Não era disco voador ! Quem olhou para o céu no Vale do Sinos hoje entre o final da manhã e o começo da tarde foi testemunha de uma fantástica aparição de nuvens do tipo lenticular. Sem dúvida, nunca havia sido documentada uma aparição tão bela de nuvens lenticulares até hoje na Grande Porto Alegre como nesta segunda-feira. No ano passado, em 13 de julho, o mesmo tipo de nuvem apareceu na região (veja mais). As lenticulares apareceram hoje muito em consequência do vento Oeste forte, trazido pelo enorme ciclone extratropical que está no Atlântico Sul (leia alerta). Tão logo fomos avisados antes do meio-dia pelo geógrafo Nilson Wolff, responsável pela estação meteorológica de Campo Bom, acionamos a redação do parceiro Jornal NH que enviou à rua o repórter fotográfico Rodrigo Rodrigues, autor das sensacionais fotografias abaixo.


As nuvens lenticulares desta segunda foram fotografadas no fim da manhã ainda pelo geógrafo Nilson Wolff, de Campo Bom.


As nuvens lenticulares não se movem. Conforme o meteorologista da MetSul Luiz Fernando Nachtigall, elas se formam e se transformam continuamente num mesmo ponto à medida que o ar ascende na atmosfera sobre um morro ou montanha, condensando-se e produzindo a nuvem. Estão assim, associadas, a ondas na atmosfera que se desenvolvem quando o ar relativamente estável ascende rapidamente ao encontrar uma barreira topográfica perpendicular à direção do vento soprando em altos níveis da atmosfera. Nachtigall destaca que as nuvens lenticulares são mais comuns no inverno porque o vento em níveis mais altos da atmosfera geralmente é mais forte. Na história da ufologia, muitas vezes as nuvens acabaram confundidas com discos voadores pelo seu aspecto semelhante, tanto que são conhecidas como nuvens UFO (OVNI em Inglês).

As nuvens lenticulares se formam normalmente entre 6 mil e 12 mil metros de altitude, explica o meteorologista da MetSul Meteorologia, sob a presença de vento mais forte. No caso de hoje, a sondagem por balão meteorológico realizada às nove da manhã no Aeroporto Salgado Filho mostrou vento forte, ao redor de 50 nós (92 km/h), entre 4 e 9 mil metros de altitude. Os dados apontaram a presença de vento Sudoeste de 49 nós a 4300 metros, 51 nós a 5000 metros, 52 nós a 5300 metros, 50 nós a 6500 metros, 56 nós a 7300 metros, 51 nós a 9300 metros e 72 nós a 12800 metros de altitude na área de Porto Alegre.


Quando aeronaves encontram uma onda de montanha, em regra há turbulência forte a até severa. Uma das formas de se constatar a presença de ondas de montanha é justamente a presença de nuvens lenticulares. Mas quando o ar está muito seco, e as nuvens não se formam, os pilotos não têm a advertência visual sobre o risco de turbulência na presença das ondas. Aqui na América do Sul, o local onde as nuvens lenticulares são mais comuns é na região da Cordilheira dos Andes, onde as montanhas atingem até mais de seis mil metros de altitude. Quem já viajou para o Chile possivelmente já tenha escutado o alerta do piloto sobre risco de turbulência ao sobrevoar a Cordilheira, resultado das ondas de montanha.