Foto aérea de enorme área desmatada na floresta amazônica perto de outra área afetada por incêndios, a cerca de 65 km de Porto Velho, no estado de Rondônia, na temporada crítica de fogo na região de 2019. O desmatamento mudou o regime de chuva em Rondônia, de acordo com estudo da USP. A análise de 20 anos de dados coletados em Rondônia, uma das regiões mais devastadas da Amazônia, mostrou que a chuva não cai mais como e onde caía antes. | CARL DE SOUZA/AFP/METSUL METEOROLOGIA

Os temores dos cientistas e ambientalistas se confirmou. O desmatamento na região amazônica não para de aumentar e atinge níveis jamais vistos desde 2006, quando se iniciou uma curva de declínio da destruição da floresta. A estimativa, que acaba de ser divulgada, é fruto do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Os números liberados hoje pelo governo sem qualquer anúncio prévio aos meios de imprensa de que haveria o comunicado somente ocorre após a conferência do clima, a COP26, realizada em Glasgow, o que ambientalistas afirmam foi uma decisão para evitar pressões maiores da comunidade internacional sobre o Brasil pelo elevado grau de desmatamento.

O desmatamento da Amazônia entre agosto de 2020 e julho de 2021 foi de 13.235 quilômetros quadrados. Para se ter ideia, a área desmatada corresponde a 26 vezes à área do município de Porto Alegre ou 30% do estado do Rio de Janeiro ou 60% do território de Sergipe. O desmatamento em 12 meses, conforme o sistema Prodes do Inpe, foi 21,97% superior ao desmatado nos 12 meses anteriores!

Trata-se da maior destruição desde 2006, quando 14.286 quilômetros quadrados foram desmatados na região da Amazônia Legal. O menor valor desde o pico de devastação de 2006 tinha ocorrido em 2012.

Trata-se do terceiro ano seguido (2019, 2020 e 2021) que o desmatamento da Amazônia supera a marca de 10 mil quilômetros quadrados, sob fortes críticas da comunidade internacional e denúncias de ambientalistas que o sistema de repressão a crimes ambientais sofreu um desmonte. Os estados que mais contribuíram com o desmatamento foram o Pará (39,7%), Amazonas (17,7%) e Rondônia (12,7%).

O Brasil aderiu à Declaração de Glasgow sobre o uso de florestas e terras que prevê suspender e reverter o desmatamento até 2030. O compromisso internacional de mais de 100 países foi celebrado por empresas, organizações da sociedade civil e ambientalistas, mas muitos enxergam a capacidade do Brasil de cumprir com o prometido com ceticismo.