Brasil promete atingir a meta de neutralidade de carbono no prazo desejado pela comunidade internacional sob desconfiança de ambientalistas enquanto grandes poluidores como China, Rússia e Índia adiam o compromisso na COP26 em Glasgow | ALAIN JOCARD/AFP/METSUL METEOROLOGIA

A COP está fadada a não atingir o seu objetivo. Já no primeiro dia do encontro mundial do clima, alguns dos maiores poluidores do planeta já avisaram a comunidade internacional que vão demorar muito mais que o desejado a atingir as metas de redução de emissão de gases do efeito estufa.

No encontro de Roma do G20, o bloco que reúne as 20 maiores economias do mundo, o que inclui o Brasil, líderes mundiais assumiram o vago compromisso de reduzir “significativamente” as emissões de gases sem chegar a um acordo e sobre prazos. As posições assumidas por China, Índia e Rússia impediu que a declaração final do encontro de cúpula trouxesse a meta da neutralidade de carbono para 2050.

Com o objetivo da neutralidade de carbono, a meta é equilibrar todo o dióxido de carbono (CO2) liberado na atmosfera com absorção equivalente do gás mediante várias medidas como reflorestamento, redução drástica do uso de combustíveis fósseis, ampliação do uso de fontes de energia renováveis e processos industriais mais limpos.

China e Rússia adiaram o prazo para 2060, e a Índia hoje na Cúpula do Clima em Glasgow informou que não se compromete em atingir o objetivo antes de 2070. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União Europeia já se comprometeram em buscar a chamada neutralidade de carbono até o ano 2050. O Brasil, que enfrenta pesadas críticas por suas políticas ambientais, assumiu o compromisso com a meta de 2050.

A posição brasileira foi elogiada pelo governo dos Estados Unidos. Em suas redes sociais, o enviado especial do clima da Casa Branca, John Kerry, escreveu: “Saudamos os novos compromissos do Brasil para acabar com o desmatamento ilegal até 2028, alcançar uma redução significativa de 50% de gases do efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade de carbono em 2050. É um impulso crucial ao movimento global para combater a crise climática”.

Por sua vez, a Human Rights Watch emitiu comunicado em que afirmou que “os compromissos e políticas climáticas do Brasil estão muito distantes do necessário para enfrentar a crise ambiental e de direitos humanos na floresta amazônica”. Segundo a HRW a “ delegação do Brasil chega a Glasgow para a cúpula global sobre mudança climática com um plano de ação climática nacional menos ambicioso que o anterior e com planos de conservação florestal que carecem de metas de redução do desmatamento ou as estabelecem em níveis muito menos ambiciosos que nos compromissos anteriores do Brasil”.

A China, a maior vilã mundial hoje em emissões de gases estufa, afirmou na semana passada que levaria suas emissões a um pico antes de 2030 e as cortaria para um nível de neutralidade de carbono em 2060, uma década depois do compromisso brasileiro. Pequim ainda prometeu aumentar a capacidade total de geração de energia eólica e solar até 2030 para alcançar seus objetivos. O premiê chinês Xi Jinping, assim como o mandatário do Brasil Jair Bolsonaro, não foi a Glasgow.

Já o primeiro-ministro da Índia, que estava hoje na COP26, anunciou apenas 2070 como meta para o seu país de atingir a neutralidade, duas décadas além do que os cientistas dizem ser necessário para evitar impactos climáticos catastróficos. Narendra Modi defendeu a Índia, no entanto, como tendo cumprido suas promessas climáticas “no espírito e na letra” e observou que seu país tem 17% da população mundial e é responsável por apenas 5% das emissões globais.