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Climate Action Tracker/Divulgação

O mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climática (IPCC), da Organização das Nações Unidas, descrito como o “o último alerta à humanidade” e um código vermelho para o planeta, advertiu que o mundo corre o risco de atingir 1,5°C de aquecimento global na década de 2030, um patamar que desencadearia “eventos extremos sem precedentes no registro observacional”. Apesar do aviso de perigo iminente, uma nova análise descobriu que nenhum dos principais países economicamente desenvolvidos do mundo tem planos suficientes para combater as mudanças climáticas.

O objetivo do Acordo Climático de Paris é manter esse limite de 1,5ºC, mas o documento do IPCC divulgado no mês passado afirmou que sem “reduções profundas no dióxido de carbono e outras emissões de gases de efeito estufa”, o mundo vai enfrentar graves consequências. Se reduções dramáticas fossem feitas rapidamente, isso colocaria o mundo mais perto desse objetivo, no entanto especialistas disseram que tal cenário é improvável. Uma análise de 37 países divulgada nesta semana pela organização Climate Action Tracker (CAT) tem a mesma avaliação.

“Enquanto as pessoas estão sofrendo de impactos cada vez mais graves e frequentes das mudanças climáticas em todo o mundo, e o IPCC mais uma vez demonstrou claramente a viabilidade e a urgência da mitigação das mudanças climáticas, as ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa continuam ficando para trás do que é necessário em praticamente todos os países e setores”, diz o relatório. “O ímpeto de atualização das metas de 2030 para a ação climática estagnou desde maio, sem grandes emissores propondo metas climáticas mais fortes, e a meta de redução de emissões de 2030 quase não mudou”.

A maioria dos países do G20, que inclui 19 países e a União Europeia e representam mais de 80% do PIB mundial e 60% da população global, não cumpriu com suas obrigações, concluiu a análise. Apenas Gâmbia tem um plano “compatível” com o acordo de Paris, disse o CAT, e o Reino Unido é o único dos países do G20 entre aqueles com planos “quase suficientes”. A organização determinou suas classificações com base nas metas, políticas e ações de mitigação dos países e ações climáticas.

Dois países do G20 tinham planos “criticamente insuficientes”; nove tinham planos “altamente insuficientes”; e quatro, incluindo os Estado Unidos, tinham planos “insuficientes”. Três países do G20 – França, Itália e Turquia – não foram incluídos na análise, pois o CAT afirma que eles não forneceram novas propostas para seus planos. O Brasil apareceu na lista dos países “altamente insuficientes”. O melhor colocado na América Latina foi a Costa Rica.

Os eventos climáticos e meteorológicos estão se tornando mais comuns e severos, e o aumento do nível do mar já começa a inundar algumas áreas costeiras com regularidade. O tempo para cumprir as metas do Acordo Climático de Paris e evitar os piores cenários futuros está cada vez mais escasso.

Escrito por mais de 230 cientistas renomados de países ao redor do mundo, os alertas fazem parte do Sexto Relatório de Avaliação do IPCC (IPCC AR6), o primeiro deste tipo desde 2013. É o relatório climático mais significativo publicado em anos pela comunidade científica internacional. Trata-se da síntese de mais de 14.000 citações de pesquisas.

É uma verdadeira enciclopédia do clima, um documento com riqueza de detalhes e profundidade como jamais se viu na ciência meteorológica, um resumo do mais recente consenso científico sobre as mudanças climáticas e o que o futuro prenuncia, mediante modelos climáticos dos mais sofisticados e do conhecimento das condições passadas.

O período de 20 anos a partir de agora até 2040 será o primeiro a atingir ou superar a meta do acordo de Paris de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. Mesmo sob o cenário mais baixo de futuras emissões de gases de efeito estufa, o limite seria excedido por um breve período de tempo.

Apenas reduções rápidas, acentuadas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa, até valores líquidos zero e eventualmente líquidos negativos, poderiam evitar que as marcas de 1,5ºC ou 2°C de aquecimento fossem evitadas no longo prazo. O mundo já aqueceu 1,1°C em relação à média de 1850-1900.