense, mas sinalizam chance também em outros pontos do Sul do país como grande parte da Metade Norte do Rio Grande do Sul (Alto Uruguai, Planalto Médio, Médio Uruguai, Serra do Botucaraí, Alto Jacuí, Noroeste e até em pontos das Missões). As projeções de neve dos modelos acusam ainda a possibilidade na Campanha e na Serra do Sudeste. Com base no quadro, não se poderia afastar o fenômeno ainda no Centro do Estado, em especial no Centro-Serra (região de Sobradinho) e ainda nas partes altas dos vales do Taquari, Caí e Rio Pardo.
Ijuí na forte nevada que atingiu a Metade Norte gaúcha por vários dias em agosto de 1965 (Diário da Manhã)
E Santa Catarina ? De acordo com os modelos, a maior probabilidade de neve seria em, Santa Catarina e no Paraná, já que o centro do bolsão de ar mais gelado ficaria sobre a área mais central do Sul do Brasil. Entre Santa Catarina e o Paraná também haveria uma maior disponibilidade de umidade na atmosfera por conta de um sistema frontal entre São Paulo e o Paraná. As simulações indicam que muitas áreas do território catarinense estariam sujeitas a testemunhar o fenômeno na primeira metade da semana que vem, inclusive em cidades em que a neve é de mais difícil e até mesmo rara ocorrência. Não se pode descartar neve no Oeste e até pontos do Nordeste catarinense e das áreas que têm maior altitude da Grande Florianópolis.
Projeção de neve (na cor cinza) do modelo americano GFS (saída 18Z desta sexta) para a próxima semana no Sul do Brasil
E do Paraná para cima ? O modelo americano GFS é o mais agressivo em indicar neve para o Paraná. Sugere a possibilidade em vários pontos do Estado, especialmente na área de Palmas, Guarapuava e no Leste, incluído a Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Curitiba não testemunha uma nevada desde 1975, mais tempo que Porto Alegre, e dizer peremptoriamente com muitos dias de antecedência que nevará na cidade seria exagero. Não se pode, contudo, conforme os dados, afastar tal possibilidade. Devido à posição do ar frio continentalizado não se pode afastar ainda o fenômeno no Oeste/Sudoeste do Paraná, que teve grande nevada em 1965. Com base nos dados, existe a possibilidade, por mais remota, ainda em pontos da província vizinha da Argentina de Misiones, no Paraguai e mesmo nos pontos altos do Sul e Sudoeste do Mato Grosso do Sul.
Neve teve grande acumulação em Pato Branco (PR) na nevada de 1965 (foto do site Patonauta)
Nevada histórica que trouxe até acumulação em Curitiba de 17 de julho de 1975 (Reprodução)
Pode nevar na Grande Porto Alegre ? Outra questão de resposta difícil. Neve na forma de flocos na Grande Porto Alegre é fenômeno muito raro. O mais significativo evento se deu em 24 de agosto de 1984, quando a neve chegou a acumular nos morros de Porto Alegre. Foi um dia que começou com temperatura alta, na casa dos 15ºC, e viu durante a manhã a temperatura despencar para chegar a incríveis 2ºC no meio da tarde com chuva que se converteu em neve. Tecnicamente não se pode descartar neve na primeira metade da semana, até mesmo porque a cota de neve (snow level) cairá a valores muito baixos de altitude, mas em caso de instabilidade do tempo de segunda a quarta a chance seria maior de chuva congelada (aspecto semelhante a granizo miúdo) ou de graupel (grânulos de neve brancos e opacos parecidos com pequenas bolas de sagu). É importante recordar que na região metropolitana de Porto Alegre existem morros com altitudes de até 300 metros (caso de Porto Alegre) e de 600 metros no Vale do Sinos (Ferrabraz, usado em voo livre).
A neve pode acumular no Sul do Brasil ? É uma possibilidade real. Ao menos os modelos estão a indicar reiteradamente como poucas vezes fizeram na história recente. A tarefa de prever acumulação de neve no solo é considerada pela maioria dos meteorologistas nos Estados Unidos a mais difícil de todas, uma verdadeira dor de cabeça. Dentro de uma mesma cidade, ela pode variar de poucos flocos a até mesmo dezenas de centímetros, conforme a banda de nebulosidade e uma nuvem mais carregada. O número de centímetros varia, conforme o equivalente líquido, em milímetros de precipitação, de acordo com a temperatura. O acumulado de neve pelo denominado equivalente líquido é maior com temperatura menor. Observe que para São Joaquim, em sua saída das 12Z desta sexta, o modelo GFS indicou cerca de 15 mm durante neve com temperatura ao redor de 0ºC (abaixo), o que pelo equivalente líquido corresponderia a cerca de 15 cm. Ocorre que a acumulação (não oficial) ainda envolve temperatura e umidade do solo e pode ser de forma imprecisa calculada no Brasil, onde não é tradicional este tipo de medição, por força do que se chama no exterior de “snow drifting”, quando o vento carrega a neve e faz com que o acúmulo seja maior, como se areia da praia em um obstáculo forma duna pelo vento.
Onde pode gear e com que intensidade ? Deve gear na maior parte do Sul do Brasil. A intensidade deve ser maior no Oeste da região por conta do vento mais calmo e do ar mais seco, mas se espera geada forte a severa em outros pontos. Haverá ainda a chamada geada negra, provocada pelo vento, principalmente nas áreas de maior altitude. Não se descarta ainda geada no Mato Grosso do Sul, Sul de Goiás, parte de Minas Gerais e de São Paulo, o que traz preocupação quanto ao café. Há grande preocupação com possíveis prejuízos econômicos da geada para a fruticultura e hortifruti, culturas mais vulneráveis.
Haverá temperatura negativas ? E na Grande Porto Alegre ? Certamente, haverá. O ar em altitude estará extremante gelado, o que trará marcas negativas para quase todo o Sul do Brasil. Em Santa Catarina podem ser anotadas marcas de 10ºC a 12ºC abaixo de zero. No Rio Grande do Sul estimamos mínimas de 6ºC a 8ºC negativos na região dos Campos de Cima da Serra, não se afastando ainda registros localizados até inferiores. No Paraná, também temperatura inferior a 5ºC abaixo de zero pode ser registrada. Na Grande Porto Alegre, vento e períodos de nuvens devem impedir mínimas negativas mais generalizadas na primeira metade da semana, mas nos pontos altos da região e áreas rurais podem ter valores negativos.
Haverá quebra de recordes de temperatura ? Provável ! Séries históricas que são mais recentes (10 a 30 anos) podem ter quebra de recordes de temperatura, como ocorre com os casos do Ciram (SC) e do Simepar (PR). No caso do Rio Grande do Sul, é muito mais difícil. Aqui as séries históricas são quase todas centenárias e recordes serem batidos é algo muito mais difícil de ocorrer. O recorde de mínima de Porto Alegre de 4ºC abaixo de zero de 11 de julho de 1918 não será quebrado. Improvável que seja batida a mínima absoluta oficial do Rio Grande do Sul de 9,8ºC negativos de Bom Jesus em 1955.
Como estará a sensação térmica ? Vento pode provocar transtornos ? Extremamente baixa por força do vento Minuano de Oeste que deve soprar forte. Pode atingir valores de até 15ºC abaixo de zero nos Aparados e negativos em todas as regiões gaúchas, inclusive em Porto Alegre. Os dias de sensação térmica mais baixa devem ser segunda e terça, quando o vento estará mais forte, mas no final do domingo as rajadas já devem estar se fazendo sentir. Os valores devem ser tão baixos nas áreas de relevo que o risco de hipotermia será alto para a população desabrigada. Entre segunda e a terça o vento pode ter rajadas suficientemente fortes em alguns momento, o que poderia provocar falta de energia localizada e queda de árvores.
Nevada de setembro de 2006 veio com ciclone que causou estragos em Porto Alegre (Arquivo MetSul)
O frio vai durar o dia todo ou à tarde haverá alívio ? :Não haverá alívio pelo sol. Entre o domingo e quinta-feira deve fazer frio o dia todo com máximas muito baixas, especialmente de segunda até a quarta-feira e que devem ficar abaixo de 10ºC em pontos da Grande Porto Alegre. Na região de São José dos Ausentes e dos pontos mais altos de Santa Catarina é alta a possibilidade até de máximas negativas. O Morro da Igreja pode permanecer dias consecutivos com temperatura abaixo de zero. Períodos com uma maior cobertura de nebulosidade vão contribuir para aumentar a sensação de frio durante os dias.
Quando acaba o frio ? Esta deve ser uma das perguntas mais feitas na semana que vai começar. Muitos que reclamavam da falta de frio passarão a se queixar do excesso. Quase toda a semana que vem deve ser gelada, mas entre sexta e sábado se espera que o frio comece a ceder rapidamente, o que pode garantir tardes mais amenas sexta e sábado. (As fotos nesta publicação são meramente ilustrativas e não representam a ideia de repetição de fenômenos ou na mesma proporção, advertindo-se ainda que as projeções de neve estão longe de serem confiáveis e ainda não são definitivas para este episódio)