O fenômeno La Niña retorna, brevemente, ao patamar de intensidade moderada. O pico de intensidade do atual evento da La Niña foi alcançado em dezembro e nos primeiros dias de janeiro, mas, desde então, o resfriamento das águas na faixa equatorial do oceano tem oscilado e intensidade e na última semana se aproximou dos níveis observados no final de 2021.

NOAA

Na composição das anomalias de temperatura da superfície do mar das diferentes regiões Niño, o resfriamento no final do ano passado foi um pouco mais intenso do que se observa agora.

Tradicionalmente, tanto com a La Niña como com o El Niño, o máximo de intensidade do evento se verifica, na maioria dos episódios, ao redor da virada do ano. Mesmo assim ocorrem flutuações nas anomalias de temperatura da superfície do mar, mais pronunciadas no Pacífico Leste que é uma região mais volátil.

Conforme o último boletim semanal da NOAA, a agência climática do governo dos Estados Unidos, a anomalia da temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central na última semana foi de -1,1ºC contra -0,8ºC e -0,6ºC, respectivamente, nas duas semanas anteriores. Assim, o resfriamento está na faixa considerada de moderada intensidade (-1,0ºC a -1,4ºC). Esta é a região usada para se definir a atuação de El Niño ou La Niña e sua força. No pico de intensidade no evento em curso, a anomalia chegou aos mesmos -1,1ºC.

Já a anomalia medida no Pacífico Equatorial Leste, a chamada região Niño 1+2, foi de -1,3ºC contra -1,5ºC e -1,7ºC, respectivamente, nas duas semanas anteriores. É anomalia considerada dentro da faixa de intensidade moderada (-1,0ºC a -1,4ºC). O menor resfriamento resultou, dentre outros fatores, do ingresso de águas mais quentes a partir do Golfo do Panamá. Esta região mais a Leste do Pacífico, em várias análises de correlação, mostrou ter grande impacto na chuva do Rio Grande do Sul.

A MetSul acautela que é um erro se fazer uma relação linear entre intensidade de La Niña e severidade de estiagem no Rio Grande do Sul, portanto o enfraquecimento do fenômeno em curso desde o começo do ano não significa que a estiagem vai acabar.

Ao contrário, a chuva deve seguir muito irregular no Estado. Precipitação até traz alívio em algumas áreas, como se está a observar nesta semana com chuva mais frequente, mas o quadro está longe de se normalizar pelo elevado déficit hídrico acumulados durante os últimos meses.

Observa-se em área da subsuperfície, portanto abaixo da superfície do mar, no Centro do Pacífico Equatorial, uma diminuição enorme da área de águas mais quentes do que a média que se observou em fevereiro e que virtualmente se dissipou, dando lugar a um crescimento modesto de águas mais frias.

As águas mais quentes subsuperficiais se deslocaram para Oeste, em padrão comum em La Niña que tem o Pacífico mais aquecido a Oeste, o que explica a chuva excessiva no Leste da Austrália com graves inundações em Queensland e Nova Gales do Sul.

Justamente este colapso das áreas mais quentes abaixo da superfície acaba por permitir esta nova intensificação temporária da La Niña no Pacífico Central Equatorial e acaba determinando que os modelos de clima acabem prolongando o fenômeno por meses, avançando pelo outono. A projeção por vários modelos norte-americanos e canadenses, com se observa nos mapas acima, chega a sinalizar a continuidade da La Niña ao menos até a próxima primavera.

Diferentemente de vários modelos da América do Norte (curvas de tendência à direita), o modelo europeu (esquerda) projeta uma transição para a neutralidade entre a metade do outono e o inverno, logo este cenário indicado por modelos como o norte-americano CFS de La Niña por mais seis meses não é um consenso entre a modelagem climática.

A NOAA projeta 77% de probabilidade de o fenômeno seguir no outono (março a maio), seguindo-se a transição para neutralidade (56% de probabilidade de maio a julho). Com isso, muitas cidades devem se ressentir de chuva mais abundante até a próxima estação e as consequências da estiagem ainda serão sentidas por longo período.

Na avaliação da MetSul Meteorologia, a probabilidade de a La Niña ainda estar atuando no Pacífico Equatorial é altíssima na primeira metade do outono e média a alta na segunda metade da estação.

Neste momento, a tendência para o inverno é de La Niña mais fraca ou uma neutralidade fria. Março, fundamental advertir, marca o começo da chamada “barreira de previsibilidade”, o período do ano entre março e junho em que as projeções para a temperatura do Pacífico têm menor índice de acerto.