JORNAL O ALTO URUGUAI

O noticiário do tempo dos últimos dias foi tomado por notícias de chuva extrema a excepcional com volumes muito fora do normal em Santa Catarina e no Paraná, dentre outros estados. Chuva intensa que atingiu ainda áreas da Região Sudeste com temporais e alagamentos em estados como São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. A chuva causou problemas também na Bahia.

No Rio Grande do Sul, entretanto, a realidade é distinta. Avolumam-se as mensagens nas redes sociais da MetSul Meteorologia de produtores extremamente preocupados com a falta de chuva mais abundante ou frequente. Em entrevista para metsul.com, o produtor Gelson Pezzini, do município de Santa Bárbara do Sul, contou que o milho irrigado avança com qualidade, mas o de sequeiro sofre no desenvolvimento com a escassez de chuva mais volumosa.

A chuva em novembro no Rio Grande do Sul ficou abaixo da média em quase todos os municípios do estado. Embora em algumas cidades tenha chovido mais de 100 mm, o que é um volume razoável, como foram os casos de São Luiz Gonzaga (106 mm) ou Campo Bom (107 mm), na maior parte das localidades gaúchas a chuva ficou apenas entre 30% e 50% da média do mês.

Muitos municípios da Metade Sul e do Noroeste, por exemplo, não atingiram em novembro a marca de 50 mm. Várias estações nas áreas de Santa Rosa, Pelotas e Bagé terminaram o mês com acumulados entre 30 mm e 50 mm, o que é muito insuficiente.

Esta é uma época do ano em que o número de horas de sol é maior a cada dia e com calor, o que gera maior evapotranspiração e perda mais acelerada de umidade do solo. Por isso, é fundamental que a chuva seja mais regular e volumosa. No fim do ano, a irregularidade da chuva afeta principalmente a cultura do milho.

Emater aponta piora da situação

De acordo com o último relatório conjuntural da Emater, “as condições de tempo, inicialmente com precipitações, depois com dias ensolarados e temperaturas altas, aceleraram o crescimento das lavouras. No entanto, com a insuficiência nos volumes precipitados em algumas regiões, já há indícios de estresse térmico e hídrico, mas ainda sem causar grandes impactos no potencial produtivo da cultura”.

Conforme o órgão, “há preocupação com a irregularidade e com a má distribuição das chuvas durante o mês de novembro, período quando as lavouras iniciaram o processo reprodutivo e, por consequência, demandam mais água para a formação de estruturas reprodutivas e reservas nos grãos”.

A Emater destaca que as lavouras não irrigadas apresentam aumento de sintomas de déficit hídrico, como enrolamento e descoloração de folhas da parte superior da planta e início de senescência de folhas basais. Nas lavouras em fecundação, já se observam pequenas falhas de polinização e formação de grãos, influenciando o potencial produtivo.

Já nas lavouras com sistema de irrigação, a situação da cultura é diferente, com plantas bem desenvolvidas, folhas normais, coloração verde-escuro e alto potencial produtivo, beneficiadas pela alta insolação.

Na região de Ijuí, com estresse hídrico, as plantas estão atrasando o crescimento, retardando a emissão do pendão e da espiga e aumentando o ciclo no campo. Os produtores iniciaram a aplicação de fungicidas nas lavouras de maior potencial produtivo e adiaram a operação nas lavouras com déficit hídrico.

Por sua vez, na região de Santa Rosa, em municípios onde o volume de chuvas foi insuficiente na segunda quinzena de novembro, as lavouras já manifestam sintomas do déficit hídrico e redução no potencial produtivo. A situação pode se tornar mais grave, afetando metade da área produzida, em virtude das altas temperaturas e da grande evapotranspiração no auge do período reprodutivo.

No entanto, as lavouras do Noroeste gaúcho com variedades precoces semeadas no cedo – entre final de julho e início de agosto – já ultrapassaram a fase de milho “verde” e não deverão apresentar perdas no excelente potencial produtivo, pois as precipitações foram adequadas em todas as fases de desenvolvimento.

O que a MetSul prevê de chuva

As projeções de chuva para esta semana nas áreas produtoras de milho são muito ruins. As pancadas que atingiram diversos municípios na sexta e no fim de semana trouxeram alívio em algumas localidades, mas não choveu em todos os municípios pela irregularidade da chuva de natureza convectiva.

Na semana que começa se espera o predomínio do tempo seco nas áreas produtora de grãos. Uma onda de calor vai se instalar e agravar o déficit de água no solo e o estresse das plantas, prevendo-se pancadas isoladas pelo calor a partir do final da semana.

Na primeira metade da próxima semana se projeta a possibilidade de um evento de chuva com caráter mais generalizado e com possibilidade de volumes mais altos de chuva, o que poderia frustrar perdas maiores na produtividade do milho gaúcho.

Sob La Niña pelo terceiro fim de ano seguido, a MetSul Meteorologia antecipava desde agosto em boletins que o milho poderia sofrer no final do ano com precipitações irregulares com perda de produtividade, como está se verificando agora.