O calor pode atingir níveis jamais vistos e inimagináveis para muitas pessoas nesta semana no Sul da Europa com temperaturas que devem superar com folga recordes históricos e vão ficar perto dos 50ºC. O pior do calor vai ocorrer na região do Mediterrâneo, afetando Espanha, Itália e Grécia, mas os italianos devem sentir a parte mais brutal do ar quente.

Pedestre espera para atravessar uma rua perto de um termômetro de rua marcando 50°C em Sevilha. Nova onda de calor atinge a Espanha entre hoje e quarta com temperaturas acima de 40°C nas Ilhas Canárias e na região sul da Andaluzia. | CRISTINA QUICLER/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Com isso, a Europa pode registrar a temperatura mais alta de sua história nesta semana nas ilhas italianas da Sicília e da Sardenha, onde se prevê uma máxima de 48ºC a 49ºC, informam os serviços de Meteorologia locais e da União Europeia.

Os italianos foram avisados para se prepararem para “a onda de calor mais intensa do verão e também uma das mais intensas de todos os tempos”. As previsões de máximas históricas nos próximos dias levaram o Ministério da Saúde a emitir um alerta vermelho para 16 cidades, incluindo Roma, Bolonha e Florença.

As temperaturas devem atingir 40°C em Roma nesta segunda-feira e 42°C a 43°C amanhã, o que superaria o recorde de máxima absoluta na capital italiana de 40,5°C, estabelecido numa poderosa onda de calor em agosto de 2007.

Italianos e turistas encontram dificuldades em superar o calor. “Estou realmente lutando com o calor. Comprei um miniventilador, um guarda-chuva e garrafas de água”, disse Lilu Da Costa Rosa, uma vendedora brasileira de 48 anos que visita Roma no domingo à agência AFP.

No Vaticano, 15.000 pessoas enfrentaram temperaturas sufocantes no domingo para ouvir o Papa Francisco conduzir as orações, usando guarda-sóis e ventiladores para se refrescar. Mas em suas vestes negras, padres como François Mbemba disseram que estavam “suando como o inferno”. O jovem de 29 anos disse que sentiu mais calor na Praça de São Pedro do que em sua diocese na República Democrática do Congo.

Um anticiclone feroz que foi apelidado de Cerberus, um cão-monstro de três cabeças que aparece no Inferno de Dante, ainda atuava antes que os italianos fossem avisados de que um mais intenso chamado Caronte, ou Charon, que na mitologia grega era o barqueiro dos mortos, estava a caminho.

A Itália sofreu com temperaturas que atingiram máximas de 38°C no fim de semana, enquanto Caronte domina o país a partir desta segunda-feira, levando a temperatura a mais de 40°C nas regiões central e Sul, com as ilhas da Sicília e Sardenha.

Os italianos estão acostumados com verões quentes, mas não tão quente, especialmente porque as ondas de calor consecutivas atingiram abruptamente e se seguem a uma primavera e a um início do verão marcados por tempestades, inundações e temperaturas abaixo da média.

As temperaturas na Sicília e na Sardenha nesta semana podem chegar perto de atingir o recorde europeu, estabelecido em 11 de agosto de 2021, quando uma máxima de 48,8°C foi registrada em Floridia, cidade da província siciliana de Siracusa.

Uma menina derrama uma garrafa de água no rosto e na cabeça enquanto se refresca em frente a uma igreja no centro de Messina, na ilha da Sicília, durante a onda de calor que assola a Itália. | GIOVANNI ISOLINO/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Turistas se protegem do sol com guarda-chuvas perto do Coliseu, em Roma, enquanto a Itália é atingida por uma onda de calor brutal. | ALBERTO PIZZOLI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma menina bebe água de uma fonte enquanto espera o Angelus do Papa Francisco na praça de São Pedro, no Vaticano, no domingo. Aumento substancial das temperaturas é esperado na Itália nos próximos dias com marcas recordes. | TIZIANA FABI/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Uma pesquisa descobriu que houve 61.672 mortes relacionadas ao calor no verão passado, o mais quente já registrado na Europa. A taxa de mortalidade foi mais elevada em Itália, Grécia, Espanha e Portugal. Um trabalhador rodoviário morreu de uma doença relacionada ao calor em Milão na semana passada.

Ainda no Mediterrâneo, a Acrópole de Atenas, uma das principais atrações turísticas da Grécia, fechou pelo terceiro dia consecutivo no domingo durante as horas mais quentes. Na Romênia, as temperaturas devem chegar a 39°C nesta segunda-feira na maior parte do país.

A previsão é de pouco alívio para a Espanha, onde os meteorologistas alertaram para uma nova onda de calor até quarta-feira, com temperaturas acima de 40°C nas Ilhas Canárias e na região sul da Andaluzia. Na ilha de La Palma, as temperaturas caíram no sábado, ajudando os bombeiros a combater um incêndio que queimou 5.000 hectares no fim de semana, forçando a evacuação de 4.000 pessoas.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estima que até 2050, cerca de metade da população europeia poderá enfrentar um risco alto ou muito alto de estresse por calor no verão.

Temperaturas acima do normal estão previstas na região do Mediterrâneo pelo menos durante as próximas duas semanas, com temperaturas semanais até 5° Celsius acima da média de longo prazo, de acordo com o Monitoramento do Clima do Centro Regional do Clima da OMM para a Europa, operado pela Deutscher Wetterdienst (DWD), o serviço meteorológico alemão.

As anomalias semanais estarão entre +1°C e +5°C. As máximas diárias atingirão com frequência 35ºC a 40ºC em muitos lugares. Uma continuação do calor em agosto é provável. Há um risco aumentado de estresse por calor e incêndios florestais.

As temperaturas da superfície do mar no Mediterrâneo serão excepcionalmente altas nos próximos dias e semanas, ultrapassando 30°C em algumas partes e mais de 4°C acima da média em grande parte do Mediterrâneo ocidental. Os impactos das ondas de calor marinhas incluem migração de espécies e extinções, além da chegada de espécies invasoras com consequências para a pesca e aquacultura.