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Casas foram destruídas pelo vendaval na Vila dos Sargentos, zona Sul de Porto Alegre, durante o forte temporal da tarde do domingo | Giulian Serafim/PMPA

Uma micro-explosão atmosférica, ou microburst, é a provável causa da destruição localizada observada na zona Sul de Porto Alegre durante a tempestade da tarde do domingo (6). Não houve registro de vento destrutivo em quase toda a cidade, apesar de rajadas fortes, e nenhuma estação meteorológica indicou vento acima de 80 km/h, nem a do Instituto Nacional de Meteorologia no bairro Jardim Botânico, zona Leste da cidade, e tampouco a da Força Aérea Brasileira, na zona Norte.

O episódio de vento localizado mais ao Sul da cidade, no bairro Serraria, entretanto, teve caráter destrutivo. Algumas das habitações arrasadas pelo vento eram precárias, mas algumas eram de alvenaria e tiveram colapso parcial, o que é condizente com vento muito intenso e rajadas que ficaram acima dos 100 km/h.

Na Vila dos Sargentos, na Serraria, 120 casas foram destelhadas e 22 ficaram destruídas, de acordo com o balanço da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Além do bairro Serraria, mais de 65 casas também ficaram destelhadas no Santa Tereza e outras 10 espalhadas pelo restante da Capital. Mais de 1.380 mil metros quadrados de lona foram distribuídos e 62 kits emergenciais.

Este tipo de fenômeno ocorre principalmente no verão porque é a época em que os dias são muito quentes e, sob a presença de umidade alta, formam-se nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus (Cb) que podem atingir até 15 a 20 quilômetros de altura e são capazes de gerar vento destrutivo. Em janeiro deste ano, o mesmo tipo de fenômeno causou destruição em Guaíba e deixou a cidade em emergência. A Grande Porto Alegre, aliás, tem um histórico de eventos de micro-explosão durante os meses quentes do ano.


Em sua página na internet, o National Weather Service dos Estados Unidos explica o que é um downburst – uma corrente descendente de vento violenta – que é capaz de produzir estragos e danos tão graves quanto o de um tornado pela enorme velocidade que o vento pode atingir durante os episódios deste tipo de fenômeno.

Um downburst é uma forte e relativamente pequena área de ar rapidamente descendente debaixo de uma tempestade que pode resultar de vento muito forte em altitude sendo transportado para a superfície. Ou pode ser efeito do resfriamento muito rápido do ar com a chuva que evapora em uma atmosfera inicialmente seca. O ar mais frio e denso desce rapidamente para a superfície. Um downburst se diferencia do vento uma tempestade comum pelo seu potencial de causar danos próximos à superfície, onde se espalham ou divergem consideravelmente. Ao contrário, em tornados convergem para uma faixa estreita do terreno.

Downbursts intensos podem ser fenomenais. Velocidades do vento podem atingir marcas tão altas quanto as observadas de 281 km/h em Morehead City (Carolina do Norte) e 254 km/h na base aérea de Andrews (Maryland). Fortes episódios de downburst podem causar sons e ruídos que as pessoas frequentemente mencionam como sendo de um trem de carga, termo tipicamente associado a tornados. Embora downbursts não sejam tornados, podem causar danos equivalentes a de um tornado pequeno ou médio, afinal vento é vento.

Downbursts são classificados como macrobursts ou microbursts, dependendo da extensão da área afetada pelo vento. Os danos de macrobursts se estendem horizontalmente por mais de quatro quilômetros enquanto nos microbusts os ventos destrutivos ocorrem em área inferior a quatro quilômetros”.

Nuvens de grande desenvolvimento vertical do tipo Cumulonimbus (Cb) atuavam na região de Porto Alegre no momento em que houve o temporal destrutivo localizado no Sul da cidade. Várias áreas de instabilidade fortes a intensas com múltiplas nuvens de tempestade podiam ser vistas sobre o Centro do Rio Grande do Sul, geradas pelo calor e a umidade, com advecção de ar muito quente de Norte.

A tempestade ocorreu em uma tarde em que a temperatura máxima na Capital, medida no Jardim Botânico, chegou a 32,9ºC com elevada umidade. Na véspera, no sábado, havia feito 36,6ºC. Com uma massa de ar quente, como a que atuava na tarde do domingo no Rio Grande do Sul e por efeito na área de Porto Alegre, o calor acaba injetando uma quantidade de energia na atmosfera que é enorme.

A forma com que o sistema atmosférico libera tal energia é por tempestades. O calor aumenta, portanto, a probabilidade de tempestades serem mais severas. Por isso, a MetSul Meteorologia havia informado do risco de episódios isolados de tempo severo com possibilidade de vendavais para o domingo e os dias seguintes no Rio Grande do Sul.

Ante o caráter excepcionalmente isolado – às vezes na escala de poucos bairros ou algumas poucas quadras – não é possível prever quais pontos exatos serão atingidos neste tipo de evento como micro-explosão.  É a mesma regra dos tornados em que é possível antecipar o risco de que ocorra o fenômeno, mas não prever onde exatamente vai causar destruição, exceto poucos minutos antes.

No caso destes microcbursts ainda é mais difícil, para não dizer quase impossível prever o local que atingirá, uma vez que o tornado formado se desloca e por uma rede robusta de radares é possível traçar seu caminho e emitir avisos pouco minutos para os pontos no seu caminho, como ocorre nos Estados Unidos, enquanto uma micro-explosão atinge subitamente um ponto específico e sequer a Meteorologia norte-americana tem avisos específicos para este tipo de fenômeno, limitando os alertas ao risco de tempestade severa.

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