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Um vídeo publicado na rede social Instagram tenta vincular o desastre no Rio Grande do Sul a uma suposta “anomalia” no Atlântico com ondas gigantes no mar na costa da África, o que jamais ocorreu, de forma que nenhuma relação guarda com a catástrofe gaúcha.  O vídeo no Instagram teve mais de um milhão de pessoas e foi publicado por uma influenciadora sem qualquer conhecimento técnico em Meteorologia.

“Uma asneira, uma bobagem, uma completa e absurda ignorância de como é a Meteorologia, os seus fenômenos e a modelagem numérica”, afirma a meteorologista Estael Sias da MetSul. “Gente que quer ganhar notoriedade com fama efêmera em rede social com mentiras numa catástrofe com mais de cem mortos, quando o que mais necessitamos neste momento no estado é apenas verdade e ajuda”, desabafa.

O que ocorreu? Uma gigantesca anomalia das ondas no mar foi publicada em abril pelo Ventusky, um aplicativo meteorológico administrado pela empresa tcheca InMeteo, que permite aos usuários observar variáveis como ventos e ondas, usando dados de fontes internacionais respeitadas, incluindo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos.

O que o aplicativo mostrou foi erro de modelo numéricos. Jamais existiu a tal anomalia e nem ondas gigantes no Atlântico. A informação foi publicada nas redes sociais do aplicativo e confirmada pelo porta-voz da empresa, David Prantl.

“Foi um erro do modelo. O Ventusky serve como uma plataforma de visualização que coleta dados de várias fontes. O erro se originou no próprio modelo, por isso também foi refletido na visualização em nosso website Neste caso, o modelo é do Serviço Meteorológico Alemão (DWD), com quem estamos em contato e já resolveram esse erro”, disse.

“Observe que o modelo recebe milhões de pontos de dados de navios e boias em todo o oceano. Podem ocorrer problemas em um banco de dados tão grande. No entanto, pode levar algum tempo para determinar a causa exata desse erro”, complementou.

A chuva extrema no Rio Grande do Sul é consequência de um muito prolongado padrão de bloqueio atmosférico no Centro do Brasil com ar seco e quente, condição que pode se esperar sob El Niño, que ainda atua no Pacífico, embora no fim. O superaquecimento do Atlântico tropical (nada relacionado ao bug do aplicativo) provavelmente também colaborou com maior aporte de umidade por correntes de vento em altitude. Ainda, estudos de atribuição a serem publicados muito provavelmente identificarão influência das mudanças climáticas no evento de chuva extrema.

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