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Carro em que vijava a família do Paraná foi parar em cima de um caminhão com o deslizamento na BR-376 em Guaratuva | DEFESA CIVIL DO PARANÁ/AEN

A dimensão exata da tragédia do deslizamento de terra ocorrido na BR-376, em Guaratuba, no Paraná, ainda é desconhecida. Oficialmente, o desastre tem dois mortos, mas o número deve ser muito maior depois que as autoridades paranaenses informaram hoje que há entre 30 e 50 pessoas desaparecidas sob a lama e as pedras.

Em meio à tragédia da lama e das rochas do morro que veio abaixo em um começo de noite de chuva intensa na Serra do Litoral Sul paranaense, um milagre e uma história de solidariedade e sobrevivência na escuridão da encosta que desmoronou.

O carro de uma família foi atingido pela torrente de lama que desceu para a estrada. Quatro pessoas estavam no veículo no momento da tragédia, sendo uma delas uma criança de 4 anos. O carro preto, modelo Virtus, foi um dos quatro veículos que puderam ser retirados do barro, sendo três automóveis e uma carreta.

A família foi resgatada por um motorista que também passava no local e ficou para oferecer ajuda. A família retornava de uma consulta médica, viajando do Paraná para Santa Catarina. A bordo do carro estavam o motorista Constâncio dos Santos Filho, de 72 anos, a sua esposa Marlene da Cruz, de 73 anos, a filha do casal Letícia Cruz, de 40 anos, e o neto Pedro Augusto, de apenas 4 anos.


Constâncio dos Santos Filho é morador de Paranaguá, cidade do litoral do Paraná, e viajou até Curitiba para a consulta. Após a consulta, tomaram a BR-376 rumo ao Sul para compromisso em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina. Quando estavam trafegando pelo trecho da Serra, sob chuva intensa, veio o morro abaixo e a vida da família mudou para sempre.

Carro em que viajava a família do Paraná foi recuperado | DEFESA CIVIL DO PARANÁ

O que era para ser apenas mais um dia na rotina do idoso de 72 anos, acabou em medo e luta pela sobrevivência. O seu veículo é o que aparece em cima de um caminhão branco no local em que o socorro acontece. Em entrevista concedida à emissora de rádio Banda B, de Curitiba, o motorista contou como tudo ocorreu.

“É tudo tão rápido que você nem lembra de como tudo aconteceu. Quando o carro parou, só percebemos que estávamos em cima da lama. Eu consegui abrir porta do motorista e saí. Foi de lá que puxei minha filha, meu neto e minha esposa”, narrou.

Dentre as lembranças, ele cita muita lama e uma “cachoeira de água”. Para ele, ser hoje tratado como ‘sobrevivente’ é obra de Jesus Cristo. “É uma libertação de Deus”, conclui. Agradecido, ele não sabe os nomes, mas destaca um motorista de ônibus e duas passageiras como “as pessoas que mais ajudaram” sua família.

Ele ainda chamou de “sorte” o fato de estar com a carteira e cartões de crédito no bolso, já que tudo o que estava no veículo foi perdido e eles estão pagando hotel, por conta própria, até que possam retornar para Paranaguá. “Pelo estado em que ficou meu carro ali, nascemos de novo”, concluiu.

ADRYEL PABST/PREFEITURA DE GARUVA

O enorme deslizamento de terra que atingiu a BR-376, no município de Guaratuba, perto da divisa com Santa Catarina, ocorreu durante a vigência de alerta de chuva extrema com risco extremo de queda de barreiras e desmoronamento de encostas em consequência das precipitações em índices excepcionais.

O desastre na rodovia que liga os estados de Santa Catarina e do Paraná, portanto, não foi uma tragédia que possa se dizer inesperada. Desde a semana passada a MetSul Meteorologia vinha advertindo que a região poderia receber acumulados de chuva tão extremos como 500 mm a 600 mm com algumas projeções por parte de modelos apontando até marcas de 600 mm a 700 mm em poucos dias.

A área do Nordeste de Santa Catarina de divisa com o Litoral Sul do Paraná e a serra adjacente era justamente a região para o qual os modelos numéricos de computador analisados pela MetSul, e cujos mapas foram reproduzidos em todos os alertas, apontavam os acumulados mais extremos de chuva.

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