A carta sinótica elaborada pela Armada (Marinha) do Chile mostrava nada menos que dez centros de baixa pressão ao mesmo tempo atuando na tarde desta segunda-feira (16) no Extremo Sul do continente, junto ao Sul do Chile e da Argentina, nas regiões de Magallanes e da Terra do Fogo.

A pressão atmosférica despencou em toda a região. O Aeroporto de Ushuaia registrava uma pressão atmosférica de 1012 hPa na tarde do sábado, mas na tarde de hoje era de só 985 hPa. O mesmo valor de pressão atmosférica era reportado pelo Aeroporto de Punta Arenas, no Chile.

O número de dez chama a atenção, mas não é incomum que vários centros de baixa pressão atuem simultaneamente mais ao Sul do continente e na área oceânica ao redor. No entorno da Antártida há comumente um cinturão de baixas pressões e isso faz com que ciclone sejam muito comuns no Oceano Sul e na parte mais ao Sul do Atlântico e do Pacífico.

Este é um dos fatores que torna o Extremo Sul do continente uma área tempestuosa. Com freqüência há temporais de neve e vento na região durante o inverno e em qualquer época do ano o tempo é muito ventoso.

Em Puerto Natales, cidade chilena de Magallanes perto do famoso parque nacional de Torres del Paine, o tempo estará ventoso inverno ou verão com rajadas por vezes muito intensa e condições do tempo que mudam incrivelmente rápido. Sai-se de uma chuva forte com granizo e muito vento para céu azul em questão de minutos.

A alta frequência de centros de baixa pressão na região faz do Sul da América do Sul uma das áreas de mais difícil navegação, o que reforça a importância do monitoramento e da previsão meteorológica para a zona. A navegação em Cabo Horn e na passagem Drake é considerada uma das mais difíceis do planeta pelo clima tempestuoso. Voar na região é também um desafio e recentemente um avião militar chileno caiu a caminho da região da Antártida, sem deixar sobreviventes.

Antes da abertura do Canal do Panamá, em 1914, o Cabo Horn era um lugar que causava pesadelos aos marinheiros. As águas deste ponto rochoso, no extremo Sul da península da Terra do Fogo representavam uma tempestade perfeita de perigos. A Sudoeste do Cabo Horn, o fundo do oceano sobe acentuadamente de 4.020 metros  para 100 metros em poucos quilômetros.

Essa diferença acentuada de relevo submarino e os potentes ventos de Oeste que giram em torno dos Furious Fifties, expressão de tempo furioso na latitude 50ºS, empurra ondas maciças com uma regularidade assustadora. Some-se ainda a temperatura da água gelada, pedras costeiras e icebergs perdidos  que derivam para o Norte da Antártida através da Passagem de Drake, e fica fácil entender o porquê de a área ser conhecida como um cemitério de navios.

Centenas de navios afundaram perto do Cabo Horn desde que o holandês Willem Schouten, navegador da Companhia Holandesa das Índias Orientais, traçou um curso ao redor em 1616.

Um navio que escapou por pouco desse destino foi o famoso HMS Beagle, com o naturalista Charles Darwin a bordo. Em The Voyage of the Beagle, Darwin descreveu a viagem angustiante passagem enquanto os exploradores tentavam contornar o Cabo Horn pouco antes do Natal de 1832.