Setembro começou com o Oceano Pacífico Equatorial sob neutralidade, ou seja, sem a influência dos fenômenos El Niño e La Niña. Já são três meses sob neutralidade desde que chegou ao fim o muito forte evento de El Niño de 2023-2024 que causou chuva extraordinária e grandes enchentes no Rio Grande do Sul.
Desde o final do ano passado e no começo deste ano, modelos de clima indicavam a possibilidade de um evento de La Niña se instalar no decorrer do outono deste ano, atingindo forte intensidade agora no segundo semestre.
Com o passar dos meses, os dados foram se ajustando e gradualmente começaram a cada mês retardar o começo de um evento de La Niña ao mesmo tempo que gradualmente reduziam a sua intensidade prevista.
Hoje, de acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, a anomalia de temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central-Leste (região Niño 3.4) está em -0,1ºC. O valor está na faixa de neutralidade (-0,4ºC a +0,4ºC).
Desde julho, esta região principal de monitoramento do Oceano Pacífico Equatorial Centro-Leste já apresentou quatro semanas com registros de valores negativos de anomalia de temperatura da superfície do mar, entre -0,1ºC e -0,2ºC, mas nenhum sequer perto de -0,5ºC que é o valor mínimo para La Niña.
Já a chamada região Niño 1+2, que monitora a temperatura da superfície do mar junto aos litorais do Peru e do Equador, apresenta anomalia agora de -0,4ºC, mas já chegou a -0,9ºC em junho. Embora relevante, esta área do Pacífico não é a usada para designar oficialmente se há um evento de La Niña clássico?
Mas vai ter La Niña?
A tendência, de acordo com a MetSul Meteorologia, é de continuidade da fase neutra do Oceano Pacífico ao menos no curto prazo. Não projetamos que nas próximas quatro semanas seja declarado um evento de La Niña, considerando as condições atuais. Embora a NOAA estime probabilidades de até 72% de La Niña no final deste ano, não estamos convencidos na MetSul Meteorologia de uma probabilidade tão alta.
O nosso entendimento para os próximos aponta dois possíveis cenários e são dois justamente porque as condições que esperamos são limítrofes, numa faixa muito perto de La Niña ou neutralidade, ao redor de -0,5ºC de anomalia.
No primeiro cenário, um evento de La Niña muito fraco e de curta duração se instala entre a primavera e o verão. No segundo cenário, o Pacífico segue em neutralidade, mas com anomalias de temperatura do mar perto de valores de La Niña, mas sem um caracterização do fenômeno.
O que é o fenômeno La Niña
O fenômeno La Niña tem impactos relevantes no sistema climático global, sendo caracterizado por temperaturas abaixo do normal na superfície do Oceano Pacífico equatorial central e oriental. Essa condição contrasta com o El Niño, sua contraparte quente, e faz parte do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que influencia os padrões climáticos em todo o mundo.
Durante um evento La Niña, as águas do oceano Pacífico equatorial central e oriental ficam mais frias do que o normal. Isso tem efeitos significativos nos padrões de vento, precipitação e temperatura ao redor do globo. A última vez em que a La Niña esteve presente foi entre 2020 e 2023 com um longo evento do fenômeno que trouxe sucessivas estiagens no Sul do Brasil e uma crise hídrica no Uruguai, Argentina e Paraguai.
No Brasil, os efeitos do La Niña variam de acordo com a região. O Sul do país geralmente experimenta menos chuva enquanto o Norte e o Nordeste registram um aumento das precipitações. Cresce o risco de estiagem no Sul do Brasil e no Mato Grosso do Sul, embora mesmo com a La Niña possam ocorrer eventos de chuva excessiva a extrema com enchentes e inundações.
Além da chuva, a La Niña também influencia as temperaturas em diferentes partes do mundo. No Sul do Brasil, o fenômeno favorece maior ingresso de massas de ar frio, não raro tardias no primeiro ano do evento e precoces no outono no segundo ano do episódio. Por outro lado, com estiagens, aumenta a probabilidade de ondas de calor e marcas extremas de temperatura alta nos meses de verão no Sul.
Em escala global, quando o fenômeno está presente há uma tendência de diminuição da temperatura planetária, o que nos tempos atuais significa menos aquecimento da Terra. O aquecimento do planeta, entretanto, foi tamanho recentemente que a temperatura média do planeta hoje em um evento de La Niña forte tende a ser mais alta que em um evento de forte El Niño décadas atrás.
A MetSul Meteorologia está nos canais do WhatsApp. Inscreva-se aqui para ter acesso ao canal no aplicativo de mensagens e receber as previsões, alertas e informações sobre o que de mais importante ocorre no tempo e clima do Brasil e no mundo, com dados e informações exclusivos do nosso time de meteorologistas.