O Rio Grande do Sul experimenta um fim de abril com chuva extrema e enchentes com tendência de agravamento da situação no começo de maio, quando se espera ainda chova muito no estado, o que trará mais inundações e o aumento dos níveis de vários rios com a piora das enchentes em muitas comunidades.
As cenas deste fim de abril repetem aquelas vistas no segundo semestre do ano passado, no período inicial e depois do auge do evento de 2023-2024 de aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Assim, naturalmente as pessoas se perguntam se este evento de chuva extrema ainda está relacionado ao El Niño e se o fenômeno segue atuando.
Embora só se ouça falar em La Niña nos tempos atuais, o que não vai acontecer antes da metade do ano, o fato é que o fenômeno El Niño segue presente no Oceano Pacífico e ainda impacta o clima no Brasil e em outras partes do mundo. Este evento extremo de chuva tem todas as “impressões digitais” do El Niño.
De acordo com o último boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia de temperatura da superfície do mar era de +0,8ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada oficialmente para definir se há um El Niño na forma clássica e de impacto global. O valor está na faixa de El Niño fraco. Assim, oficialmente as condições de El Niño seguem presentes no Oceano Pacífico, mesmo que não intensas como no segundo semestre de 2023.
Maio vai começar com condições ainda de El Niño presentes na atmosfera e no oceano, o que explica em parte os extremos previstos para o mês no Centro-Sul do Brasil. A tendência é que no decorrer de maio as águas do Pacífico Equatorial se resfriem, o que deve levar ao final do evento de El Niño de 2023-2024 e a instalação de um quadro de neutralidade (sem El Niño ou La Niña). Não se antecipa La Niña antes do fim do outono ou o começo do inverno, entre junho e julho.
A chuva com volumes muito altos e mesmo excessivos dos últimos dias de abril e que prosseguirá no começo de maio certamente pego muita gente de surpresa, especialmente diante do noticiário que muito se ocupou nas últimas semanas sobre possível evento de La Niña a caminho e que ignorou as condições atuais. Mas, para quem conhece a história do clima regional e acompanha os informes da MetSul, não foi nada surpreendente.
“No decorrer da estação, a tendência é de chuva acima da média no Sul principalmente no Rio Grande do Sul. Há risco de episódios pontuais de precipitação muito intensa, com elevados volumes, capazes de gerar cheias de rios, deslizamentos, alagamentos e inundações”, destacava o prognóstico de outono da MetSul publicado em março.
Mais, durante todo o ano de 2023 e no começo agora de 2024 reiteradamente e em inúmeras oportunidades a MetSul Meteorologia destacou que o maior impacto da chuva do El Niño muitas vezes se dá no final do inverno e na primavera do primeiro ano do evento, no caso 2023, seguindo-se outro período de excesso de chuva no outono do segundo ano do episódio, logo 2024.
O atual evento de El Niño teve início em junho do ano passado. O que se seguiu todos sabem. Foi um inverno e primavera de 2023 com extremos de chuva no Rio Grande do Sul com grandes enchentes, algumas das maiores dos últimos 150 anos no Guaíba e nos rios Caí e Taquari. No Uruguai, a chuva encerrou com a maior crise hídrica já registrada no país e que fez Montevidéu captar água salgada do oceano.
Dificilmente haja exemplo melhor de como o El Niño impacta a chuva no outono do que o ano de 1941. A maior enchente da história de Porto Alegre e de muitas outras cidades gaúchas se deu em abril e maio de 1941, no outono, durante evento de El Niño que já estava presente no ano anterior.
Geramos um mapa com a anomalia de precipitação na média do bimestre abril e maio dos anos de 1966, 1973, 1984 e 1998, todos anos que são o segundo de um evento de El Niño forte a intenso iniciado no ano anterior, como foi o de 2023-2024 no seu auge. O sinal de precipitação da soma das médias deste ano é de precipitação acima a muito acima dos valores da climatologia histórica para o Rio Grande do Sul.
Assim, mesmo se encaminhando para o seu final agora , o El Niño ainda impacta o nosso clima, como se vê nestes. À medida que o Oceano Pacífico se resfriar nos próximos meses, a probabilidade de eventos extremos de chuva diminui. Isso, porém, não significa que passe o risco de eventos de chuva com acumulados muito altos e mesmo de cheias de rios.
Episódios de chuva excessiva podem ocorrer no Sul do Brasil mesmo com o Pacífico em neutralidade ou sob La Niña, inclusive com enchentes. A diferença é que que são menos numerosos que sob a presença do El Niño, quando ocorrem com muito maior frequência e acabam contribuindo para cheias de rios mais significativas, como se viu no segundo semestre do ano passado.
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