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Céu de Lisboa se transformou com a chegada da nuvem de areia vinda do deserto do Saara e que mudou a paisagem da península ibérica | ROSINARA FERREIRA

A nuvem de areia do deserto do Saara se intensificou nesta quarta-feira em Portugal e deixou o céu marrom na capital portuguesa e outras cidades do país. Em comunicado, o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA) afirmou que “os efeitos mais visíveis são a alteração da cor do céu visto que as poeiras estão normalmente acima da superfície, embora dependendo da sua concentração possam atingir níveis mais baixos com implicações na qualidade do ar e possíveis impactos na saúde”.

ROSINARA FERREIRA

O IPMA informou que esta quarta-feira foi o dia com maior concentração de partículas no ar em Portugal, provenientes do Saara em África. De acordo com o IPMA, a poeira irá desaparecer gradualmente ao longo dos dias, sendo esta quinta-feira o dia apontado para o começo do fim do fenômeno em terras portuguesas.

O episódio excepcional de poeira do deserto do Saara está sendo registrado desde a segunda-feira na península ibérica com o céu laranja ou marrom em cidades de Portugal e da Espanha. A intensidade do fenômeno espanta e é descrito como o mais forte em várias décadas na região, trazendo paisagens impressionantes que mais se assemelham ao do planeta Marte em algumas cidades com o céu completamente alaranjado.

“É um evento de poeira do Saara como não se registrava na Espanha há décadas”, segundo o presidente da Associação de Geógrafos Espanhóis (AGE), o professor da Universidade de Alicante (UA) Jorge Olcina, em entrevista para a agência de notícias espanhola EFE. De acordo com o especialista, o fenômeno está atingindo hoje áreas do Sul ao Norte do país.

Causa e consequências

A chegada da poeira à Europa é a consequência da tempestade de areia que afetou o Marrocos nos últimos dias. A calima é bastante comum no país que tem um clima desértico e às vezes acaba se estendo ao continente europeu por correntes de vento, sobretudo quando são provenientes do quadrante Sul. Em fevereiro de 2021, um grande evento de calima alcançou até a França, o que se repete agora em território francês.

A origem desta intrusão de poeira do deserto está na tempestade Celia. Trata-se de uma área de baixa pressão, centrada mais ou menos no Golfo de Cádiz, que impulsiona ventos intensos vindos do deserto do Saara. O vento transporta muito material particulado porque no Saara também está soprando com forte intensidade, levantando a areia da superfície do deserto.

Outra consequência desta nuvem de areia é a piora da qualidade do ar. Várias estações de controle atmosféricos nas províncias de Múrcia, Alicante, Almería, Madrid, Albacete, Guadalajara, Segóvia, Ávila e Burgos, dentre outras, mostram na terça-feira que a qualidade do ar era “extremamente desfavorável” devido às partículas de PM10 em suspensão.  A Espanha ontem era o país com pior qualidade do ar no mundo.

O que é a calima?

A calima é um fenômeno meteorológico que ocorre na atmosfera. Sua principal característica é que possui um grande número de partículas de poeira e areia. Desta forma, também reduz a visibilidade. Quando cai com a chuva, traz “chuva de barro” ou “chuva de sangue”. Uma concentração tão alta destas partículas reduz a visibilidade, mas também pode causar outros danos aos seres humanos que o nevoeiro normal não causa.

É diferente do nevoeiro que se trata de condensação de partículas de água no ambiente. Esta formação literal de nuvens ao nível do solo pode ter vários impactos na condução devido à visibilidade reduzida. No entanto, não causa nenhum efeito à saúde. Simplesmente, a umidade no ambiente é maior. A diferença entre a calima e o nevoeiro é justamente a composição das partículas que reduzem a visibilidade. Enquanto na neblina e no nevoeiro são partículas de água condensada formando nuvens, na calima são partículas de poeira, areia, cinzas e até argila.

As mudanças climáticas influenciam nestes episódios? Não é muito claro, embora seja um fato que nos últimos 100 anos o deserto do Saara aumentou sua superfície em 10% e que é uma fonte maior de partículas. Além disso, as mudanças climáticas favorecem a aridez e influenciam na frequência e intensidade de padrões climáticos como tempestades, que precisam do vento para carregar a poeira.